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HOSEOK

Depois de mais duas quedas e de ficar com a bunda quase dormente, desisti da aula e Yoongi me levou até a margem do lago, onde ficavam alguns bancos de madeira.

– É estranho te ver desse jeito – Ele disse enquanto me ajudava.

– De que jeito?

– Inseguro.

Um riso soprado escapou de meus lábios. Como ele não percebia que tudo que o envolvia me deixava inseguro?

– Acho que você não presta muita atenção em mim.

– Claro que presto! – Seus lábios se juntaram em um bico – Eu só nunca tinha te visto sendo ruim em alguma coisa. Acho.

– Eu não sei que imagem maluca é essa que você tem de mim.

– A imagem de que você é perfeito demais pra cair de bunda no chão desse jeito.

– Ei! Eu caí perfeitamente.

Ele soltou uma risada e me olhou afetuoso. Eu me sentia mole sempre que ele me olhava desse jeito.

– Foi fofo.

– Quê?

– Você. É fofo aprendendo a patinar.

Nem os quilômetros e quilômetros de neve foram capazes de impedir que meu rosto esquentasse. Minhas bochechas ferveram e minha garganta apertou.

– Yoon... – Foi a a única palavra que fui capaz de dizer. Baixinha e com dificuldade. Porque se eu abrisse a boca mais um pouco era capaz de me levantar e gritar o quanto o amava e queria ser namorado. De verdade. Não o inventado para enganar sua família.

Ele então me olhou surpreso e aproximou as duas mãos do meu rosto, segurando-o.

– Seu rosto ficou vermelho – Suas mãos grandes e protegidas pelas luvas pousaram nas minhas bochechas na tentativa de protegê-las do frio – Deve ser o frio.

Ele se inclinou para frente perto o suficiente para que eu sentisse sua respiração em meu rosto. Quente e doce.

– YOONGI! – A Sra. Kim estava na pista de patinação acenando para Yoongi e chamando-o para patinar com Taehyung.

Ele moveu o corpo e olhou na direção dos dois. Hesitou. Por fim, tirou as mãos do meu rosto e se afastou, me deixando sozinho e sentindo mais frio do que senti em toda a viagem.

Observei-o deslizar em direção a Sra. Kim, que chamou Taehyung, sorriu, falou, sorriu novamente, falou, falou, fez sinal com as mãos e saiu de perto deixando os dois a sós.

Os dois conversaram e sorriram juntos. Depois se puseram a patinar um ao lado do outro.

O desgraçado era bom.

Ele e Yoongi estavam se divertindo. E eu ali sozinho assistindo.

Levantei desengonçado e me pus a andar até a pista. Eu iria até ele.

Afinal de contas ele era meu namorado não é? Eu podia ir até lá e ficar com ele, não podia?

Pisei no gelo e já senti minhas pernas tremerem. Definitivamente era mais fácil com Yoongi me segurando. Tudo era mais fácil com Yoongi.

Calma.

Tentei manter a postura reta e quase escorreguei. Voltei a inclinar o tronco para a frente. Minhas pernas bambearem e eu mexi os braços tentando agarrar o ar.

Vou cair!

Ah!

Vou.

Calma.

Inclinei de novo o corpo e voltei a me equilibrar. Uma perna de cada vez. Direita, esquerda, direita, esquerda.

Eu olhava para o chão, então lembrei que Yoongi me pediu para olhar para a frente. Levantei o rosto e voltei a me movimentar.

Direita, esquerda, direita, esquerda, direta, esquerda, direita...

E caí.

Ouvi gritos, pessoas se aproximando, patins cortando o gelo e então o rosto de Yoongi acima de mim.

– Hoba.

– Meu braço – Gemi.

Ele me ajudou a levantar e me tirou da pista.

– Vou te levar pro hospital.

– Não precisa.

Ai.

– Você mal consegue mexer o braço, Hoba – Ele se agachou e tirou meus patins, depois calçou meu sapato. Cuidadoso e gentil como sempre.

Caminhamos devagar. Ele preocupado ao meu lado, me guiando e fazendo um leve carinho em meu ombro são. Me ajudou a entrar no carro e dirigiu até o hospital da cidade.

**

Não era nada grave. Na queda, eu apoiei o peso do corpo em cima do braço e torci o pulso. O médico receitou compressas geladas, um anti-inflamatório e uma tipóia, para imobilizar o membro machucado.

Quando entramos novamente no carro, Yoongi colocou a chave na ignição e eu pus a mão em cima da sua, pedindo que esperasse um pouco.

Mas eu demorei para falar. Precisava organizar meus pensamentos e criar coragem. Ele não me pressionou. Esperou em silêncio, me olhando com curiosidade.

– Você ainda gosta dele?

– Do Taehyung? – Ele balançou a cabeça de uma lado para o ouro – Não.

– Tem certeza? Você pode ser sincero comigo. Sabe disso, não é?

Sua expressão ficou mais séria, mas ainda calma e gentil.

– Eu nem o conheço mais, Hoba. Ficamos tanto tempo sem nos falar. Eu não sou a mesma pessoa de antes e nem ele.

– Se vocês reatassem, você poderia voltar a morar aqui. Com sua família.

– Eu posso voltar a morar aqui a qualquer momento. Não preciso namorar o Taehyung pra isso.

– Yoon...

– Hoba. Taehyung foi meu primeiro amor. Não terminamos magoados ou com raiva um do outro, então eu ainda tenho um carinho muito grande por ele. Mas é só. Nostalgia, carinho por alguém com quem vivi bons momentos e que conheço desde criança – Sua sobrancelha arqueou – Por que a pergunta?

– Não sei – Dei de ombros – Todo mundo parece achar vocês dois o casal do ano.

– Do ano de 2007, né?

Sua mão foi a até a ignição novamente, mas parou, esperou e voltou a olhar para mim.

– Isso te chateia? Ficarem me empurrando pra cima dele?

Sim. Pra caralho.

– Não. É tudo fingimento, não é?

– Será que é por isso? Eles notaram que estamos fingindo? – Ele mordeu os lábios pensativo – Não acha que estamos muito distantes para um casal de namorados?

Acho, Yoongi. Acho inclusive que você devia calar a droga dessa boca linda e me beijar.

– Não sei. Acho que estamos fingindo bem.

– Pensei que você fosse o senhor romântico.

– E sou!

Ele inclinou o rosto em minha direção.

– Então trate de convencê-los.

Resmunguei fingindo irritação.

– E você trate de cuidar do meu machucado. É tudo sua culpa.

– Minha?

– Claro! Eu fui tentar lutar por você e te afastar do meu concorrente.

Yoongi gargalhou, balançando o corpo e mostrando os dentes pequeninos e retos. Sorri em resposta. Ele se aproximou novamente e beijou minha bochecha.

– Essa batalha você já ganhou.

Um amor de Natal || SopeOnde histórias criam vida. Descubra agora