Capítulo 5ㅡ Vocês ainda se conhecem tão mal

507 49 14
                                    

Emily e Hector andaram por toda a madrugada, perambulando pelo mundo dos mortos, conversando, se conhecendo, mas Emily se afastava todas as vezes que Hector conseguia algum tipo de abertura. Ambos estavam parecendo colegas, era o certo, afinal, nem se conheciam.

Hector bocejou pela quinta vez, Emily olhou para cima, conseguindo vagamente ouvir o rastejar dos bichos no chão e o longe cantar dos passarinhos, então olhou para Hector, que desde que chegara, não tinha cochilado uma vez só!

ㅡ Me desculpe, eu acabei me esquecendo que você está vivo, precisa descansar.- Emily passou a sua mão nas costas de Hector.

Hector a olhou com os olhos pequenos, o suor que descia por sua testa o fazia arrepiar como se estivesse com frio, talvez estivesse, mas as sensações se misturavam a medida que o tempo passava.

ㅡ Tão fofa, estou gostando de ver!- Uma larva verde e da cabeça exageradamente grande se aproximou, subindo pelo ombro de Emily.

ㅡ Não ligue para ele, as vezes fala o que não deve.- Emily repreendeu, se levantando e novamente, estendendo a mão para Hector.

ㅡ Porque sempre faz isso?- Hector perguntou, sem negar que estava mesmo cansado.

ㅡ Bom, acho que esta sempre foi minha forma de dizer que não sou vulnerável.- Emily confessou, dando de ombros.

ㅡ Você fica mais adorável a cada minuto de conversa.- Emily sorriu, envergonhada e guiou Hector até seu quarto novamente.

Aquele lugar agora não parecia tão assustador como quando Hector chegou, parecia mais um lugar normal... Ele jamais se sentiria confortável deitado em um caixão, por isso, decidiu ficar no chão.

Hector estava começando a suar frio, sentiu falta de seu paletó que horas antes, se livrou enquanto morria de calor, mas o rapaz mesmo assim, estava muito cansado e a fome também fez com que ele quisesse dormir o mais rápido possível.

Emily se sentou em sua cama, observando Hector dormir no chão, pensando em sua quase desistência de tentar novamente, na chegada de Hector, no julgamento que ele recebeu quando chegou, depois no tanto que as pessoas dali gostaram dele e, em como ele estava passando mal para apenas lhe convencer de subir com ele. Porque queria salvá-la.

ㅡ Ele não é fofo?!- Val subiu na cama ao lado de Emily, junto à larva, a quem Hector chamou de Larry sem saber se este era seu nome.

ㅡ Ele... aparentemente não me faria mal, mas, olhem para ele, não posso confiar!- Emily colocou o rosto entre as mãos.

A letra da música está alterada, considerem uma paródia! Aproveitem!

ㅡ Ele não pode ser tão perfeito assim, quem me garante que ele não é igual aos outros? Igual a Vitor?- Emily começou, suavizando a voz por estar perto de seus amigos.

ㅡ Digo o que esse fulaninho tem que os outros não têm em dobro!- Larry começou, balançando a cabeça.

ㅡ O que poderia essa coragem superar?- Val continuou, subindo em uma perna de Emily, que estava de fora do vestido.

ㅡ E que tal um parente duvidoso?- Emily questionou, apoiando o rosto nas mãos.

ㅡ Não se pode comparar!

ㅡ Dispensável, trivial!- Larry continuou, enquanto se juntava a Val para olhar para Emily.

ㅡ Vocês ainda se conhecem tão mal!- Val aconselhou, amassando a voz.ㅡ  Essa vontade não te impressionar, me espanta!

ㅡ Ele não tem cara feia, não é suspeito, nem mal! Não tem nada á duvidar!- Ambos falaram juntos.

Emily os empurrou cuidadosamente para o estofado enquanto revirava os olhos, seu desespero interno pareceu ter tomado forma de um jeito assustador e o nó em sua barriga a fazia crer que se estivesse viva, estaria torcendo para matar todas as borboletas nela.

ㅡ É parente deles!

ㅡ E daí? Não importa! Dispensável.- Larry retrucou.

ㅡ Trivial! Se ao menos reparase no seu jeito especial, vocês ainda se conhecem tão mal!- Emily se levantou, observando a Hector deitado dormindo um sono perturbado.

ㅡ Quando toco a vela acesa, falta seu calor. Se me corto com uma faca, não há dor. É verdade que não confio, e que a morte em mim está. Mas não deixo de sofrer e não demora, vai- se ver no meu rosto alguma lágrima rolar.- Uma lágrima teimosa desceu no rosto de Emily, caindo na bochecha extremamente suada e vermelha de Hector.

Val revirou os olhos, andando até o lado de Hector deitado no chão. Se ele estivesse realmente em condições de acordar a qualquer momento, se assustaria como uma criança com Val tão perto.

ㅡ O único pecado desse pobre coitado, é apaixonado estar! Dispensável, trivial.

ㅡ Já sabemos que isto é algo raro afinal, você precisa reagir, dar um sinal!

ㅡ E daí? Não importa! Dispensável, trivial!

ㅡ Se ao menos reparase em seu jeito especial, vocês ainda se conhecem tão mal!

Só quis descontrair um pouco gente, espero que tenham gostado kjkkk

Emily ficou pensativa, voltou a deitar em sua cama, enquanto Larry e Val saíram do quarto, deixando o casal sozinho. Emily deitou de bruços, observando o rosto inquieto de Hector. Se perguntou com o que ele tanto sonhava que o deixava tão perturbado, estava se sentindo culpada quando viu o estado do rapaz.

Hector suava e se encolhia de frio, provavelmente estava morrendo de fome e de calor, Emily já havia se acostumado, mas sabia o quanto foi difícil ficar ali em baixo por tanto tempo, mesmo que não pudesse sentir calor ou frio, ainda sim sentia -se culpada por ver seu marido naquele estado, e sabia muito bem que ele não iria a lugar nenhum sem Emily.

ㅡ Não acredito que vou fazer isso pra te salvar, e não por mim...- Emily negou com a cabeça e dedilhou as pontas dos dedos pela mão de Hector ao seu alcance.

Emily olhava tudo fascinada, os cabelos pretos, o rosto ruborizado e as gotinhas perfeitas de suor em suas bochechas, as mãos e braços com veias que pulsavam desesperadamente, bombeando seu sangue. Era invejável, para uma pessoa morta.

Emily segurou sua mão, sentindo o quão era diferente da temperatura de seu corpo, o quão Hector era vivo, ela nunca sacrificaria isso, nem por ninguém e nem pediria a Hector que fizesse isso por ela. Mas ele teria feito, se fosse unicamente para ver Emily feliz de novo. E ela com certeza colocou isso tudo na balança para finalmente ter a convicção em seu coração de que queria sair dali e queria fazer isso ao lado de Hector.
Não que isso significasse que eles seriam um casal, mas significava que, com certeza, ela faria de tudo para que ele ficasse bem, assim como ele estava fazendo com ela.

ㅡ Assim que você acordar, vamos dar o fora daqui.

A Noiva Cadáver- Desilusão do felizes para sempreOnde histórias criam vida. Descubra agora