Irremediável ~ [Loki Laufeyson]

Acirrada? Talvez

Quando o mundo desmoronar, permanecerei intacta. Não é isso que esperam de mim?

~~BLAIR

A música soa bem. Mas poderia melhorar. Se ela conseguisse mover os dedos com mais agilidade nas horas certas, se soubesse medir o som com mais rapidez e no momento adequado intensificar a nota...

Faço notas mentais enquanto Lady Amora toca o piano diante de nós, na nossa aula de música - apesar da instrutora insistir em usar o eufemismo "aperfeiçoar", ao contrário de "ensinar". Mas tudo isso se trata mesmo de um teste, para ver se somos adequadas o suficiente para sermos rainha.

No nosso primeiro dia no Palácio, foi entregue um cronograma, onde há várias atividades para o decorrer dos dias até a escolha, como: esgrima, debate, música, dança, entre outros. Não é tão ruim, pelo menos me ajuda a ocupar a mente e não pensar no fato de que estou sendo ignorada pelo homem com quem preciso me casar. Música, por exemplo, é uma das minhas paixões, e ouso dizer que estou aliviada em saber que em pelo menos isso sou superior a perfeita Amora - não que eu fosse confessar isso em voz alta, aliás, tenho outros tributos, estou consciente dos meus pontos fortes, e nunca deixar que saibam que estou nervosa ou insegura está entre eles.

Exceto, é claro, por alguns pequenos deslizes, como o com o Príncipe mais cedo.

Eu não devia ter dito tudo o que disse e agido com tamanha falta de decoro perto de alguém como ele. Foi imprudente e idiota descontar minha raiva logo nele - não que eu soubesse quem ele era no momento em que nos esbarramos, só quando levantei o rosto foi que me dei conta, mas já era tarde de mais. Eu já havia começado, e a forma como ele usou sua posição, toda aquela afetação e superioridade... infelizmente, na maioria das vezes em que perco o controle, só me dou conta disso muito tempo depois, quando estou mais calma. Como dizia Abi: meu temperamento é a minha subsistência, mas também a minha ruína.

- Tudo bem?

Olho para a minha esquerda rapidamente onde a quieta Aldrif está sentada.

- Por quê não estaria?

Ela engole em seco. Era tão fácil fazê-la se sentir desconfortável. Apesar de se parecer com uma obra de arte, os poucos dias observando-a me mostraram o quanto é tímida e insegura.

- É só que... sua perna está...

Sigo seu olhar e percebo que estou fazendo aquilo de novo. Uma mania nada elegante da qual tanto me repreendem: ficar batucando o pé quando estou impaciente - o que acontece com frequência. Paro o ato e dou um rápido olhar para ver se mais alguém havia visto. A minha direita, Lady Karnilla parece bem distraída olhando pela janela, entendiada. Volto meu olhar para a ruiva.

- É uma mania. - esclareço - Nada de mais.

Ela assente, evitando olhar para mim.

Até agora, nenhuma de nós havia se relacionado muito. Pequenas frases como "bom dia" ou "vestido bonito" - mesmo que o vestido em questão fosse horrível, o que eu acho que era proposital - foram nossas únicas interações. Na maioria das vezes ficavamos caladas, observando e sendo cordiais.

Acho que a seleção tem algo a ver com isso.

Mas, das três damas, a que mais parecia inofensiva era Aldrif. Estava na maior parte do tempo calada, nunca pedia para ser a primeira e sempre desviava o olhar quando, por algum acaso, este se cruzasse com o de outra pessoa. Era tão pequena e delicada, e suas mãos se contorciam no colo com nervosismo... isso me obrigava a ser gentil.

- Parece nervosa. - Observo.

Surpresa, ela me olha. Sou arrebatada por olhos incrivelmente azuis, que instantâneamente me lembram o céu limpo do meio da tarde. Engulo minha inveja quando ela desvia o olhar novamente.