2. Tiradentes

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21 de abril de 2020 [6:40 AM]  BIANCA P.O.V

Entro no hospital enquanto digito freneticamente no celular. Vou andando e tirando a atenção do aparelho eletrônico apenas para não acabar dando de cara com uma parede ou batendo em alguém. Paro na frente do elevador, finalmente guardando o celular na bolsa, aperto o botão que faz as portas de metais se abrirem, permitindo minha entrada.

- Pronta pra começar mais um dia? – Me assusto com uma pessoa animada quase pulando em mim assim que boto meus pés pra fora do elevador.

- Quanta animação. São nem 7 da manhã, pra que isso tudo? – Pergunto começando a caminhar com a enfermeira ao meu lado.

- Fui solicitada pra te ajudar nos primeiros dias, mas não o tempo todo, estarei do outro lado da cidade no fim da tarde, então procure minha ajuda antes disso. – Assim que termina de falar chego na porta da sala dos residentes.

- Agradeço, mas eu nem sei seu nome ainda. – A encaro confusa, segurando a maçaneta da porta.

- Magaly Belut. – Responde começando a andar para outra direção. Observo por alguns segundos a mulher, era mais baixa e mais velha que eu, parecia ser bem esperta e sábia.

Abro a porta e entro na sala, alguns residentes andavam por lá, ajeitando suas roupas e seus instrumentos diários. Outros conversavam em grupos e o restante estava calado, fazendo suas próprias coisas. Vou até meu armário, o abro e coloco minha bolsa dentro. Pego o pijama cirúrgico e vou até o banheiro me trocar, assim que acabo guardo a roupa no armário e começo a ajeitar meus pertences pessoais.

- Eu tô falando, o novato mal dormiu, chegou no hospital parecendo um zumbi. – Ouço uma voz masculina falando do outro lado da sala. – Depois quer ser levado a sério, nem deve ter trabalhado tanto assim e já tá cansado. – Continua e a outra pessoa ri antes de responder.

- Aposto 20 conto que ele vai passar a cirurgia de hoje pra outro médico, não vai dar conta. – Fecho o armário e vou em direção da porta ao mesmo tempo que os dois homens fazem o mesmo, enquanto conversam.

- Fechado. – Apertam as mãos e saem da sala junto comigo, assim que olho pra frente vejo Thiago quase batendo de frente comigo. Os outros dois se cutucam rindo e saem olhando pra Martins que sorria pra mim.

- Ei, Bia! Bom dia. – Retribuo o sorriso.

- Oi, bom dia. – O abraço rapidamente. – Parece animado.

- Estou. Tenho cirurgias marcadas e um ótimo café correndo nas veias. – Coloca as mãos nos bolsos do jaleco e sorri esperançoso. Aperto os lábios antes de formular a pergunta.

- Não está cansado?

- Não. Na verdade, assim que cheguei em casa eu dormi um pouco, mas não consegui continuar por muito tempo, acordei bem cedo, corri no parque, estudei e vim tomar café no hospital mesmo.

- Você correu? – Ele assente. – Não são nem 7 da manhã! – Digo indignada.

- São exatamente 07:06 agora, e eu gosto de começar o dia com energia, dá sempre um gás a mais no trabalho.

- Você gosta de se torturar, isso sim.

- Carrancuda pela manhã?

- Sou gente pela manhã, qualquer ser humano decente precisa de um tempo matinal pra aceitar que o dia começou. – Ele ri antes de me dar um aceno.

- Te vejo por aí, Andrade. – Entra na sala dos residentes e eu vou até o quadro de sobreaviso em um dos corredores. Magaly está ali conversando com algumas pessoas, mas se despede assim que me vê.

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