Nós estávamos na borra de café

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Professora Trellawney era uma péssima professora, segundo Hermione, suas suposições eram baseadas em visões e não em fatos verídicos. Prova disso foi uma conversa particular que se viu obrigada a ter com a professora. Aquele ano estava sendo tumultuado com tantas aulas, os amigos, os perigos. Para uma garota de treze anos tudo parecia maravilhoso e assustador. Para Hermione parecia cansativo. Então ela suspirou várias vezes antes de finalmente se sentir preparada para conversar.

Hermione detestava ser desrespeitosa com professores, mas aquelas aulas nem faziam sentido, tecnicamente eram apenas uma forma de ilusão. 

— A senhorita? - Trellawney disse enquanto analisava várias borras de café. - O que a senhorita deseja? Futuro? Presente? Passado?

Hermione aproveitou para soltar mais um suspiro.

— Nada disso, a professora Mcgonagall me pediu para conversar com a senhora sobre as aulas. Que eu gostaria de…

— Beba isso! - Entregou uma xícara para Hermione que se viu obrigada a tomar, como forma de se livrar logo dela.

Já estava pensando em deixar as aulas, Minerva Mcgonagall que estava convencendo a garota a persistir mais um pouco. Depois do grande favor em lhe permitir usar um vira-tempo, não podia negar qualquer pedido. Não que em qualquer momento de sua vida Hermione pensasse em negar qualquer pedido de sua professora preferida.

Bebeu o líquido e entregou a xícara de volta.

— Hum… Professora… - estava na hora de ter a conversa com ela.

Trellawney pediu silêncio. Olhou da borra para Hermione, de Hermione para borra. Por fim sorriu:

— Uma cética, claramente. - a professora balançava a cabeça. - Cética, teimosa, com um futuro promissor pela frente. Posso dizer inclusive que seu futuro será repleto de amor, um amor que já encontrou.

Hermione não acreditava em nada do que a professora falava, em sua mente a palavra lunática brilhava como luzes neon.

— Cabelos ruivos, sardas no nariz, o sexto filho de sete. - Trellawney a encarou. - Hum, não acredita em mim?

Hermione com o rosto queimando não pode evitar o fervilhar em seu corpo. Somente uma pessoa passava por seus pensamentos, mas aquilo era ridículo e infindável.

— Sinceramente? Não. Isso são apenas suposições! E essa é a suposição mais absurda de todas. Não quero desrespeitar a senhora, mas isso é impossível.

A professora não se abalou. Sabia da sua verdade.

— Muitas pessoas pensam como a senhorita, mentes fechadas. Querem teorias e comprovações. Não percebem que a vida não é científica, não existem explicações para tudo, algumas coisas apenas são. Senhorita Granger, um dia escutará as mesmas palavras que lhe disse, se lembrará dessa borra de café. Nós também temos teorias na adivinhação, nada é preto e branco, existem cinzas.

Se Hermione falasse tudo que gostaria, deixaria de ser a aluna que gostava de ser. Então apenas resmungou um "obrigada" e saiu da sala.

— Obrigada por nada! - bufou.

Naquele dia não acreditou em nada. Não se permitia acreditar.

Quando estava sentada ao lado de Ronald Weasley,  alguns anos depois escutando o discurso de George Weasley sobre o irmão percebeu que reconhecia as palavras.

— Cabelos ruivos, sardas no nariz, o sexto filho de sete, quem diria que um dia se casaria com aquela garota irritante e sabe tudo? Provavelmente todos, porque só os dois não enxergavam a tensão que existia entre ambos. Hoje brindamos ao casal.

Rony ergueu a taça em sua mão e em seguida a beijou com ternura. Hermione não conseguia acreditar que naquele momento tão especial em meio a seu casamento só se lembrava de Trellawney e suas palavras. No fim do beijo encostou a cabeça no ombro de Rony.

— Nós estávamos na borra de café.

Ele a olhou sem entender nada, mas sorriu a beijando de volta porque a única certeza que tinha era que eram sortudos demais por terem um ao outro.

Nós estávamos nos detalhesOnde histórias criam vida. Descubra agora