Mesmo depois de tantos anos, ainda eram os mesmos Ron e Hermione.
Na essência.
Naquilo que importava.
No amor.
Rony tinha se encontrado, finalmente, longe de tudo que parecia ser óbvio. Não foi feliz como Auror, quem dera soubesse disso antes de se tornar um. Gostava mesmo de ficar com a família e ajudar George com as lojas. Aprendeu aos poucos a se conhecer e reconhecer. Percebeu que era bom com a cozinha, sua mãe sorria sempre que ele entrava na cozinha para ajudá-la. Aprendeu sobre o mundo trouxa assistindo documentários no fim da noite enquanto tentava entender porque os filhos precisavam sair tão tarde e voltar mais tarde ainda. Aprendeu a esperar Hermione com uma xícara de chá, a esposa chegava tão tarde quanto os filhos adolescentes. Aprendeu a cuidar de Pencil a cachorrinha que Hugo encontrou atrás da sua loja de revistinhas e adotaram. A cuidar de Lola a gata que Rose resgatou do esgoto em frente a sorveteria. E Bichento que parecia que iria durar por mais mil anos, mas agora era mais apegado a Rony do que a Hermione. Os dois ruivos ficavam juntos esperando a dona chegar. Demorou para entender, mas quando entendeu Rony conseguiu enxergar quem realmente era.
Hermione sabia quem era desde muito nova. Levava a vida a sério. Era concentrada e esforçada. Sabia de onde partia e aonde gostaria de chegar. Quando virou Ministra soube que todo dia seria um esforço diferente, teve que mudar horários e abrir mão de algumas rotinas. Não mais conseguia mandar cartas diárias aos filhos, ou correr com Pencil pelo parque perto da casa. Ficava horas no Ministério da Magia, chegava tarde em casa. Encontrava Rony e Bichento assistindo documentários, ele segurando sua caneca de chá favorita. Quando se apaixonou por Rony ela enxergava nele o que ele não conseguia ver, os anos ajudaram nisso. E ela conseguia enxergar ainda mais coisas, qualidades e também defeitos. Gostava inclusive deles, alguns podiam quase a matar de raiva. Mas aqueles que a faziam rir eram como se voltassem a ter onze anos. Ela que já se conhecia aprender a se permitir mudar. Se permitir viver. Com ele.
Ron e Hermione criaram rotinas e quebraram quase todas elas. Mudaram de casa três vezes até encontrarem a certa. Bairro misto, com bruxos e trouxas, um parque a poucas quadras, assim como a sorveteria e loja de quadrinhos. Uma pizzaria favorita.
Juntaram dois gatos e um cachorro com a pobre Pichi cada vez mais velha. Rony não a usava mais como correio, na verdade tratava a coruja como uma rainha, conversava com ela pelo menos duas vezes ao dia, assim como Hugo que ficava desenhando enquanto ela pousava em sua cabeça.
Criaram um jardim, uma casa na árvore e um balanço. Um porão cheio de tintas e quadros e uma biblioteca cheia de livros e cadernos.
Construíram uma família, uma união, uma verdade. Aprenderam, re-apreenderam, brigaram e fizeram as pazes.
Se beijaram na sala, embaixo de chuva, na grama e na lama, na cozinha, na porta. Na testa, bochecha. Se apaixonaram, re-apaixonaram. Brigaram por uma, duas, centenas de vezes. Mas o amor continuava ali, vivendo. Crescendo. Se alimentando. Se transformando. Tomando conta dos detalhes, dos perfumes, das nuvens, das borras de café esquecidas em xícaras.
O primeiro beijo aconteceu em meio a guerra, o último fora naquela manhã na testa, não era de fato o último, mas ela gostava de pensar nos detalhes.
O detalhe dele ainda lembrando de lhe entregar uma xícara de chá toda manhã em meio a sua leitura, o detalhe dos netos chegando correndo no domingo a fim de brincarem com as velharias da garagem e usarem as tintas velhas de Hugo e os brinquedos eletrônicos antigos, a câmera fotográfica de Rony e as milhares de quinquilharias das gemiliadades Weasley. O detalhe dos olhos ainda permanecem brilhantes, apesar de cheios de linhas de expressão, o detalhe do sorriso ainda fazer o maxilar doer, apesar da risada rouca e da voz cansada.
O tempo não esperava por ninguém, mas naquela noite, enquanto Hermione observava o marido sentado na cama brigando com o controle remoto da televisão, ela entendeu que era o destino. Que a professora Trellawney estava certa o tempo todo, que o cheiro do amor se transformava conforme os anos, mas nunca mudava de ser, que as brigas tinham um propósito, que a mensagem nas nuvens sempre fora clara: sim era um cachorro e uma lontra, sempre fora.
— Qual é o problema do controle remoto? - ele batia a mão para que o objeto enfim mudasse de canal, mas nada acontecia.
— Talvez sejam as pilhas. - ela explicou o óbvio pedindo para segurar o controle na mão e desligando a TV em seguida.
— Poxa, eu quero assistir meu documentário. - ele reclamou deitando-se na cama derrotado.
— Hoje não, está na hora de nossa história, se esqueceu? - ela perguntou já vendo o sorriso que lhe entregava.
— Ah, daquela garota sabe-tudo? Estou curioso. - ele se aproximou dela na cama realmente interessado na história.
— ...Hermione se imaginava uma princesa, mas no fim se descobriu uma bruxa, mas no primeiro dia de aula encontrou o bruxo mais irritante do mundo com um ar prepotente…
Ele se alinhou em seu cabelo sentindo o cheiro mais apaixonante do mundo, seus pequenos passatempos diários, mesmo após anos e com a velhice em calço, sua memória um pouco falha e não esperando por ninguém, eles sempre seriam assim. Rony e Hermione nos detalhes.
E por mais que pudesse parecer clichê demais eles sabiam que para eles existia apenas um final. E era o "foram felizes (briguentos) para sempre".
VOCÊ ESTÁ LENDO
Nós estávamos nos detalhes
FanfictionNós estávamos nos Detalhes é totalmente baseado em um romance entre amigos, cheio de brigas, bochechas corando e amor. Com detalhes inesquecíveis, perfumes imutáveis, destino em borras de café, nuvens de tempestades e histórias contadas ao fim da no...