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Betagem por @CTGraphics_ (@tetelost). 💜


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Sea - BTS
Middle of Somewhere - The Neighbourhood

Com as mãos segurando o quadro contra a parede, minha atenção é devota ao mar ilustrado na tela, é tão realista que consigo lembrar com perfeição a sensação do calor do sol em minhas costas, enquanto, da cintura pra baixo, o meu corpo era envolvido pela água, meus pés se arrastavam e se deleitavam com a sensação de areia macia.

É inevitável, eu sinto saudades de nadar, mas o sentimento não é forte o suficiente para trazer o arrependimento de ter largado tudo.

Posso fazer uma extensa lista de coisas que a curiosidade me impulsionou a fazer. Coisas que não cativaram meu interesse por muito tempo, então abandonava.

No começo era divertido, minha mãe dizia que eu deveria tentar tudo que eu quisesse — claro que ela colocava limites, eu era uma criança mimada —, mas então aquilo deixou de ser diversão para se tornar a procura do meu futuro. Escolher uma única coisa e focar somente nela. Isso soa desesperador, não é?

Todos pareciam ter algo em que naturalmente são bons, mas eu não tinha, e também não tinha o amor que elas aparentavam. Corria de um lado para o outro, procurei em várias direções, porém nunca encontrei algo que fizesse o meu amor ser duradouro.

Diziam que eu ia saber, o meu coração iria sentir, mas tal sentimento nunca me fez uma visita, talvez tenha se perdido no meio do turbilhão de pensamentos que minha ansiedade trouxe.

Então, aos meus 14 anos, corri para o que me lembrava a sensação de paz do mar, apontei para a piscina e decidi que continuaria com meu foco na natação, afinal, meu pai é um ex-atleta, e atual treinador de basquete, ele aprovou com alegria a minha escolha.

Eu queria deixá-lo feliz e orgulhoso.

Fazer aulas de natação na minha infância era divertido, no meu caminho de volta pra casa eu costumava esticar meus braços e apontava para as estrelas, pedindo para me darem forças que me fizessem vencer dos meus coleguinhas quando havia competições. O brinde era uma caixa de bombom, as aulas de domingo vinham com esse prêmio para o aluno que se destacava. O engraçado era que todos os dez da turma chegaram a ganhar, hoje percebo que a professora Jina é mesmo maneira.

Lembrando de toda essa felicidade, eu pensei que o clube de natação da escola fosse mais maneiro ainda. Me enganei totalmente, afinal, o peso de conseguir uma medalha não é o mesmo de conseguir uma caixinha de bombom.

A diversão havia acabado e o meu inferno teve seu início. Aos 14 anos percebi o quanto posso me fazer de sonso, sempre mascarando meus sentimentos ruins, tentando ver amor onde só havia obrigação.

Pensava que talvez eu estivesse acostumado com o fracasso, que fosse um preguiçoso como meu pai citava sempre que via meus treinos. Foi como uma panela de pressão com pouca água, eu cozinhei sentimentos demais e explodi. O meu desistir veio com a minha aceitação de um futuro vazio.

Considero-me a porra de um meio termo — e muitas das vezes, me considero a porra de um nada —, sei fazer várias coisas, mas não sou realmente bom em nenhuma. E sinto que nunca vou ser.

O “maneiro” que tanto amava dizer, se tornou tão escasso em meu vocabulário. Agora, voltando a minha encarada para o quadro, constato o que sempre soube, eu não levo jeito para decoração.

Nosso Jeito ManeiroOnde histórias criam vida. Descubra agora