É dor e dor, somente dor.

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Eram três da manhã, eu tinha acabado de chegar em casa depois de uma longa noite de trabalho. Acho que eu nunca pensei tanto na minha vida, quanto eu havia repensado naquele dia. Questionei-me se ser diretor era boa sacada, principalmente porque estava tudo doendo, literalmente. Havia sido uma rotina corrida, durante sete semanas seguidas e bom, ao fim de tudo isso, eu não conseguia nem mesmo entender se ainda estava vivo, já que a dor que eu sentia em todos os meus membros eram diferentes das habituais.

De certa forma, era uma dor que eu sequer apreciava sentir, o tipo de masoquismo que nunca cogitei gostar. Dores musculares são como o inferno, principalmente em todas as articulações do seu corpo, que sequer te proporcionam prazer. É dor e dor, somente dor.

Eu já estava quase chorando, me entregando aos prantos e me derramando lágrimas como um bebê. Confesso que cheguei a cogitar chamar meu appa, para que pudesse cuidar de mim e me dar todo apoio que precisava naquele momento. Sempre fui um filhinho de papai, e confesso com total orgulho. Mas, há certas coisas na vida que precisamos lidar sozinhos, e eu não vou tê-lo para sempre ao meu lado. E aquelas dores era uma delas, eu precisava lidar com ela sozinho.

Eu não poderia importunar meu pai e possivelmente acabar preocupando ele, simplesmente por uma crise de dor que passaria depois de tomar relaxantes musculares e receber uma massagem. Mas, eu sabia que não era necessariamente aquilo que eu queria naquele momento. Eu queria mais do que um medicamento simples e uma massagem em meus membros, ou palavras acolhedoras de que seria apenas mais um dia difícil.

Queria o afago, o carinho, um pouco de manha, beijos e uma forma de não me sentir sozinho. Algo que eu não via depois de muitos anos e se fosse muito honesto comigo mesmo, sabia que eu teria esquecido. Quando se pensa em trabalho, trabalho e estudos, por muitos anos; você fica estagnado e em momentos difíceis como uma simples dor, você deseja e implora para ter alguém cuidando de você. Mas, você sabe que não terá ninguém para cuidar de você quando estiver chegando em casa, depois de um dia exaustivo e caótico.

E por via das dúvidas, eu lembro-me que liguei para você. Usando um pouco de meu drama infalível e uma voz de bebê manhoso. Claro, estava prestes a chorar pela dor infernal — Não que eu não pudesse aguentar, mas, fazia parte do plano.

Eu consegui chamar sua atenção, senhora. Consegui fazer com que viesse até mim e cuidasse de seu menino. Afinal, você sempre disse que se eu precisasse de algo, não tardasse a chamá-la. Então, eu fiz. Me lembro também do seu rosto, da sua expressão e do quanto parecia preocupada quando bateu em minha porta. Confesso que me senti um pouco culpado por preocupá-la tanto, mas, eu precisava tentar.

Você suava frio, respirava fundo e os olhos estavam arregalados. Cogitei ter exagerado demais, mas, de fato, a dor que eu estava sentindo não era exagero. E quando você me ajudou e cuidou de mim, me senti como se tivesse rejuvenescido mais 10 anos.

Suas mãos pequenas, lisas, com as unhas curtas, tocando os meus ombros, as minhas costas, massageando locais que eu sequer imaginava que poderiam ser massageados. Seus lábios, beijando pacientemente minha nuca, minhas bochechas, chupando o lóbulo de minha orelha. Enquanto você estava sentada sobre minha bunda. E me proporciona a melhor massagem que eu já havia recebido de alguém.

Me proporcionou o melhor afago que eu já havia recebido de alguém, em tantos anos de vida. Você cuidou de mim e não precisou de muito para perceber que eu só precisava de cuidado, além de cura para meu corpo.

E você, você me deu os dois. 

𝐒𝐋𝐀𝐕𝐄, 𝐣𝐣𝐤.Onde histórias criam vida. Descubra agora