Promessas a meu coração

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Rezo pelo dia que meu coração voltará a minha posse,
e prometo, por todas as veias e artérias que nele sobraram,
que cuidarei melhor de seu bem-estar e não o entregarei a qualquer alguém.

Prometo que não o entregarei a qualquer sorriso,
a qualquer gesto afetivo,
a qualquer mentira disfarçada.
Prometo que não o deixarei indefeso,
à deriva de uma metade que não o completa.

Prometo que o levarei no peito, onde é seu lugar,
e não nas mãos, onde qualquer um pode ludibriar.

Prometo que não o deixarei acreditar naquelas pessoas que sempre o machucaram,
porque esse coração é misericordioso,
e sempre perdoa, sempre acolhe, sempre esquece.
Esqueci de si mesmo, esquece que precisa separar o sangue bom do sangue ruim.

Esquece que sua função é me manter viva, e não amar mentiras.

Mas eu o perdoo.
Perdoo porque ele não é nada além daquilo que eu fiz dele.
Não é nada além daquilo que eu permiti que fosse.

Mas se eu me sentia metade antes,
agora que ele não está,
sinto-me inquilina do meu próprio corpo.
Agora que ele está lutando para voltar para mim,
vejo que sempre fui inteira,
talvez com uma mania de perseguição,
perseguição daquilo que eu poderia ser,
se eu fosse um pouco menos eu, e um pouco mais nós.

Rezo pelo dia que ele voltará a minha posse,
E então, eu lhe prometo,
todo o espaço da minha caixa torácica somente para ti,
todo o sangue oxigenado que quiser para banhar seus tecidos,
toda a calmaria dos batimentos a uma boa frequência,
e todo o crédito para ti, que tem me mantido viva por décadas e nunca precisou de qualquer outra fração alheia para funcionar.

Prometo te reconhecer inteiro,
e não mais buscar por metades que o diminuem.

Tudo aquilo que não te disseOnde histórias criam vida. Descubra agora