Irremediável ~ [Loki Laufeyson]

O acordo

Tu estás em mim
como eu estive no berço
como a árvore sob a sua crosta
como o navio no fundo do mar

Mario Cesariny

~~~○●○~~~

~~LOKI

Ajeito a lapela do meu sobretudo, tentando apaziguar a minha irritação enquanto caminho a passos pesados em direção a sala do trono. Já fazia uma semana que as candidatas estavam no castelo e, como Thor estava ocupado demais cortejando as moças, Odin resolveu que eu deveria substitui-lo em suas tarefas. Como se eu já não tivesse tarefas o bastante! Aliás, já que ele seria o suposto rei, deveria dar conta de tudo, certo? Eu devia estar feliz, porque essa história de substitui-lo me daria a chance de provar quem era eficiente de verdade, mas Thor estava animado de mais com as candidatas, em especial Lady Amora, e idiota como era poderia resolver se casar a qualquer momento. E eu precisava de tempo. E tempo era o que eu menos parecia ter.

Viro o corredor apressando o passo, sabendo que chegar atrasado seria motivo para uma cara de reprovação e um comentário indesejado de Odin, o que significava menos pontos e uma coroa cada vez mais longe. E o pior era que o Pai de todos sabia disso, do poder que tinha sobre mim, da minha vontade de mostrar o quanto eu era capaz, da minha vontade de governar. E usava isso a seu favor. Eu sabia disso. Mas isso acabaria, ainda. Porém, até lá...

- Olhe por onde anda! – exclamamos em uníssono.

Dirijo o olhar que eu sabia que congelaria qualquer um ao ser desprezível que esbarrou com tudo em mim e ainda teve a audácia de me culpar.

- O que foi que você disse? – Pergunto, lentamente, internamente agradecendo por ter alguém em quem descontar meu estresse.

Antes mesmo de olhá-la, sei que é uma mulher pela voz feminina, apesar do tom ser um pouco grave, ainda mais carregado de irritação. Penso ser uma criada quando a vejo de cabeça baixa alisando o vestido, mas quando ela levanta o rosto corado e claramente irritado, demoro um segundo para reconhecer que é uma das selecionadas.

- Eu disse: olhe por onde anda! – Retruca, um tom nada delicado.

Pisco, surpreso.

- Mas que audácia! Sabe quem eu sou?

Ela me mede dos pés à cabeça, e então arqueia a sobrancelha.

- Sim, Vossa Alteza.

Franzo o cenho.

- Só isso? Acho que está confundindo sua posição, senhorita. Ainda não é rainha. – Faço questão de carregar a voz com sarcasmo.

- Ouso dizer que nem o senhor.

Abro a boca para responder, mas nada sai. Então ela se vira e começa a se retirar sem cerimônia. Fervo. Não era daquele jeito que eu planejava acabar com a minha raiva. Não devia ser eu a ficar sem palavras ou sem graça, além de tudo ela ainda havia me desrespeitado!

- Espere já aí! – Como ela continuou andando, comecei a ir atrás dela a passos largos. Mas não era possível! Que inferno estava acontecendo ali, onde estava o respeito devido? Sem muita cerimonia também, alcancei a mulher e a segurei pelo braço, fazendo a parar abruptamente e me encarar.