Cinderela on
Uma semana depois
Acordei , mas na verdade não queria. Queria pular esse dia.
Hoje faz sete anos que meu avô morreu.
Ontem foi um dia difícil, esse noite foi difícil e hoje vai ser ainda pior
Levantei e olhei pro céu, tava completamente limpo, azul vibrante, meu avô merece
Vesti uma calça e uma camiseta e por fim um tênis
Desci e tavam todos lá embaixo com caras não tão boas.
-Oi -Falei
Todos ficam tristes nesse dia, nas a verdade é que depois de 7 anos as pessoas superam, é uma data triste, sim, mas acaba sendo um momento triste e pronto. Mas pra mim não, nessa data o meu dia sempre é o pior possível.
A gente se cumprimentou e eles falaram que iam no cemitério, eu apenas concordei.
Sempre é assim, eles vão ainda de manhã e eu vou lá a noite.
Pode parecer mórbido mas eu prefiro assim, parece algo mais íntimo e pode parecer estranho mas é meu avô, nunca teria medo dele.
Fui pro Alemão, pra tentar fazer esse dia passar mais rápido e o Caio já estava na porta do galpão de treinamento hoje.
Desci da moto sem falar nada e abri o Galpão
-Pega a arma, hoje tu vai atirar -Eu falei seca
Ele pegou e eu fui falando com ele como ficar, essas coisas
Ele e eu não falamos mais nada, não que a gente converse muito, mas enfim.
Se passaram duas horas, o Caio fazia tudo que eu mandava e agora demos uma pausa.
-Que que ta rolando? -Ele me perguntou
-Nada e se tivesse não é da sua conta
Ele ficou me encarando por um tempo como se tivesse vendo minha alma e isso me deu um tipo de vergonha ou medo, não sou de sentir isso.
-Você perdeu alguém -Ele falou baixo mas ao mesmo tempo firme
Eu não disse nada apenas encarei ele de volta
-Alguém que perdeu uma pessoa especial reconhece outra que também teve essa perda -Ele falou por fim e eu me virei de costas pra engolir o choro, eu sempre fico sensível no aniversário de morte do meu avô, fico me lembrando dos meus momentos com ele
-Quem você perdeu? -Falei depois de engolir o choro mas ainda sem me virar pra ele
-Minha mãe -Ele deu uma pausa -Eu tinha 4 anos
-Sinto muito
- E você?
-como eu disse não é da sua conta.- levantei a cabeça e virei pra encarar ele.
- Eu te contei, agora é sua vez.- respirei fundo.
- Meu avô... faz sete anos hoje. - abaixei a cabeça, mas logo levantei e mantive a postura firme.
-Tenebroso... -Ele falou mais pra sí do que pra mim -Sinto muito
Eu concordei com a cabeça
-porquê ta aqui?
-Não vou ficar sendo sentimental com você ta garoto? Não é porque nós dois temos parentes mortos que vamos virar amigos agora.
-Não to falando isso menina, deixa de ser ignorante, eu sei como é um aniversário de morte, tava tentando melhor esse dia de bosta pra você.
-Não preciso da sua ajuda
-Mais quer mesmo assim, porque você se faz de durona na frente de todo mundo, deixa eu adivinhar, vai pro cemitério a noite?
-você não sabe de nada
-Eu sei sim, porque eu sempre fui assim
Eu tentei controlar minhas lágrimas mas eu já estava sucumbindo uma lágrima rolou do meu rosto e eu me virei depressa
Não consegui me segurar mais e me concedi o direito de chorar
-Ele era muito especial Caio, ele morreu eu tinha doze anos -Eu falei respirando fundo
-Eu odeio falar sobre como minha mãe se foi.. Mas você quer falar sobre seu avô?
-Não.
-Cinderela, nisso a gente é igual, você quer ficar sozinha, quer enfrentar isso sozinha, eu não vou ser hipócrita pra dizer ao contrário, mas eu posso ficar aqui?
Ele falou isso de forma natural, ele sabe como é. É horrível as pessoas ficarem falando como você deve lidar com a morte, o Caio simplesmente me entende
Eu sentei no chão e ele sentou do meu lado
Não falamos nada, só ficamos ali.
- Eu...- minha garganta ficou seca- Eu tenho que trabalhar.- falei levantando -Quer que eu te deixe na boca?
- Eu me viro pode ir la.- levantou também.
Peguei minhas coisas e estava saindo do galpão.
- Obrigada. - olhei pra ele- por...você sabe...entender...
- Eu sei.- sorri pequeno e sai do galpão voltando pro vigário.
Trabalhei o dia inteiro e não troquei um a com ninguém. Já eram onze da noite e eu fui até o cemitério que meu avô tinha sido enterrado. Fui até a lápide dele e me sentei ali do lado. Fiquei alguns minutos ali, só pensando na falta que meu vô faz.
- É vovô, hoje nunca é fácil, o senhor faz muita falta, eu queria o senhor aqui pra me ajudar como sempre fazia.
Fiquei mais um tempo lá.
- Sabe o que meu pai aprontou agora vô? Ele me colocou como babá. Babá vovô. Eu me pergunto o que você acharia disso. Eu realmente queria você aqui pra falar pro meu pai o quão estúpida é essa ideia. Como que meu pai coloca a herdeira dele pra treinar aviaozinho?
- Eu queria você aqui pra me dizer o que fazer, eu não sei que rumo tomar da minha vida, com você aqui as coisas sempre foram mais fáceis, eu so queria ir pra tua casa e assistir Cinderela uma última vez. Eu te amo vô. E eu sei que você ta me ajudando do jeito que pode dai de cima... de onde quer que você esteja. Eu te amo.
Eu olhei pro céu e respirei fundo já era tarde.. Tipo bem tarde então voltei pra casa e me tranquei no quarto pra esse dia acabar.
N. A
Chorando horrores aqui.
VOCÊ ESTÁ LENDO
CINDERELA DA FAVELA
Novela JuvenilEsse livro conta a história de Isabelly, uma menina de 19 anos a herdeira do Vigário. Conhecida pelo vulgo cinderela ela é a patroa de tudo. Vocês vão conhecer mais sobre a história dela e se preparem para sofrerem muitas emoções! Esse livro é o...