Continuei com o capuz abaixado mesmo quando driblamos os guardas de plantão e saímos silenciosamente pelos fundos do hospital.
Timóteo acelera o carro até parar próximo a minha rua, mas sem entrar nela.
Ele vira o corpo em minha direção. À luz do entardecer, é quase impossível distinguir suas pupilas de suas íris.
- Temos no máximo quarenta minutos para que notem nossa falta. Disse aos guardas que você não estava se sentindo bem e iria levá-lo ao banheiro. Então, se não der certo...
Aperto as mãos.
- Eu sei. Estamos os dois ferrados.
Ele assente.
- Plantei uma pista mais cedo. Espalhei boatos no hospital e na sua vizinhança de que poderia haver uma possível soltura sua e que havíamos achado uma prova que indicava sua inocência.
Olho para ele sem acreditar.
- Porque espalhou boatos sem me perguntar antes?
Pela primeira vez, Timóteo me dá um olhar divertido.
- Porque eu sabia que você aceitaria.
Mordo a língua, com vontade de xingá-lo, mas me controlando.
- Certo – Bufo. Alívio, por poder dizer as próximas palavras enche meu peito – E como esse boato nos ajudará a capturar o culpado?
- Simples – Ele abre as mãos. – Chego com o carro de polícia na sua porta, te deixo. E esperamos.
- E como ele vai saber? Como garante que os boatos chegarão até ele?
- Assassinos gostam de rondar as cenas do crime, para ver o que está acontecendo. Na verdade, gostam de rondar qualquer lugar que possa lhe dar pistas de como a investigação está indo.
- Isso inclui a cena que refizemos hoje... e o hospital – Eu falo lentamente, e ele assente.
- Pela quantidade de provas sólidas contra você, suponho que tenha sido um crime premeditado há muito tempo. Por esse motivo, o assassino não vai querer que seu único trunfo saia por aí ileso. Se você ficar livre... isso quer dizer que alguém tem que assumir essa responsabilidade.
- E você acredita piamente que ele virá atrás de mim?!
- Sim.
A certeza nos olhos dele me faz calar.
Passo a língua nos dentes, olhando para a rua do meu prédio, em sombras com a chegada da noite.
- Não se preocupe. – Ele me tranquiliza – Consegui trazer dois detetives para o meu lado. Um está por perto, e o outro vai contar meu plano para a equipe quando eu sinalizar, então teremos reforços. – Ele bate no bolso do casaco. – vou filmar tudo e vai passar direto na delegacia. Assim que o assassino entrar na sua casa, você me chama. Vou estar por perto.
Me entrega um dispositivo com botão.
- Só apertar.
Dúvida aperta meu peito. Medo também. Medo de não conseguir, medo de dar errado. Medo de ser tudo coisa da minha cabeça sequelada.
- E se... e se ele não vier? – Sussurro.
Timóteo me olha longamente.
- Torça para que ele venha... ou estaremos nós dois ferrados.
WWW
Encaro a porta do meu apartamento, criando coragem para entrar.
Ao meu lado, Timóteo me dá um cutucão e eu olho para ele de cara feia.
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Contos e outras estórias
Short StoryEsse livro é dedicado a todos os contos e estórias pequenas que eu escrevo às vezes. São gêneros diferentes, com personagens e situações diferentes. Caso haja gatilhos, avisarei no começo de cada um. Conto 1 - Nós (Conto concorrendo ao Desafio Illus...