A culpa
LOGO que estacionei o meu carro fui direto para recepcionista do hospital. A mulher de pele negra e cabelos muito cacheados me direcionou para o segundo andar. Entrei no elevador com as mãos trêmulas. Ao chegar na porta do quarto quase esbarrei em Marcos, que estava de saída para comprar algo para comer. O sol já tinha nascido quando cheguei lá. Ao encarar Marcos percebi seus olhos inchados e avermelhados, o abatimento estava visível nele.
Quando eu entrei no quarto encontrei a Amanda deitada com o rosto molhado de lágrimas, sua pele pálida com o abalo do acontecido.
— Alice, a culpa é minha.
Aquelas suas primeiras palavras me levaram às lágrimas. Deveria ser forte, mas não consegui. Depressa fui ampará-la e ela se agarrou no meus braços soluçando.
— Não diga isso. — sussurrei.
— É Deus me castigando por tudo que fiz— disse ela entre soluços. — Fui uma filha ruim, irmã e mãe. Agora sou castigada pelo resto da minha vida, né?
Abracei a minha irmã que caiu em um pranto de choro. Bem que o Marcos falou que a Amanda só fazia chorar e se culpar.
— Acalme-se, as coisas não são bem assim. Você não tem culpa do que aconteceu. Não é você dona do futuro. — ela se afastou e colocou as mãos em cima do seu ventre.
— O bebê se foi, estava se gerando no lugar errado. — ela apertou os lábios e fungou o nariz. — Se eu tenho útero e ele é saudável, porque o meu bebê estava se gerando nas trompas? Se não é castigo por tudo que eu fiz, não sei mais o que é. — engoli em seco sem saber como consolá-la. Perder um bebê que se era esperado com tanto amor deve ser uma dor terrível. Envergonhada, Amanda virou o rosto. Sentei com cautela na beirada da cama e peguei uma de suas mãos.
— Quando não sabemos o motivo das coisas o melhor que têm a se fazer é silenciar. Deus marcou o tempo certo para cada coisa. A razão para tudo que Deus faz. Não podemos acrescentar nada, nem tirar nada. O seu bebê foi Deus que deu, e Ele o tomou para si outra vez. A gente não entende as coisas celestiais, o que podemos fazer é aceitar e prosseguir. Amanda, ele está no braços do Pai agora, tenho certeza que está muito feliz e seguro. — Amanda chora incansavelmente, por causa da dor que sentia ao perder o bebê. Eu não sabia o que fazer, queria muito tirar o seu sofrimento. Ela se sentia culpada, o que fazia a dor ser maior, a ferida ser mais profunda.
— Não vou mais casar com Marcos. — falou de repente me pegando de surpresa.
— O quê? — ela me olhou por um momento, depois sacudiu a cabeça e um sorriso triste apareceu em seus lábios.
— Marcos é um cara legal, não quero que ele sofra por causa dos meus pecados, se casarmos eu sei que ele vai sofrer também, e eu não quero.
Ela enxuga o rosto com lençol da cama, e olha para mim.
— Você viu como ele estava? Parecendo alguém que acabou de perder uma batalha. Ele mudou tanto, Alice, não merece um futuro derrotado ao meu lado — suas mãos tremeram quando ela levantou para enxugar as lágrimas que caíram, voltando a molhar o seu rosto bonito. Minha Irmã era linda, mesmo com o rosto inchado de tanto chorar
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Nosso Mundo BLUE
General FictionCom esse livro a autora fecha o círculo da história da Alice, que encontrou o verdadeiro amor, em um mundo que ela nunca imaginou conhecer. Liu aprenderá que o verdadeiro amor não se divide, se multiplica. O romance que nos faz olhar para o nosso...