E lá vamos nós de novo, senhoras e senhores! Isso mesmo, ainda não acabou! Pra infelicidade de muitos, e … Quase alegria de outros… E já que estamos aqui, vou poupar a maioria dos acontecimentos monótonos de como foi a aula. Pra resumir, nada de muito canônico pra história, aconteceu. Viva! E desse modo, já é hora do Intervalo – Ainda tem uma galera da minha turma que chama de "recreio"...
Eu não costumava sair da sala, apesar de ter um seleto grupo de amigos que sempre me chamava pra ir conversar com eles. Eram o Victor; Um gordinho de cabelo de panela, e risonho, o André; Alto que nem um poste, caladão e tava sempre andando com um casaco de gorro, e ele tinha os cabelos bagunçados, e o Allan; Era um rockeiro muito esquisito, vivia andando com um monte de acessórios de metaleiro, tinha cabelo longo, usava coturno e pintava as unhas de preto, além disso, ele era baixinho igual uma tampinha. Nesse dia, não foi diferente. Eles me chamaram e eu recusei. Como eles não eram insistentes, nem perguntavam o motivo. Isso me poupava de inventar desculpas. E lá eles se foram mais uma vez. O barulho dos alunos arrumando seus materiais e arrastando as carteiras, pra irem pro intervalo, aos poucos cessava, formando um decrescimento de sons ambientes, até que por fim, tudo se aquieta. Só resta um cara. Eu.
Não era tão frustrante quanto parecia, eu só não me considerava tão legal pra estar junto de tanta gente. Sim, eu sou meio inseguro, seu babaca! Mas, fala sério, não é como se eu fosse ter assunto com algum deles!
Eu falei que minha vida não era NADA interessante, não falei?
Mas eu tava inquieto. Pensativo. Mais do que eu costumo ser. Me pego rabiscando uma página em branco aleatória do caderno. Uns traços aqui e outros ali… Eu amo desenhar, sabe? Pintar e essas coisas. A arte me fascina. E aos poucos, uma forma aparecia. Um rosto, com traços um pouco mais suaves e… Sardas! Eu imaginava as cores… Sim! Vermelho! Pintei de caneta mesmo. E vua lá! Eu desenhei a desgraça do moleque de hoje cedo! Da hora, hein! Gado! Não mereço palmas, mereço Tocantins inteiro!
Arrumei minhas coisas e saí da sala também. O sol do lado de fora tostando de tão quente. Uma barulheira dos infernos e o som de uma pirralhada insuportável vindo da frente da escola. Já tava me arrependendo de ter saído. Fui mais adiante, cumprimentando alguns colegas, e alguns funcionários da instituição. Eu estava lá na frente. Me encosto perto de uma parede que tinha marquise, pra me proteger do sol escaldante das dez horas.
Observei ao meu redor. Eu procurava alguma coisa… Alguma coisa não… Alguém! Eu tava procurando ele! Como era mesmo o nome?.. Era Ra… Raru… Rali…
— Raluca! – Isso! Isso aí mesmo, cara hahahh, pera.. Eu conhecia essa voz… — Vamo lá pra fila, vai ter cachorro quente, e suco hoje! Vamo logo, se não a gente perde!!!
— Já vou, já vou! – As vozes deles vinham de dentro do edifício. Estavam descendo as escadas, e as escadas davam direto pra porta da entrada do prédio. E eu tava justamente escorado na parede do lado da porta! Merda! Eles não podem me v----
— A fila tá aumentando, vem lo--!! – Ela olhou direto na minha cara. A empolgação que ela demonstrava pelo cachorro quente, desapareceu na hora… Por que demônios, ela parecia bolada comigo??
— Calma, chegueeee--- !!! – Ele tropeçou com tudo em cima da menina. Cabeçada com cabeçada. Foi um pra cada lado. Me segurei pra não rir.
— Ai, que merda! – Praguejou ela enquanto massageava a testa com uma das mãos. — Tá olhando o quê garoto? Tomar no seu rab--
— Oiê, Guilherme! – gritou Raluca, com a mão na testa também. — Ai, minha cabeça!
— Oi, Raluca! Doeu muito? – Fui ajudá-lo, enquanto a sua amiga me encarava cheia de ódio no coração. Eu fingi que nem era comigo.
— A fila, RALUCA! – esbravejou ela entre os dentes. Ele me olhou com um sorriso radiante, quase ignorando a bronca que a mandona deu.
— Eu… Tenho que ir, né? – Ele estendeu uma das mãos pra me cumprimentar e eu a segurei. Tão macia e quente. Meu coração começou a acelerar de novo, me impedindo de falar qualquer coisa com clareza. – Então… Até logo.
Essa não era bem minha ideia de abordagem ao reencontrá-lo, mas acho que fiz um progresso. Os dois já estavam bem distantes de mim, mas eu sentia como se ele ainda estivesse por perto. Eu nunca senti essas coisas com ninguém antes. Essa parada do coração acelerar, de ficar sem fala e agir feito um idiota também. Parece coisa de alguém que tá apaixonado! Ou de alguém que tá se apaixonando… Mas o pior disso, é que eu nem conhecia ele… Tá, eu não vou ficar me prolongando nisso agora. O que eu queria fazer de verdade, era entender o melhor modo de chamar ele pra conversar. E sem aquela amiga escrota dele estar por perto. Que garota tralha! Do nada querendo farpar comigo, que ideia torta!
Bom, pelo visto, esse dia não seria tão diferente dos outros, afinal. Parece que eu teria que me contentar apenas com um aperto de mão e um sorriso. Eu não sirvo pra essas coisas não, viu…
Fui caminhando até o anexo pra esperar o sinal tocar de novo. Reflexões demais, dúvidas demais…. E… Ele é tão lindo e fofo que…--
— Ei! – Senti um toque sedoso e macio segurando meu braço. Meu peito quase explode. Era o Raluca!
— Oi! De novo, hahah! – falei, tentando agir naturalmente. Ele joga uma mecha de cabelos pra esquerda, balançando a cabeça.
— Eu tava pensando aqui… – O rubor forte preenchia seu rosto. — Você não quer… Ir com.. Ir pro refeitório com a gente? – Sua voz tremia, mas continuava suave e doce como sempre.
— É! S-sim, claro! Eu… Eu ia adorar, Raluca! – Ele sorriu de um canto ao outro com minha resposta. Em seguida, eu o acompanhei até o refeitório, só que a fila realmente tava gigantesca. Admito que até eu fiquei com vontade de comer na escola naquele dia. Pô, é cachorro quente cara! Não era sempre que a gente tinha esses luxos por lá, então, tinha que aproveitar mesmo.
![](https://img.wattpad.com/cover/294843321-288-k555288.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Amor Carmesim
Teen FictionGuilherme é um adolescente sem uma vida muito interessante pra se falar. Como a maioria de outros de sua idade, ele simplesmente existe. Na real, não dá nem pra chamar ele de protagonista, de tão chata que a vida dele é! Mas olha só! Do nada, alguma...