Capítulo 6

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    Thor abriu os olhos ao romper da madrugada para ver as ondas suaves do mar, subindo e descendo em grandes cristas, cobertas pela luz suave do primeiro sol. As águas claras e amarelas do Tartuvian cintilavam na névoa da manhã. A embarcação balançava silenciosamente na água, o único som que havia era o das ondas batendo contra o casco.

    Thor se sentou e olhou em volta. Seus olhos estavam pesados de tão
exausto que ele estava, na verdade, ele nunca havia se sentido tão cansado em sua vida. Eles haviam estado velejando por dias e, ali, naquele lado do mundo,
tudo era diferente, se sentia diferente. O ar era tão denso, tão excessivamente úmido, a temperatura era muito mais quente, era como respirar sob uma
correnteza constante de água. Isso fazia com que Thor se sentisse fraco, fazia
com que ele sentisse suas pernas intumescidas, pesadas. Parecia que ele havia chegado ali no verão.

    Thor olhou em volta e viu que todos os seus amigos, os quais normalmente
já estavam de pé antes do amanhecer, ainda estavam todos deitados no convés, dormindo. Mesmo Krohn, que sempre estava desperto, ainda dormia ao lado dele. O clima tropical e pesado havia afetado todos eles. Nenhum deles sequer se preocupava com ser o timoneiro, todos haviam desistido dias atrás. Não tinha sentido: as velas estavam sempre infladas a todo mastro e eram propulsadas pelo vento do Oeste, as correntes mágicas daquele oceano constantemente arrastavam o barco em uma direção. Era como se estivessem sendo arrastados
para um único local. Eles haviam tentado várias vezes orientar ou mudar o curso, mas tinha sido inútil. Todos se haviam resignado a deixar que o Tartuvian os levasse para onde quisesse.

    Não era que eles soubessem o caminho do Império, Thor ponderou.
Enquanto as correntes os levassem para terra firme, isso já seria bom o
suficiente. Assim pensava Thor.
Krohn despertou, ele ganiu e em seguida, se inclinou para a frente e
lambeu o rosto de Thor. Thor enfiou a mão no saco quase vazio e deu a Krohn  o último naco de carne seca. Para a surpresa de Thor, Krohn não o arrebatou de sua mão, como sempre fazia; em vez disso, Krohn olhou para ele, olhou para o saco vazio e em seguida, olhou significativamente para Thor. Ele hesitava em pegar a comida e Thor percebeu que Krohn não queria tirar-lhe o último pedaço.

    Thor estava comovido pelo gesto, mas ele insistiu, empurrando a carne na
boca do amigo. Thor sabia que estariam sem comida em breve e rezou para que chegassem a terra. Ele não tinha ideia de quanto tempo a viagem podia demorar; o que aconteceria se ela levasse meses? Como eles se alimentariam?

    O sol se levantou rapidamente, ficando brilhante e forte muito cedo e
quando Thor se levantou a névoa já havia começado a se dissipar sobre a água, então ele foi para a proa.

    Thor ficou ali olhando ao redor, o barco balançava suavemente sob seus
pés, ele via como a névoa se dissipava. Ele piscou os olhos várias vezes,
imaginando que estava vendo coisas, quando o contorno de uma terra distante apareceu no horizonte. Seu pulso acelerou. Era terra firme. Terra de verdade!

    A terra que surgiu tinha uma forma bastante incomum: duas longas e
estreitas penínsulas que emergiam do mar, como duas pontas de um tridente. Quando a névoa subiu, Thor olhou para a esquerda e para a direita e ficou
surpreso ao ver duas faixas de terra de cada lado deles, cada uma a cerca de
cinquenta metros de distância. Eles estavam sendo sugados diretamente para o meio de uma longa baía.

    Thor assobiou e seus irmãos da Legião se levantaram. Eles se puseram de pé de um salto, correram para o lado dele e ficaram ali, de pé na proa, olhando para o horizonte.

    Todos eles permaneciam ali, sem fôlego com a vista diante de si: a costa
era a mais exótica que eles já tinham visto, ela estava toda coberta pela
vegetação selvagem, suas árvores altíssimas se arraigavam na linha da costa, a selva era tão densa que era impossível ver além dela. Thor viu as samambaias enormes com seus nove metros de altura inclinando-se sobre a água; viu a as árvores amarelas e roxas que pareciam chegar ao céu e em todos os lugares se ouviam os ruídos estranhos e persistentes de animais, pássaros e insetos. Thor não
sabia que classe de bicho estaria rosnando, gritando ou cantando.

Um voto de glóriaOnde histórias criam vida. Descubra agora