Prólogo

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Buenos Aires, Argentina23 de Março de 2021

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Buenos Aires, Argentina
23 de Março de 2021

Morena rodopiava sobre o piso de madeira, sentindo no rosto o frescor da brisa provocada por seus próprios movimentos. Percebia o sol, que entrava discretamente pela janela da sala, iluminando e aquecendo timidamente diferentes partes de seu corpo à medida que ela ia se movimentando por diferentes pontos do cômodo.

"Coupé, brisé, jeté... pirouette."

Girava o corpo em seu próprio eixo, na ponta da sapatilha, um sorriso no rosto que apenas transparecia o quanto ela amava estar ali e fazer o que fazia, mesmo sendo somente mais um dia de treino.

A mente da bailarina contava em silêncio "5, 6, 7 e 8" a cada execução, mas o fazia de forma tão natural, que Morena não se ocupava em pensar no tempo de cada passo. Apenas sentia a música e deixava seu corpo se movimentar no ritmo.

– Ótimo, More! – Exclamou sua professora ao fim do solo – Só precisa trabalhar mais nessas expressões faciais. Está dançando 'A Sinfonia da Despedida' com o sorriso de quem dança a 'Ode à alegria'.

Brincou, usando um controle remoto para desligar o som.

– Certo – A bailarina sorriu, timidamente – Vamos mais uma? Vou me concentrar mais nisso.

– Por hoje é só, querida. Já passam das seis e você sabe que tenho medo de que você volte caminhando sozinha depois de escurecer. Ainda mais que hoje é sábado e o movimento nas ruas diminui.

A professora – que era também dona do estúdio de dança – disse, lamentando por ver quanta vontade de melhorar a garota expressava, mas preocupada com o fato de que ela voltava sempre a pé para a casa, em um dos pontos mais perigosos da cidade.

– Tudo bem! – Morena deu de ombros, ainda sorrindo – Retomamos na segunda.

– Até segunda!

As duas se despediram e a jovem reuniu seus pertences para partir.

Vestiu apenas uma calça por cima do collant e da meia-calça, calçou um tênis no lugar da sapatilha e um casaco para se proteger do frio que fazia na cidade argentina neste dia.

Com a mochila nas costas e os fones de ouvido reproduzindo suas canções favoritas, a bailarina esperou no ponto de ônibus até que se aproximasse o colectivo que a levaria até seu bairro.

Durante o percurso, com cada uma das músicas que ouvia recostada na janela do veículo, dançava mentalmente, montando coreografias em sua cabeça.

"5, 6, 7 e 8... Balloné sauté, tombé. Agora um pas de bourrée glissade. 5, 6, 7, 8 saut d'ange e termina em arabesque."

Os nomes dos passos de balé, tão conhecidos por Morena, pareciam ser o mais próximo possível que uma jovem como ela um dia chegaria de ter contato com a língua francesa.

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