"Fomos enviados até às minas de ferro, onde fomos divididos em dois grupos, homens como eu, que sabiam lidar com as mãos foram conduzidos até uma oficina escura e mal cheirosa, haviam manchas de sangue pelo chão e uma expressão vazia nos rostos, as mãos trabalhavam insistentemente em construir peças de armadura, todas simples, porém bem modeladas. O outro grupo eram de pessoas sem habilidades específicas, essas pessoas foram conduzidas mais para dentro, onde havia uma porta que dava acesso ao núcleo da montanha."
A princípio aquilo parecia uma oficina comum, o som dos metais sendo moldados no entanto era ritmado e triste, como um grande coração, o som se parecia com um grande animal de movendo a passos vagarosos, os pés se arrastavam em uníssono, e cada vez mais a cadência daquele som impregnava na mente dos trabalhadores.
Aos poucos os olhos dos homens perderam o seu brilho, os rostos se tornaram murchos e a pele cinzenta pela falta de luz solar, a barba do Ferreiro se tornou um emaranhado de fios, o seu único pensamento fixo era produzir mais e mais, suas mãos tremiam enquanto tentava manter a firmeza, os olhos lacrimejavam, a fome e a tristeza aumentavam conforme as refeições se tornavam escassas, até que um dia seu corpo cedeu ao cansaço e ele caiu de joelhos perante a mesa, as mãos esfoladas viradas para cima, seus olhos, a muito apagados fitavam sem emoção as próprias feridas.
Voce será levado para as minas, junto com os doentes e feridos- a voz de um guarda soou próximo a entrada da caverna.
A porta foi aberta e ao longe, na boca da caverna haviam pequenos pontos de luz, os atoches eram raros, o Ferreiro foi conduzido cada vez mais ao fundo, e foi deixado lá, sozinho no escuro, com uma picareta.
Com o passar dos dias a sua sanidade foi retomada, talvez pela falta de oxigênio, talvez pela ausência do barulho da oficina, aos poucos, lentamente a mente foi retomando raciocínio, foi quando ele começou a cavar, havia algo de errado ali e ele precisaria de algo cortante e afiado, sem fogo próximo sua única opção era amolar uma pedra contra a picareta.
"Foi algo bem primitivo da minha parte, eu poderia ter só jogado o óleo das tochas pelo chão e acendido, pensando melhor, teria sido melhor"
Você não liga de matar outros que estavam na mesma situação que você?
"Algumas vezes meu amigo, você precisa decidir se se mantém vivo, ou se mantém a honra, eu gosto de viver".
Gostava
"Gosto, tecnicamente eu sou imortal".
Você morreu, em algum momento você morreu.
"Eu sou imortal, eu não sou imorrivel, pelo menos permaneço existindo"
Tudo bem, continue com seu relato, senhor imorrível.
"Me preparei o melhor que pude, afiei a pedra com golpes da picareta, a princípio fingindo que golpeava a terra, até encontrar no interior da rocha uma pedra negra, que parecia muito mais duro do que a picareta a princípio, mas ao tentar remover da terra, percebi que era um material flexível, que endurecia quando recebia algum golpe, não rachava com o impacto, sua textura lembrava muito a de um peixe, ou de um réptil, até que ele me encontrou"
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além das sombras
FantasyDe todos os 12 espíritos que me guiaram até aqui, o mais silencioso e resoluto deles sem dúvida é o grande Ferreiro da Terra das Sombras. Decidido, silencioso e forte, tão forte quanto suas batidas eram nos lingotes de aço, conhecedor das dores e d...