6. Não Muito Fundo, Não Muito Rápido

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 [7 AM] NARRADOR P.O.V

É normal um residente passar noites em claro dentro de um hospital. Rafa já tinha o sentimento que CHAV era como sua segunda casa. Começou o primeiro ano da residência naquele lugar e era provável que terminasse ali também. Por isso não se importava muito com várias pessoas entrando e saindo da sala dos residentes, enquanto preenche formulários de pacientes dos quais teve que cuidar durante a noite.

A médica, deitada no banco em frente aos armários, achou de uma sorte muito grande o hospital não ter tido muitos pacientes durante e noite. Não que isso tenha diminuído o seu ritmo de trabalho, pois grande parte das vítimas do acidente ferroviário ainda estava internada.

Rafa tinha conseguido dormir pouco mais de duas horas aquela madrugada, mas já tinha sido um alívio. Agora, com bastante cafeína rodando em seu organismo, trabalha com energia que estaria esgotada até o final do turno. No mesmo estado de Rafa, Camila entra na sala com alguns formulários em mãos.

- Aqui, amiga. – Mostra pra pediatra que se senta e ergue a mão pra pegar os formulários. – Esses são os de meia noite pra cá.

- Brigada. – Termina rapidamente de assinar o que acabara de revisar. – Cê entrega esses pra mim quando passar pela recepção? – O entrega para Camila.

- Claro. – Abre e começa a ler. – Vai dar alta pro 514? – Rafa a olha rapidamente, já preenchendo o formulário novo.

- Se ele continuar bem até mais tarde, não tem porque continuar aqui.

- Entendi.

- Tem como voltar com os internos? – Rafa pergunta cansada.

- Mas pode usar eles. – Camila responde confusa. – Só estão proibidos de entrarem em cirurgias.

- É pra cirurgia que eu quero.

- Se conseguir confiar neles... – Camila dá de ombros.

- Não acho que vão aprender se continuarem parados.

- Estão aprendendo uma lição importante pro trabalho deles. Hierarquia serve pra alguma coisa, precisam entender isso. – Rafa concorda com a cabeça e assiste Camila ir até a porta. – Tem algo que quer que eu leve, além desses?

- Eu levo o resto, obrigada. – Sorri pra mulher.

Camila abre a porta para sair ao mesmo tempo em que Marcela abre para entrar.

- Bom dia, doutoras. – Camila deseja vendo Bianca e Marcela entrarem na sala.

- Bom dia, Camila. – As duas respondem.

- Como eu tava dizendo, Bia, se quiser eu posso te emprestar toda a coleção, mas tudo tem seu preço... – Marcela diz, caminhando até seu armário, nem notando que Bianca encarava Rafa.

A pediatra devolve o olhar por alguns segundos, mas volta a deitar no banco e escrever no papel que apoiara em seu joelho erguido.

- E que preço é esse? – Pergunta indo até seu armário.

- Não sei. – Sorri cínica, com o pijama de cirurgia rosa em mãos. – Seja criativa. – Se dirige ao banheiro e fecha a porta atrás de si.

Bianca termina de arrumar seus itens pessoais no armário e pega o jaleco dobrado. Olha pra porta do banheiro, se certificando que estava mesmo fechada, e vai até a colega de trabalho deitada no banco.

- Oi. – Sorri vibrante. Rafa levanta o olhar pra ela, mas não para de escrever.

- Bom dia.

- Você tá bem? – Se senta ao lado das pernas de Kalimann.

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