Capítulo Três

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Cecília
"O sol da Toscana pode sanar a sua tristeza. O problema é que eu vim no outono."

Acordo em decorrência do miado incessante de Poeira, em sua gaiola para gatos. Além disso, consigo sentir uma mão me cutucando, de forma bem desagradável, fortificando o trabalho do meu gato. Poderia afirmar, com toda a certeza, que se tratava de uma criança de cinco anos. Isso se não houvesse aberto os olhos e encontrado Matteo me encarando, fixamente.

Evito comentar sobre como caí no sono em seu ombro, esperando, genuinamente, que ele deixe isso passar também. É apenas uma reação natural do sono. Meu corpo apenas buscou por alguma superfície para se apoiar, pois estava cansado. Nada de mais.

— Finalmente, estava na hora. Juro, nunca vi ninguém dormir em um assento da econômica, com a mesma paz de uma king size. Essas merdas são minúsculas! Mas, talvez, o seu conforto possua alguma relação com você ficar se esfregando em mim? — É, ele não deixaria passar.

Endireito a postura, enquanto encaixava os meus óculos tortos.

— Nos seus sonhos que eu encostaria em você, por vontade própria. E possivelmente, só adquiri esse dom, devido a urgente necessidade de hibernar, para não escutar você reclamando. Matteo, siga o meu conselho e procure logo aquelas agentes do livro dos recordes. Quatorze horas ininterruptas, de reclamações. Acho, que ninguém conseguiu esse marco antes.

— Esse é o ápice do seu humor, Cecília?— Zombou, sarcasticamente.

— Sabe, já que odeia, tanto assim, conviver com os pobres, poderia ter feito um upgrade, nas passagens dadas pela universidade. Assim, você nos pouparia algumas horas de convivência forçada.

— Pimentinha, pare um pouco de pensar e babar em mim. Aí então, note que acabamos de pousar.

Ignoro o sentimento de vergonha, ao perceber a enorme mancha que formou em sua blusa. Olho para o lado, ficando sem palavras.

Até então, tudo o que eu conseguia ver era chão, concreto, árvores peladas ao fundo e um céu extremamente cinza. Todavia, era um céu italiano.

Gostaria de contar para a garotinha, de treze anos, que a sua prática na lei da atração havia gerado resultados. Ela, provavelmente, riria da minha cara — no fundo, sempre fora cética — continuando a sonhar, através de suas foto-colagens de paisagens florencianas.

Poeira mia, mais uma vez, buscando chamar a minha atenção.

— Você deveria ensinar essa coisa a ficar quieta. — Falou uma mãe, que sentara atrás de nós. Seu inglês era encorpado e aparentava ser de origem britânica.

— Pedimos o mesmo, em relação a sua coisa. — Rebate, Matteo, antes que eu tivesse a chance.

O calor no estômago ao ver ele defendendo o meu animal, aplaca a minha revolta. Porém, ele deve ser muito ligado à causa animal, apenas.

— Como ousa, é do meu filho que você está falando. — Retruca, aquela bruaca.

— E é do meu que você falou. — Digo.

— Isso aí é somente um animal. Bernardo, é um gentleman.

— Esse animal, se manteve quieto o voo inteiro. Impossível afirmar o mesmo sobre Sir Bernardo. Devo acreditar, que a senhora não vem dando uma educação, digna da realeza, para ele. Estou certo? — Argumenta Matteo, apontando para o neném no colo da maluca. Sinto pena da criança, não tem culpa de ter essa mãe. Porém, não consigo controlar o sorriso de satisfação, ao ver aquela madame pegar suas malas com pressa, saindo indignada do avião.

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⏰ Última atualização: Dec 22, 2021 ⏰

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