Nós estávamos nos perfumes

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Hermione estava no sexto mês de gravidez e não parava com aqueles malditos enjoos. Quando esperava por Rose tudo tinha sido simples e fácil. Podia comer qualquer coisa, não enjoava nunca  assim como as dores que pareciam não existir.

Agora aguardando o segundo filho, ou filha, os enjoos estavam na sua pior versão.

Só conseguia comer um tipo específico de comida e poucos cheiros a deixava feliz. Infelizmente seus livros antigos estavam fora da lista. Tinha que se contentar em ler através das telas do celular, computador.

Na lista de cheiros que apetecia seu coração e humor estavam:

Em primeiro lugar o perfume do creme que usava nos cabelos de Rose.

Em segundo o cheiro particular que só Rony tinha e que ela desconfiava que era a única que sentia.

Em terceiro o perfume do café da manhã que seu marido preparava em todas as refeições do dia, pois eram as únicas comidas que o bebê em seu ventre parecia apreciar.

— Hum, panquecas… - Hermione murmurou ao chegar na cozinha.

— Hoje fiz com mirtilo. - Ele diz acenando para o amor de sua vida se sentar.

Rose estava na cadeirinha próxima da mesa.

Suas mãos manchadas com as frutinhas. Seu rosto todo lambuzado.

Hermione sorriu.

Se recordou de uma aula em particular, em que aprenderam sobre Poções, em especial a amortentia. Se chegasse perto de uma nos dias atuais sabia que os cheiros que sentiria seriam completamente diferentes. Menos um deles. Um seria o mesmo. Exatamente igual.

Seus pensamentos a tiraram dali por um instante.

Voltou para sua cozinha só quando o barulho das torradas saindo daquela velha torradeira que Rony tanto gostava.

— Você se lembra do nosso sexto ano? - Ela se serviu com o suco. O médico a convenceu de diminuir a cafeína. Uma caneca de café por dia.

Rony a olhou desconfiado. Muitas coisas tinham acontecido no sexto ano. Eles suspirou, mas respondeu com algo que lhe pareceu seguro.

— Um pouco…

Hermione abocanhava o bolo de abóbora enquanto segurava uma torrada na outra mão.

— Lembra da aula sobre amortentia? - Seu sorriso satisfeito mostrava que aquela seria uma conversa segura e tranquila.

— Não muito, para ser sincero. - Ele tocava a barriga dela. Sentia os leves movimentos, ou achava que sentia.

— Eu me lembro. Sabe quais cheiros sentiu? - Ela mantinha os olhos fechados experimentando as panquecas. - Hum, nós ficamos felizes com as panquecas.

Rony agora com Rose nos braços pensou por um instante. Não se lembrava direito da aula, só lembrava que tinha sido envenenado por aquela poção ridícula que era para o Harry.

— Eu sentia o perfume dos seus cabelos a maioria das vezes que estava por perto ou que pensava em você. Só não conseguia admitir isso em voz alta. - Rony explicou a única verdade que sabia sobre aquela época. Ele não era corajoso o suficiente para se declarar.

Travar batalhas? Se arriscar no ministério? Fugir de casa e de Hogwarts? Tudo isso era fácil. Se declarar para a melhor amiga irritante? Impossível.

— Foi uma ótima resposta. - Hermione ria.

— E você? Quais perfumes?

— Grama recém cortada, pergaminhos, e…

— E?

— O único cheiro que sei que continuaria fazendo parte ainda hoje. - Ela tocou os cabelos de Rony, um pouco mais comprido que o normal. Assim como a barba por fazer. A gravidez acabou deixando ele sobrecarregado, já que ela passava mais tempo se debruçando sobre baldes e privada do que com energia para viver.

Ele entendeu a resposta.

Com Rose no colo, sentindo a felicidade de Hermione. Soube que seu perfume também não mudaria. Sempre seria o cabelo de Hermione, a torta de abóbora da Dona Molly e o cheiro de bebê que ficava na casa após o banho de Rose.
Eles estavam ali naquele pequeno detalhe. No perfume que é único. E que não muda.

O perfume do amor.

Nós estávamos nos detalhesOnde histórias criam vida. Descubra agora