Nós estávamos nas nuvens

180 16 2
                                    

— O que você vê nas nuvens? Era uma brincadeira minha e de meus irmãos, disputavamos quem encontrava mais figuras nas nuvens. — Rony falou. 

Estava sol na Toca, mas o céu estava coberto de nuvens, Rony estava deitado embaixo de uma sombra de uma árvore, Hermione, sentada do seu lado, lia um livro, enquanto ele tentava tirar seu tédio observando as nuvens. 

Ela não queria observar as nuvens, estava numa parte tão interessante da história, desta forma só disse, ainda com os olhos pregados no livro:

— Nunca brinquei disso. 

— É claro que já brincou, todas as crianças do mundo, bruxas ou trouxas, já brincaram disso. - Rony estava indignado. - Aquela por exemplo tem formato de cachorro. 

Rony apontou o dedo para cima, num ponto específico, Hermione resolveu acompanhar sua direção e observou.

— Não parece um cachorro, parece uma cúmulonimbus. 

— Cúmulonimbus? Uma vassoura? 

Hermione começou a rir, Rony não havia entendido. 

— Uma nuvem que indica tempestade. É esse o nome dela. 

— Hermione, eu sei que aquela nuvem indica tempestade, ela está escura e volumosa. 

— Exatamente, uma cúmulonimbus. — completou voltando sua atenção para o livro, estava numa parte tão interessante da história e Rony lhe atrapalhando. 

— Use um pouco sua imaginação e seu otimismo. 

Ela não refletia normalmente sobre o que Rony dizia, mas naquele verão, estava tentando se manter otimista e esperançosa. Afinal, já havia admitido a si mesma que estava apaixonada por ele, por seu melhor amigo, um melhor amigo que vivia implicando e brigando, mas que fazia seu coração se descompassar. Desta forma, fechou o livro, colocou ele longe de si, e deitou na grama, lado a lado com ele. 

Rony sorriu quando a observou de lado, Hermione fazia caretas olhando para as nuvens. 

— Bom… a cúmulonimbus, para mim, parece mais uma lontra, que um cachorro. - concluiu. 

— O que? Como um cachorro pode de repente se transformar numa lontra?

 — Bem ali Ronald. - ela apontou para um lugar específico no céu estreitando os olhos tentando enxergar. - Aquilo certamente é a cauda dela. 

— Cauda? - Rony estreitou os olhos tentando enxergar o que ela dizia, não havia visto nenhuma cauda, mas sim um focinho. - É um focinho de cachorro. 

— É claro que não, só se for um focinho muito comprido…

Rony gostou de ver a amiga empenhada e um pouco relaxada em enxergar desenho em nuvens e ela gostou de estar tentando enxergar o copo meio cheio. Sabiam que as coisas ficariam cada vez mais complicadas, estavam cada vez mais difíceis e Hogwarts só parecia segura por ter Dumbledore.

Um ano depois lá no Largo Grimmauld, apavorados depois do ministro morto e de terem combatido inimigos e corrido para um lugar seguro seguindo Harry e deixando a família para trás em constante perigo. 

Hermione não conseguia mais ficar longe dele e sabia que Rony estava gritando desesperado com os olhos o medo de ver os pais morrerem, o medo de um futuro cheio de batalhas, lutas e percas. O medo o dominava e a dominava também. Mesmo assim, ele insistiu para que seu saco de dormir fosse preenchido de almofadas e ela insistiu que dormissem juntos na sala. Não conseguiria ficar longe dele. 

Tarde da noite ela percebeu que ele ainda não havia dormido, Hermione também não conseguiu pregar os olhos. Diante do medo, resolveu conversar. O céu estava em sua visão, mesmo noite, dava para enxergar as nuvens de chuva e ela resolveu arriscar a lembrança do ano anterior. Era uma lembrança boa, talvez o animasse. 

— Você lembra quando você enxergava um cachorro nas nuvens e eu uma lontra? 

A pergunta saiu baixa, mas Rony sorriu a menção da lembrança. 

— Não, eu enxergava um cachorro, você via a cúmulos limpus, cúmulos vimbus. Não lembro o nome estranho parecido com uma marca de vassoura que disse.

Ela riu, Rony sorriu diante da risada dela. 

— Cúmulonimbus. - ela o corrigiu. Rony amava quando ela o corrigia. - A nuvem que indica tempestade. 

De repente as risadas e os sorrisos cessaram e só restava dúvidas e medos. 

— … Por que a gente só olha pro céu quando tem tempestade? - ele perguntou, mas Hermione não respondeu. Era aquele tipo de pergunta que não tinha resposta certa. Até porque a tempestade que estava prestes a cair não era só literal. - Até ano passado a gente olhava procurando desenho em nuvens. 

Ela suspirou chorosa ainda observando o céu na janela à sua frente e ele resolveu fazer outra pergunta. 

— Está vendo alguma estrela? 

Ela negou com a cabeça chateada. Mas pensou que poderia tentar o animar. 

— Não estou vendo. Mas sei que estão lá. 

— Como pode ter certeza? - Rony perguntou desejando que ela lhe explicasse o inexplicável.

— Porque apesar da tempestade ainda temos estrelas para mostrar que há luz, e apesar da tempestade, ainda podemos encontrar os desenhos em nuvens e não só enxergar a cúmulonimbus.

Ele entendeu o que ela dizia, apesar dos caminhos tortuosos que se seguiriam, ainda existia um jeito de manter o pensamento do copo meio cheio. 

— Costumava ser você a não enxergar o copo meio cheio. - Rony observou a mão dela esticada, tão perto da sua. 

— Sempre foi você a enxergá-lo. Achei que estivesse precisando lembrar que ainda existe luz, apesar das estrelas estarem encobertas. - ela falou esticando um pouco mais os dedos, quase o tocando.  

— Obrigado. - lhe agradeceu cedendo a seu impulso de enlaçar sua mão na dela fortemente. 

Não falaram mais nada naquela noite, nos pensamentos existiam nuvens, desenhos, tempestade, estrelas encobertas e também uma mão entrelaçada que mostrava que apesar do medo impossível de não se sentir, havia também esperança de um futuro.

Nós estávamos nos detalhesOnde histórias criam vida. Descubra agora