Introdução

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"Se alguma coisa pode dar errado, dará. E mais, dará errado da pior maneira, no pior momento e de modo que cause o maior dano possível."
- Lei de Murphy

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MIDGARD - 2012

Era difícil para Loki dizer como tudo realmente começou. Estava certo de que algo terrivelmente inevitável - apesar da vida toda ter duvidado do tema "destino", tinha que admitir que aquilo estava além da coincidência - foi selado à sua vida assim que ela colocou os pés naquele salão, mas não foi necessariamente ali que ele soube. Definitivamente, não foi a primeira vista que ele se viu perdidamente, incorrigivelmente e completamente apaixonado. Ou melhor - pior -, não foi a primeira vista que ele soube, de corpo e alma, que aquela diante de si era o amor da sua vida, e que isso era uma tragédia. Não, isso aconteceu depois, mais tarde, apesar de não conseguir identificar o momento exato em que tudo aconteceu.

Agora, diante de midgard, depois de quase dois anos, cada detalhe ainda estava fresco em sua mente e corpo. Cada toque, cada olhar, cada palavra, cada sorriso... Cada lembrança era como uma tortura - como várias lâminas sendo enfiadas lentamente em si, cortando e rasgando tecido, carne e musculo - a qual ele se adaptara a converter em determinação fria e calculada, se dedicando incondicionalmente aos seus objetivos. Pensando bem, as vezes ele chegava a conclusão de que tudo aquilo aconteceu para fortalece-lo em prol dos seus futuros feitos. Mas isso não o consolava exatamente, na verdade era como se parte do seu ser tivesse sido arrancado e que agora só sobrasse a parte concreta para fazer todo o serviço sujo. Entretanto, o serviço ainda precisava ser feito. O mundo não parava ou se ressentia pelo luto de um suposto vilão. Ele não se importava se no fundo ele estava quebrado, machucado, incompleto... ele simplesmente exigia uma ação. E era isso que Loki faria.

Com uma inspiração profunda, ele adentrou o salão abarrotado de humanos e continuou seu trabalho em prol ao seu glorioso propósito.

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Chorar por te perder.
Eu sempre achei que chorar por um amor perdido era um absurdo, até provar na pele esse absurdo.

Melquisedek Carmo

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ASGARD – dois anos antes.

~~LOKI

Elas haviam acabado de chegar.
O cerimonialista já anunciava a entrada das quatro damas ao salão arrebatado de pessoas mal contendo a curiosidade em conhecer as noivas propostas ao seu futuro rei. À um futuro rei que não se dava nem ao trabalho disfarçava seu tédio.

Ensaiei um sorriso animado ao me virar para meu irmão, engolindo meu próprio desprezo por tudo aquilo. Thor batucava o pé no chão enquanto encarava as enormes portas por onde as ditadas deveriam passar em breve, sem parecer vê-las de verdade. Trajava roupas um pouco mais formais que de costume, com o dourado prenominando e adornando o couro do traje e a capa vermelha ondulante.

- Sorria, irmão, ou assustará as moças.

Parecendo sair do transe em que estava, ele torna em minha direção, resmungando.

- Ainda não acredito que estou fazendo isso.

- Se refere à cara feia ou à cerimônia?

- Me refiro à essa seleção de jovens desesperadas e bem relacionadas de onde serei obrigado a escolher uma esposa.

- Uma rainha. – Corrijo.

Ele ignora.

- Não é assim que devia funcionar. Não como se eu estivesse prestes a comprar um cavalo.

Ri com escarnio. Nossa conversa não passava de um sussurro.

- Com tanto a ser feito, e é à isso que eu sou submetido.

- Pensei que tivesse concordado com a ideia. – Ele não respondeu, apenas um olhar de relance onde Odin jazia no trono. – Se não queria tudo isso, por quê simplesmente não aceitou Sif como o Pai propôs? Ela poderia ser uma companheira excepcional.

Ambos olhamos de esguelha para a bela mulher junto ao grupo priorizado. Novamente, Thor não respondeu.

Tolo. Apenas um tolo não tinha as respostas para as próprias perguntas. Grande Rei ele seria.

Thor se voltou para mim novamente, abrindo a boca para dizer algo, mas sendo interrompido por um breve e delicado pigarreio. Olhamos ao mesmo tempo para nossa mãe e então para a entrada onde todos concentravam as atenções parecendo prender a respiração.

- Senhores e senhores – começou o cerimonialista – Lady Amora, de Asgard – Em seguida, uma linda mulher de cabelos loiros bem presos, esguia, de rosto fino e decote marcado adentrou o salão com graciosidade e caminhou com leveza pelo corredor, sorrindo e arrancando suspiros. –, Lady Karnilla, de Asgard – logo outra jovem adentrou, esta com os cabelos em parte soltos de forma a exporem os cachos negros perfeitamente definidos. Tinha um caminhar mais apressado, apesar de continuar graciosa e arrancar suspiros com sua beleza tocante. –, Lady Aldrif, de Asgard – Os cabelos vermelhos foram a primeira coisa que todos viram, ouso dizer. Num penteado meio solto, se destacavam em sua pele branca e deixavam os notórios olhos azuis bem vivos. Andava de forma mais contida e não desviou o olhar para o público uma única vez –, e, por fim, mas não menos importante, Lady Blair – todos se viraram com expectativa para a última jovem, mas posso dizer que cheguei até a ouvir todos murcharem um pouco. Não que a tal Lady Blair não fosse bonita, mas era óbvio que ficava um tanto ofuscada pelas outras. Com longos cabelos castanhos perfeitamente alinhados, uma pele levemente bronzeada, e olhos escuros, ela era muito... normal. Apesar disso, tinha o andar decido e o queixo levemente erguido com uma expressão séria.

- Nada mau, hein, irmão! – Comentei, acompanhando seu olhar agora mais interessado.

Como resposta, ele fez uma cara de quem dizia “nada mau mesmo!” e depois um leve sorriso malicioso.

O Pai de todos se levantou do trono e abriu os braços num gesto acolhedor, atraindo a atenção de todo o salão ao se dirigir às damas diante de si que reverenciavam.

- Jovens senhoritas, tenho o prazer de lhes desejar boas-vindas ao Palácio Real – um sorriso afetuoso, que quase me arrancou um revirar de olhos – É um prazer recebe-las. Que comece nossa seleção.


Irremediável ~ [Loki Laufeyson]Onde histórias criam vida. Descubra agora