Cartas Que Nunca Te Enviarei

Carta 4

Não tem como dizer exatamente como descobri que era recíproco, acho que apenas aconteceu, não de forma explícita e direta, mas lentamente como passos de bebê e sutil como um pincel detalhando uma obra.
Com o tempo, a tensão que habitou entre nós ficou tão clara, que era impossível não perceber a diferença.

Todos viam que algo estava diferente, algo a mais tinha surgido no meio daquela amizade.
Não era mais apenas o carinho de duas pessoas preocupadas uma com a outra, era o carinho disfarçado de carência, de desculpas para se aproximar, era os hormônios tentando controlar o desejo do toque.

Ah, nunca esquecerei como éramos, como tudo se iniciou, como de repente de colegas passamos a um relacionamento sem definição.

Claro que quando os dois lados perceberam o que estava acontecendo, você inicialmente mudou, no início não foi confortável, você sabia o que eu sentia, e como eu não impediria isso de acontecer, mas tentou me afastar, mostrou lados seus que eu não sabia que poderia conhecer, nada disso me impediu de continuar querendo te amar imensamente como você merecia ser amada.

Então como um gatilho estava sendo ativado, eu percebi, era sua defesa.
Você não queria esse sentimento, sabia os riscos que corríamos, sabia que não seria fácil e que não tínhamos as estruturas necessárias para superar isso. Mas você se abriu e permitiu inundar com aquele sentimento doce e gentil que deixava crescer a cada dia.

Você aceitou o meu carinho e meu afeto, aceitou minha confusão sentimental, minha ingenuidade sobre o que era esse sentimento.

Tive muito medo, mas um medo de não passar de um momento ou ser paixão platônica.

Meu coração se esquentava quando você me retribui as ações da mesma forma, eu vi arrepios passarem pelo meu corpo sem controle algum quando você sorriu e eu eu vi mais que um sorriso amigável, eu vi ali a sinceridade, eu vi ali, alguém que também me amava, eu parei de temer.

Você me amava não é?