[12] Sea

290 28 26
                                    

Consigo escutar o barulho da chuva forte batendo contra minha janela ao lado de fora.

As únicas coisas que impedem o silêncio de se instalar definitivamente no interior do quarto são os sons baixinhos que Karenn emite desde que caiu no sono e meus suspiros profundos.

Suspiro toda vez que meu olhar recai sobre minha irmã ou então quando algum pensamento indesejado passa pela minha cabeça. Portanto, tudo que faço é puxar e soltar o ar a cada minuto.

Mesmo que Karenn já esteja dormindo há um bom tempo, não deixo de mexer em seu cabelo. Continuo enrolando uma mexa rosa em meu dedo para soltar poucos segundos depois, repetindo o mesmo processo diversas vezes enquanto a observo com a preocupação estampada em meu rosto ao suspirar mais uma vez.

Como esperado, ela teve um pesadelo. Não é como se acontecesse todos os dias sem exceção, mas, se for para comparar, de longe dá para perceber que ocorre com mais frequência do que as noites de sono bem aproveitadas.

Tem dias que os pesadelos ocorrem, assim como tem dias que não. Algumas vezes é mais cedo, algumas mais tarde. Pode ser só um durante a noite toda, podem ser vários seguidos até o amanhecer. Não é como se houvesse regra, uma forma de controlar ou saber quando e como vai acontecer, então, Karenn vive com medo de dormir, com medo de fechar os olhos e tentar descansar, e isso me deixa frustrado, porque sei que não há nada que eu possa fazer para evitar ou melhorar sua situação, não importa o quanto eu queira.

Essa é uma das noites em que ela não tem só um pesadelo, por isso acaba tendo ainda mais receio de fechar os olhos nas próximas tentativas de voltar a dormir. Demora para que ela tenha coragem de tentar mais uma vez ou só desista de lutar para manter os olhos abertos, rendendo-se ao cansaço.

Sempre demora para que alguma dessas duas coisas aconteça, e tudo bem, porque é mais do que compreensível. Porém, hoje levou mais tempo do que o normal. Isso não me incomoda de maneira alguma, só fico preocupado demais com Karenn e com a possibilidade de que ela não consiga dormir nem por três horas, que seria o aconselhável para nós - mesmo que consigamos virar o dia e continuar de pé por mais um ou dois. A questão não é não conseguir, só não é saudável.

Depois de longas quatro horas cheias de abraços, carinho, músicas sendo murmuradas e diálogos completamente aleatórios, Karenn ficou mais calma e conseguiu fechar os olhos. Acho que nunca senti um alívio tão grande como no momento em que sussurrei seu nome e não obtive uma resposta de sua parte.

Mesmo depois de Karenn dormir, continuei acordado. Já deve fazer uma hora, talvez um pouco mais, e eu ainda não fechei os olhos nem uma única vez por mais de alguns segundos.

Apesar de estar exausto, não sinto uma vontade real de dormir no momento. Sequer acho que conseguiria se fosse o caso, considerando a situação atual e tudo que se passa pela minha cabeça.

Só acho melhor continuar acordado para ter certeza de que Karenn vai ficar bem e descansar tanto quanto deve. E, de certa forma, acredito que se assim acontecer, a preocupação e a culpa que sinto diminuam ou só não transbordem tanto como acontece agora.

Sempre que ela não consegue dormir, o turbilhão de memórias que tento deixar de lado o máximo possível me atinge de um jeito horrível e tudo que sinto vontade de fazer é abraçar Karenn com toda força e me desculpar por meus atos terem consequências que atingem diretamente a ela, quando o único que deveria ser punido sou eu.

Mas acho que ela não me abraçaria tão forte se soubesse que a causa de tudo isso sou eu.

...

- Você errar - o tom de voz de Jamon é tão convicto que chega a me irritar.

Abaixo a arma e viro o corpo para ele, expondo minha melhor e mais sincera expressão de indignação.

Bad For Me || NevraOnde histórias criam vida. Descubra agora