Cecília
"O sol da Toscana pode sanar a sua tristeza. O problema é que eu vim no outono."Acordo em decorrência do miado incessante de Poeira, em sua gaiola para gatos. Além disso, consigo sentir uma mão me cutucando, de forma bem desagradável, fortificando o trabalho do meu gato. Poderia afirmar, com toda a certeza, que se tratava de uma criança de cinco anos. Isso se não houvesse aberto os olhos e encontrado Matteo me encarando, fixamente.
Evito comentar sobre como caí no sono em seu ombro, esperando, genuinamente, que ele deixe isso passar também. É apenas uma reação natural do sono. Meu corpo apenas buscou por alguma superfície para se apoiar, pois estava cansado. Nada de mais.
— Finalmente, estava na hora. Juro, nunca vi ninguém dormir em um assento da econômica, com a mesma paz de uma king size. Essas merdas são minúsculas! Mas, talvez, o seu conforto possua alguma relação com você ficar se esfregando em mim? — É, ele não deixaria passar.
Endireito a postura, enquanto encaixava os meus óculos tortos.
— Nos seus sonhos que eu encostaria em você, por vontade própria. E possivelmente, só adquiri esse dom, devido a urgente necessidade de hibernar, para não escutar você reclamando. Matteo, siga o meu conselho e procure logo aquelas agentes do livro dos recordes. Quatorze horas ininterruptas, de reclamações. Acho, que ninguém conseguiu esse marco antes.
— Esse é o ápice do seu humor, Cecília?— Zombou, sarcasticamente.
— Sabe, já que odeia, tanto assim, conviver com os pobres, poderia ter feito um upgrade, nas passagens dadas pela universidade. Assim, você nos pouparia algumas horas de convivência forçada.
— Pimentinha, pare um pouco de pensar e babar em mim. Aí então, note que acabamos de pousar.
Ignoro o sentimento de vergonha, ao perceber a enorme mancha que formou em sua blusa. Olho para o lado, ficando sem palavras.
Até então, tudo o que eu conseguia ver era chão, concreto, árvores peladas ao fundo e um céu extremamente cinza. Todavia, era um céu italiano.
Gostaria de contar para a garotinha, de treze anos, que a sua prática na lei da atração havia gerado resultados. Ela, provavelmente, riria da minha cara — no fundo, sempre fora cética — continuando a sonhar, através de suas foto-colagens de paisagens florencianas.
Poeira mia, mais uma vez, buscando chamar a minha atenção.
— Você deveria ensinar essa coisa a ficar quieta. — Falou uma mãe, que sentara atrás de nós. Seu inglês era encorpado e aparentava ser de origem britânica.
— Pedimos o mesmo, em relação a sua coisa. — Rebate, Matteo, antes que eu tivesse a chance.
O calor no estômago ao ver ele defendendo o meu animal, aplaca a minha revolta. Porém, ele deve ser muito ligado à causa animal, apenas.
— Como ousa, é do meu filho que você está falando. — Retruca, aquela bruaca.
— E é do meu que você falou. — Digo.
— Isso aí é somente um animal. Bernardo, é um gentleman.
— Esse animal, se manteve quieto o voo inteiro. Impossível afirmar o mesmo sobre Sir Bernardo. Devo acreditar, que a senhora não vem dando uma educação, digna da realeza, para ele. Estou certo? — Argumenta Matteo, apontando para o neném no colo da maluca. Sinto pena da criança, não tem culpa de ter essa mãe. Porém, não consigo controlar o sorriso de satisfação, ao ver aquela madame pegar suas malas com pressa, saindo indignada do avião.
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Minha Tese Sobre Você
Roman d'amourCecília está desesperada! Ou, talvez, ferrada seja uma forma melhor para explicar a situação dessa menina. Após o namorado a trocar por sua melhor amiga de infância, Cecília se encontra completamente surtada. No auge do sofrimento, a única coisa ca...