𝔈𝔠𝔰𝔱𝔞𝔰𝔶

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Eu estava sozinho no escuro, amarrado a aquela gelada cadeira de madeira, eu podia ouvir meu coração e minha respiração. Mas eles não se destacavam tanto quando ao familiar barulho dos sapatos sociais no piso de mármore branco, que logo estaria manchado com o vermelho escarlate, do sangue, o meu sangue.

Naquele cubículo não havia muito só que prender minha atenção, havia apenas uma pequena mesa de metal e alguns instrumentos usados para cirurgias medicinais, que nas mãos dele possuíam outros objetivos. Logo depois que a frenética sequência de passos parou, eu pude ouvir o barulho da chave sendo inserida na porta e ela foi aberta lentamente.

O rugido da porta pesada e velha de madeira no chão faziam com que meus ouvidos doerem, mas nada foi mais marcante do que aquele sorriso, aquele amaldiçoado sorriso, que assombrava as minhas noites mais difíceis.

Os olhos dele brilhavam de forma perigosa no escuro, que logo foi quebrado pela fraca luz que ficava pendurada acima da minha cadeira, a luz amarelada deixava o clima mais pesado e para completar aquele espetáculo de horrores eu podia ouvir o barulho dele afiando aquele bisturi com gosto.

Eu sabia o que iria começar, eu sabia que ele só ficaria satisfeito se eu implorasse por misericórdia, se eu gritasse para que aquilo acabasse se eu me mostrasse tão miserável quanto ele gostaria que eu me sentisse.

Mas dessa vez foi diferente ele deixou o bisturi de lado, colocou aquelas luvas de silicone que fizeram um estalo ao entrarem em suas mãos, ele as pressionou contra minha garganta me causando agonia e aquele imenso esforço para resgatar um pouco de ar, eu procurava nem que fosse a mínima brecha para respirar mas eu não conseguia.

Eu comecei a me debater a procura de me salvar, mas nada que eu fizesse adiantava, eu não sabia mais o que fazer então apenas veio a minha mente desistir, deixar com que ele terminasse o seu trabalho, era melhor eu me entregar a ele, me entregar aquele homem horrível que era Sou Hiyori.

-Shin!- Eu me levantei em susto, meu coração disparando em meu peito e minhas roupas ensopadas, eu podia sentir os meus fios de cabelo prendendo em minha testa. O grito que me despertou foi da Kanna, que me olhava preocupada ao lado da minha cama enquanto segurava uma montanha de travesseiros e o meu laptop.

-Kanna.... O que aconteceu?- Eu perguntei enquanto me recuperava do choque que foi aquele sonho, eu toquei a minha garganta como se procurasse algum traço de que aquilo foi real.

-Você dormiu enquanto jogava LOL e o computador caiu em cima da sua garganta, você começou a sufocar igual ao um porco enquanto dormia, aí eu te salvei.- Ela disse isso como se fosse uma super heroína que tivesse acabado de sair de salvar uma criança de um desastre.

-Ah... Quantas horas?- Eu perguntei enquanto esfregava minha garganta com a palma das mãos, eu ainda podia sentir o gosto amargo da minha própria saliva que havia ficado preso na minha boca.

-São 5 da manhã, aliás Sou! Feliz véspera de Natal!- Ela disse e saiu animadamente do meu quarto enquanto largou tudo no chão e saiu saltitante.

Ah, é verdade, é véspera de Natal e eu tenho planos! Primeiro vou levar a Kanna para pendurar pequenas flores bordadas com algum tecido tingido com glitter dourado por toda a cidade, depois eu iria levar ela ao Woops Bakeshop, eu já havia feito uma reserva lá então não haveria problemas para nós chegarmos até lá e por último eu levaria a Kanna para almoçar no L’Amico, porque eu sei como ela adora comida italiana.

Depois disso eu a devolveria para a Kugie e não veria a Kanna até a volta as aulas, isso me deixava um pouco desanimado, mas era o que eu podia fazer, para deixá-la feliz, enfim, não posso deixar com que meus pensamentos inconvenientes e miseráveis estraguem o dia da Kanna.

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