Adorável (Luiric/Polipa/Joento)

2 temporada:Os traumas de Luigi

Mais um capítulo cheinho de gatilhos para vocês.

Pâmela:Claro, desde que não envolva algum crime que você esteve envolvido.
Luigi:Então se eu contar algum tipo de crime cometido por mim ou alguém próximo, vai contar para a polícia?-pergunto um pouco nervoso.
Pâmela: Dependendo da gravidade, só se a polícia me procurar.
Luigi:Entendi. Depois que ele me colocou no carro, começou a dirigir e me disse o que tinha que falar no depoimento.-digo retomando o que estava contando. Ele inventou uma história mirabolante, quando me entregou para a polícia, contei para eles o combinado. Acho que a única coisa boa de tudo isso, é que depois de voltar para a cidade, comecei a ir na psicóloga Aline, mas o foco era mais em tudo que ocorreu durante o desaparecimento. Mas honestamente, penso que preciso de ajuda psiquiátrica desde 2017.
Pâmela:Por que acha isso?-pergunta cruzando as pernas.
Luigi:Foi quando minha vida mudou para pior, culpa do Leonardo Dieckmann!-digo com um pouco de rancor em minha voz quando pronuncio o nome dele.
Pâmela:Poderia explicar melhor?
Luigi:Nunca fui uma pessoa muito popular, mas os poucos amigos que eu tinha, pararam de falar comigo, após Leonardo contar um segredo meu para todos.-digo olhando para baixo, deixando algumas lágrimas caírem dos meus olhos.
Pâmela:Esse segredo era algo grave?
Luigi:Pelo visto, para a sociedade sim.-limpo minhas lágrimas. O segredo era que eu sou gostava dele, mas não era uma simples paixão. Para mim, Leonardo era bonito, charmoso, apesar das brincadeiras que ele fazia com todo mundo, achava ele incrível. Observava ele todo tempo, sempre querendo me aproximar, mas sempre tive medo dele. Por incrível que pareça, foi ele que se aproximou de mim, nunca esquecerei daquele dia, fiquei tão animado.-digo a última parte já enchendo meus olhos de lágrimas novamente.
__________________________________
Estava saindo da sala de aula, me direcionando para o corredor, já que a aula já havia acabado, quando escutei ele me chamar.

Leonardo:Ei Luigi, me espera!-grita correndo em minha direção.
Luigi:Oi, pode falar.-digo virando para trás, ficando de frente para ele.
Leonardo:Queria saber se você entendeu o novo conteúdo de química. Não entendi nada, estava meio distraído quando o professor começou a explicação. Você é um dos meninos mais inteligentes da sala, então pensei em você.
Luigi:Entendi sim, posso te explicar tudo se quiser, mas daqui à pouco minha mãe já vai chegar.
Leonardo:Então posso passar na sua casa, só me passa o endereço.
Luigi:Claro, pode ir.-sorrio com um pouco de timidez.
Leonardo:Que bom. Me manda seu endereço por whatsapp, daí combinamos o horário e tudo mais.

Assim que cheguei em casa, arrumei todo o meu quarto, meu pai até estranhou um pouco, e tivemos uma conversa muito esquisita.

Sérgio:Que milagre é esse?! Está arrumando essa baderna.-diz em tom de brincadeira, olhando da porta.
Luigi:É porquê vai vir uma pessoa da escola aqui. A mãe sempre diz que quando vem visita, a casa precisar estar arrumada.
Sérgio:Só para saber, é um amigo, ou uma amiga que vai vir aqui?
Luigi:É um menino, mas não somos exatamente amigos, ainda.
Sérgio:Filho, às vezes fico preocupado com isso.-diz adentrando o quarto. Quando eu tinha sua idade, já tinha algumas namoradinhas.-diz sentando na minha cama. Tem alguma menina da escola que você ache bonita?
Luigi:É...tem, a Jéssica, ela é muito bonita.-minto, um pouco nervoso.

Ele suspirou de alívio quando menti que achava uma colega bonita, mudamos de assunto e fomos em uma padaria que fica perto da minha casa. Na volta, um casal gay passou por nós com uma criança, achei fofo, mas meu pai nem tanto.

Sérgio:Que absurdo!Dois gays com uma criança!Não gosto nem de imaginar o tipo de coisa que vão ensinar para ela.-diz olhando para o casal.

Percebi que não seria fácil contar à ele, mas na hora, só concordei com o que falou, estava mais focado e ansioso para a hora do Leonardo chegar na minha casa.Depois de um tempo, meus pais foram para o trabalho e meu irmão para a escola, a casa finalmente estava vazia.
Fui para a cozinha, peguei algumas coisas para comermos durante a aula, levei tudo para o meu quarto. A campainha tocou, fui correndo atender, abri a porta e já era o Leonardo, que me cumprimentou e já entrou na minha casa, fechei a porta e caminhei para o meu quarto.
Luigi:Me segue, vamos estudar no meu quarto.-digo caminhando em direção ao meu quarto.
Leonardo:Tá bom.-diz começando a me seguir.
Luigi:Achei meio estranho quando você me chamou hoje cedo.-digo entrando no cômodo.
Leonardo:Já te expliquei.-diz entrando e fechando a porta.
Luigi:Sim, mas e o Eric? Vocês são praticamente irmãos.-digo sentando na cama.
Leonardo:Ele também tava distraído mexendo no celular.-diz sentando na cama.
Luigi:E você namorando a Yasmim.-digo dando um sorriso debochado.
Leonardo:Vamos começar a estudar?-pergunta meio envergonhado.
Luigi:Claro.-digo abrindo meu caderno de química. Desculpa ter me intrometido.
Leonardo:Não foi nada, nem precisa se desculpar. Posso abrir esse pacote de bolacha?
Luigi:Claro.
Leonardo:É uma das minhas favoritas.-diz abrindo o pacote de bolacha.
Luigi:Eu sei, já te vi comendo algumas vezes.
Leonardo:Bem que eu desconfiava que você me observava.
Luigi:O que?!-Não foi isso que eu quis dizer.-digo constrangido.
Leonardo:Eu sei, só estava brincando.-diz dando algumas risadinhas. Você me deixou envergonhado, agora fiz o mesmo.

Começamos a aula, quando terminamos já era o fim da tarde, logo meu irmão já chegaria da escola. Acompanhei ele até a porta da sala, aproveitei o momento e cometi um dos maiores erros da minha vida. Me declarei, confiei nele e ele quebrou toda a confiança depositada. No dia seguinte, todos sabiam, os poucos amigos que tinha, pararam de falar comigo, porquê segundo eles, se continuassem andando comigo, poderiam achar que eles eram gays também.
Além disso, começou a perseguição contra mim, Leonardo e Eric, eram os que mais me humilhavam. O bullying durou mais de um ano, eu tinha medo de falar com alguma autoridade da escola e acabar piorando tudo. As coisas pioraram quando um menino novo entrou na turma, o Hugo, iniciou a ser três fazendo bullying comigo, se quando eram dois não conseguia me defender, imagina com mais um?Me sentia culpado por tudo que estava acontecendo, então iniciei à me automutilar.
__________________________________
Pâmela:E atualmente, como está toda essa situação na escola?
Luigi:Bem melhor, não sofro mais bullying.-digo dando um pequeno sorriso. Parei com as mutilações desde janeiro, mas ainda tenho algumas cicatrizes bem rasas.
Pâmela:E o seu relacionamento com seu pai, como ele reagiu quando soube da sua sexualidade, ou ele não sabe?
Luigi:Ele sabe, quando tive coragem de denunciar o bullying que sofria, contei para a coordenadora e ela chamou minha mãe e o pai do Eric.
Pâmela:E os outros dois garotos?
Luigi:Denunciei somente o Eric, ele abaixou minha calça no corredor lotado de alunos. O Hugo tinha faltado naquele dia, senão me engano. E o Leonardo já não frequentava a escola. Continuando...quando saímos da reunião, minha mãe me abraçou e disse que continua me amando, ela se sentiu um pouco culpada de não ter percebido o bullying que sofria. Quando chegamos em casa, fui direto para meu quarto, minha mãe contou ao meu pai e ouvi ele culpando ela de eu ser gay e também que o bullying era algo normal. O pior de tudo é que meu pai saiu de casa com meu irmão, porquê segundo ele, achou que eu iria influenciá-lo de alguma maneira. Meu pai e meu irmão voltaram para casa esse ano, parece que ele mudou, mas não tenho certeza.
Pâmela:Por que a dúvida?Quanto tempo faz que ele havia saído de casa com seu irmão?
Luigi:Ele saiu lá por novembro.
Pâmela:Então, se passou muito tempo, ele pode ter aprendido mais sobre a questão da sexualidade.
Luigi:Quando Eric e eu namoramos, ele foi contra, disse que era por causa que ele fazia bullying comigo, minha mãe falou a mesma coisa.
Pâmela:Você e o Eric namoraram?-pergunta um pouco surpresa.
Luigi:Namoramos recentemente, mas não tenho síndrome de Estocolmo, eu acho. Ele mudou muito, talvez nem tanto já que ele me traiu.-digo ficando um pouco triste. A pior coisa da traição é que parece que tudo que ele me falava durante nossa relação, era mentira. Tem um amigo meu, o Bento, que é muito bonito, durante meu relacionamento com o Eric, sempre me comparava com ele, Eric dizia que era besteira, e no final me traiu com ele.
Pâmela:E por que se comparava com seu amigo?
Luigi:Ele é incrível, bonito, bem resolvido, parece um anjo. Já eu sou o oposto.
Pâmela:Não podemos nos comparar aos outros, todos temos nossa própria beleza, seja externa ou interna.
Luigi:Fica difícil acreditar nisso depois de todo bullying que sofri, não foi só por ser gay, também pela minha aparência.
Pâmela:Sei que em algum momento enxergará sua beleza.-sorri. O que mais está lhe perturbando atualmente?
Luigi:Tive um pesadelo em que o abuso acontecia novamente, a decepção com o Eric e a condição financeira da minha família que pelo visto vai piorar.
Pâmela:Esse pesadelo que você teve, tudo que aconteceu nele, tem noção de que nada foi real?
Luigi:Tenho, não sou esquizofrênico, pelo menos não fui diagnosticado. Só fui diagnosticado com ansiedade, depressão e síndrome do pânico.
Pâmela:E a quanto tempo teve a última crise de ansiedade e de pânico?
Luigi:De ansiedade não lembro a data específica, porém sei que foi ainda esse ano. Geralmente tenho quando lembro do abuso ou algo relacionado ao desaparecimento. Também tinha ataques de pânico quando estava em locais com muita gente, mas também faz tempo que não tenho.
Pâmela:Que bom, não é?
Luigi:É...mas também faz tempo que não fico em lugar lotado de pessoas, deve ser por isso.
Pâmela:A nossa primeira consulta chegou ao fim.-diz olhando para o seu relógio de pulso e levantando da cadeira em que estava sentada.
Luigi:Que horas são?-pergunto levantando da cadeira.
Pâmela:Quase 16 horas, só precisamos organizar a sua agenda a partir de hoje, e você já poderá lanchar e ir para casa.-diz enquanto passamos pela porta. Gostou da sua primeira consulta?