Proposta

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Faltando dois dias para a entrega da primeira atividade, no prédio da rádio, Totóiévski ouviu os gatos que limpavam o local rirem. Ele se aproximou vagarosamente sem ser notado, e ficou surpreso com a história que um deles estava contando. Um outro até o corrigia:

— Não foi assim! Deixa eu contar essa parte...

Então um dachshund caramelo — um cachorro tipo salsichinha — se aproximou do golden o assustando.

— Escutando a história? — O comediante concordou e seu colega continuou a falar — Minhas domésticas estavam contando a mesma história. Dizem que é de um gato chamado Chico — Totóiévski encarou o colega de trabalho e correu até sua sala.

Ele revisou os papéis e encontrou a inscrição do gato, ao lado do nome Francisco Neto, estava o apelido Chico. Ele pediu para os gatos da limpeza contarem toda a história, para a surpresa do comediante, ainda que os gatos a tenham contato trêmulos e sem toda a empolgação inicial, a história era boa. Ele já havia recebido as histórias dos outros competidores, todos cachorros meio conhecidos por seus livros, mas nenhuma era tão boa quanto a de Chico. E isso era um problema para ele. Se um gato avançasse na competição, todo o alto escalão de pedigree viria em cima dele, afinal, foi ele, mesmo sem querer, que abriu brecha para que o gato se candidatasse. Seria um problema dar esperanças de que um gato poderia ocupar algo melhor do que seu papel de operário. Seria permitir que eles sonhassem, e isso, os cães não queriam.

No dia seguinte, Chico estava retornando para casa de mais um turno na fábrica, conseguiu as mil assinaturas e iria à cidade entregar pessoalmente ao senhor Totóiévski. Chegando na sua rua ele percebe algo estranho. Não havia ninguém, e aquele era o horário mais movimentado, onde grande parte dos felinos retornavam para suas casas. O pior, em frente sua casa tinha um carro. Gatos não usam carros.

Chico entrou em casa chamando por seus pais, mas levou um susto quando viu sentado na cadeira da cozinha o cachorro de pêlos dourados, Totóiévski. Sua mãe estava com o rabo arrepiado servindo chá para o cão.

— Ora, ora. Ele chegou. Chico, o escritor.

Em qualquer outra ocasião, Chico, ficaria feliz em ouvir isso da boca do Totóiévski, mas algo no tom que ele usou, e nos três cães de guarda dentro de sua casa, fez o elogio parecer um insulto.

— Esperem lá fora! — O golden ordena e os cães de guarda saem — A senhora pode se juntar ao restante de sua família.

A mãe de Chico encarou o filho com preocupação. Deixou o bule de chá na mesa, e foi em direção ao quarto. Após ficarem a sós, o comediante inicia a conversa com o jovem gato preto:

— Não precisa temer. Eu vim em missão de paz — Chico olhou para o quadro de seu bisavô na parede e voltou a olhar o cachorro — Sua história chegou até os meus ouvidos. E tenho que admitir, ela é boa!

— Obrigada senhor — Chico disse, ainda de pé na entrada de sua casa.

— Ora, o que é isso? Sente-se aqui à mesa comigo, afinal, é a sua casa — O cachorro pede, fazendo um gesto em direção a cadeira.

Chico moveu-se lentamente, suas pupilas estavam dilatadas, ele não podia controlar, mas tentava a todo custo manter seus pelos comportados. Sentou na cadeira de frente para o cão com seus pêlos amarelados, vestindo um terno branco. Enquanto Chico estava com o macacão da fábrica e o branco de suas patas estava encardido. Seria um sinal de má sorte?

— Eu quero fazer uma parceria com você — Totóiévski começou — Sua história se espalhou tanto que até os cães estão contando ela para os seus filhos, acredita? Uma história de um gato guerreiro, em um mundo mágico, está chegando até mesmo na alta sociedade do pedigree — Em seu lugar, Chico ficou feliz pela informação, mas não demonstrou — Mas você entende como isso é ruim pra gente, não é? — Chico apenas o olhou — A rapaz, preste atenção. Só de você entrar para essa competição já foi um escândalo, imagina se descobrirem que um gato é responsável por uma história que está rodando toda a DogTown?

Chico relembrou a fala de seu pai, naquele mundo era impossível um sonhador ter o seu espaço. Mesmo ele provando o sucesso de sua história, eles queriam tirar essa conquista dele.

— Que acordo o senhor deseja fazer? — Ele perguntou apertando as patas uma na outra.

— Simples! Você vem trabalhar com a gente na rádio

CHICO - O gato escritorOnde histórias criam vida. Descubra agora