Dilacerada

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Narrado por Leal

— Confesso que fiquei surpreso quando o Zeca falou que você tinha algo importante para conversar comigo — eu disse e não me contive em tocar na minha própria ferida — Mas acho que seria mais educado da minha parte te parabenizar primeiro.

— Me parabenizar? Pelo quê? — perguntou arqueando as sobrancelhas.

— Pela sua gravidez — soltei de uma vez e percebi seu nervosismo imediato.

— Como assim, Leal? Quem te contou? — disse espantada.

— Não importa quem me contou, depois eu ficaria sabendo de qualquer forma — dei de ombros fingindo indiferença.

— Mas só o Zeca, o Fidélio e o Miguel sabiam... — ela buscava uma resposta em meus olhos.

— Não foi nenhum deles. Pelo visto o Titã inteiro já sabe, Hélia — desdenhei de propósito — E já que você falou no tal de Miguel, preciso confessar que fiquei surpreso ao saber do relacionamento de vocês, ainda mais por pensar que o JP não tinha filhos. Além disso, não sabia que você gosta de se envolver com garotinhos.

— Não, Leal! Você entendeu tudo errado! — ela protestou gesticulando num tom desesperado — Eu não tenho nada com o Miguel. Ele só foi me acompanhar na viagem porque o próprio pai pediu antes de morrer.

— Eu sabia que ele estava com você nessa viagem! Não tinha certeza, mas estava na cara, claro! Como teria sido feita essa criança? — a essa altura eu já não me importava mais com o volume exagerado e agressivo da minha voz, queria colocar para fora o que estava sentindo.

— Leal, me escute! Por favor, me escute! — ela disse se aproximando de mim com os olhos quase lacrimejando — Foi justamente para falar sobre isso que eu te chamei aqui — tocou os meus ombros, mas prontamente me afastei.

— Ah, faça-me o favor! Quer dizer que você me chamou para dar a linda notícia que engravidou de um rapazote? Ou será que você vai me chamar para ser o padrinho da criança? Se for isso, você pode ter certeza que... — ia continuar, mas ela me interrompeu.

— Leal! Para com isso! — falou já entre lágrimas, mais sensível do que o normal — Você realmente acha que eu te chamaria aqui se o filho fosse do Miguel ou de qualquer outro? Qual seria o sentido nisso? — a olhei dessa vez em silêncio e ela prosseguiu — É seu filho que está aqui dentro, Leal! Será que é tão difícil para você entender? — disse puxando o tecido da roupa e colocando as mãos sobre a barriga, que estava levemente maior — Eu já estava grávida antes da viagem, só não sabia.

Narrado por Hélia

— Você acha que eu sou idiota, Hélia? Eu não duvido nada que você e o Miguel já estivessem de caso antes mesmo dessa viagem — ele disse me magoando ainda mais. De todas as reações que esperava do Leal, essa definitivamente não estava na lista — Espero que pelo menos ele seja homem o suficiente para assumir o filho que fez.

          Eu poderia até dizer que o Miguel nunca tinha tocado em mim, mas estava machucada demais, além de que o Leal continuaria dizendo que era mentira. Não conseguia acreditar que estava passando por aquela situação tão humilhante. Em tempos normais, eu provavelmente partiria para cima dele e o encheria de tapas, mas agora precisava pensar no meu bebê. Minha parte eu fiz e dei o recado. Sei que ele entendeu, mas continuava fazendo aquele papel repugnante que me permitiu questionar o amor que dizia sentir por mim. Porém já criei um filho sozinha, então não seria difícil fazer a mesma coisa novamente.

— Se é isso que você pensa de mim, ok! Para eu estar com quase quatro meses de gravidez, só posso ter te traído com o Miguel, né? — disse ríspida, secando as lágrimas que já não caíam mais, pois o maior sentimento que me invadia naquele momento era a raiva.

Em nome do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora