Nocturnal waltz...
Angélic
06/03/1920
Portland, Oregon
11:38 am
GaroandoUma imaculada vulnerabilidade se fez presente em meu campo de visão, compenetrando sem consentimento algum, o âmago dos meus pensamentos, atraindo para mim uma filosófica frase…
"A vida é salva sem um propósito".- Fiódor DostoiévskiMeus olhos estavam percorrendo pelas paredes desta mansão vibrante em vermelho, rodeada de requinte e opulência, cujo o único intuito é ir para a cozinha a procura de canapés, para pôr na mesa, mas vagam para um ser estirado no chão, uma mulher de beleza insólita e cabelos alvos, desacordada nesse ambívio, entre o fim da sala de estar, a cozinha e o que eu tenho por discernimento ser a biblioteca, pois em sua mão esquerda, está um pequeno exemplar de Alice no país das maravilhas, me agacho para ampará-la, mas somente o que eu posso sentir, é a sua derme pálida e frígida, me desencadeando um arrepio veemente inusitado, meus olhos voam por entre essa cena, e um pensamento se torna recorrente, ela deve ler tanto essa obra, que caiu, bateu a cabeça e consequentemente foi de encontro a toca do coelho, mas essa teoria se torna débil perante a marca avermelhada de uma mão em sua tez, debaixo de um dantesco hematoma violentamente roxo com excessividade em sangue.
Fico em um impasse a meio-termo de enfurecimento e um desentendimento, diante desta mulher de aparência tão inócua, desacreditando que esse ser tenha machucado alguém, para receber tal eventualidade, é evidente que aquela marca em seu rosto me deixou com raiva e de certa forma inábil de agir.
Sobressalto com a visão de um homem garboso adentrando o cruzamento de lugares a gargalhadas estrondosas, e mudando suas feições bruscamente no mesmo instante em que seus olhos seguem em direção a mim e a essa mulher desacordada no chão, ele se agacha e me faz uma pergunta, ao qual a priori eu não consigo responder, devido ao meu estado de nervos nesta situações, mas artículo sem introduzir os detalhes, ele se dispõe a levantá-la em seu colo, atravessa o corredor da casa desconhecida por mim, e pede para eu abrir o quarto de hóspedes à sua frente, e eu me prontifico a fazer, ele a põe cuidadosamente na confortável cama, e diz para olhá-la enquanto ele iria sair a procura de um médico.
A escassez de meus pensamentos se torna onipresente, perante a contemplação desse anjo de abundantes feições femininas, tenho o entendimento que todo o relativo tempo no mundo, se transforma em um átimo, quando você a observa de forma minuciosa. Nunca fui religiosa, mas fiz de tua pele leitosa um altar para meus dedos, suas feições tão angelicais travam uma guerra massacrante contra suas linhas de mulher madura, uma mulher que pela impressão em sua derme e o anel de ouro em seu dedo anular na mão esquerda, sofre diariamente, me questiono por que o universo outorgou sua deidade para essa vil terra de mundanos, para afligir-se nas mãos de um leigo em amor. Sua pele quase por um fio albina, realça de forma casual, sua extravagante resplandecência em tonalidade branca, tão sublime e ao mesmo tempo tão atípica, seu nariz semelhante a de deuses gregos está me fascinando, e os seus lábios, os seus transcendentes lábios, ostentavam uma magnificência colossal, envolto por esse batom de coloração rosado, eu conseguia ver nitidamente suas linhas em demasia de entrelinhas, as quais eu leria de modo impecável, seu refinado vestido azul ressalta de maneira harmoniosa o côncavo de seus olhos em um marrom meramente puxado para o cinza, em conjunto com suas adoráveis pérolas, que davam um ar atrativo. Sua beleza claramente não deveria ser momentânea e sim interminável, ela deveria estar em um museu, com moldura trajada a ouro puro, pois eu posso dizer com todas as palavras, frases, escritas e letras que o ser humano fez de existir de forma esporádica, que ela é o ser mais extraordinário que eu já vi em terra.
Seria vantajoso me apresentar como Angélica, mas não posso omitir o inevitável, me chamo Angélic, sou uma mulher americana, mas de ascendência escocesa, de 27 anos, tomo por realidade que sou uma mulher concreta e palpável, diferentemente das donas de casa devotas ao casamento, que tanto observo e acredito serem imaginárias ou artificiais.
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Entre o verde mar e o azul índigo ( Pausada )
RomanceUma mulher, da década de vinte, casada, e da nata da sociedade americana de Portland, se vê imersa em um resplandecente olhar verde, que não é o de seu marido. Um olhar verde que brinca com a sua ingenuidade, e fios de um vermelho cobre que a instig...