O VESTIDO DE NOIVA

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Nazli

A cerimônia de casamento tinha terminado há algumas horas e ela se sentia uma palhaça lutando inutilmente para abrir a fileira de botões que fechavam o traje.

- Me atenda, Fatosh! Me atenda!- tentava falar com a amiga para que ela a ajudasse. Como responsável pela confecção do modelo, ela que desse a solução! Ou não se responsabilizaria pelos seus atos quando se encontrassem.

Agora entendia a resposta cínica da amiga ao questionar sobre como faria mais tarde:

- 'Deve ser pra isso que servem os maridos... dê uma chance ao homem, amiga! '

Só não a estrangulara na hora porque não tinha tempo a perder.

O acidente na câmara fria quase estragara tudo. Não entendia como tinha acabado presa no freezer da peixaria. Se não fosse por Deniz...

Um calafrio a percorreu. Seu corpo parecia estar reagindo agora ao acidente. Pra completar, a barriga vazia deu sinal. Tensa pelos acontecimentos do dia, mal engolira um canapé durante o coquetel, ou bebericara da taça do champanhe servido no brinde nupcial. Precisava se hidratar e comer algo substancial, depois decidiria o que fazer para sair daquela prisão disfarçada. Pegou o celular e desceu.

Preparava um sanduíche quando Ferit entrou na cozinha. Vendo-a com a mesma roupa, ironizou:

- Parece que você gostou mesmo desse vestido!

Revirando os olhos, respondeu ácida:

- Adorei! Vou ficar com ele por uma semana!

Seria tão difícil pedir ajuda se ele fosse outra pessoa? Ela ainda lutava com o orgulho quando o viu saindo tranquilamente, após pegar uma bebida.

- Ferit! – ele estacou na porta- você já vai?

-Eu não gosto de pasta de amendoim, Nazli...e tem um livro muito interessante me esperando lá em cima.

Sério? Sua raiva cresceu, mas, ciente da própria situação, desabafou:

- Eu estou presa nessa droga de vestido, Ferit! Esses botões são pequenos demais, eu não alcanço as casas, elas parecem muito apertadas, estou há horas tentando e... nada!- fez uma pausa para respirar e voltou à carga- Eu simplesmente não consigo tirar essa porcaria!

O olhar de deboche brilhou no rosto dele.

- E? Você está mesmo me pedindo ajuda?

- Infelizmente. - resmungou.

- O quê?- ele a provocava descaradamente. Controlou a raiva, pediu:

- Por favor, Ferit... você pode me ajudar?

Ele disfarçou uma risadinha e se aproximou, fingindo solicitude.

- Claro, claro!- fazendo a volta, analisava o caso como se estivesse prestes a desarmar uma bomba.

- É... a situação parece tensa- aproximando o corpo, brincou- já abri muitos por aí, mas nada que se comparasse a isso.

- Você pode resolver a questão sem tecer comentários, por favor? - sua mão passava a pasta mais nervosamente no pão. Por que ele tinha tanto prazer em irritá-la?

A mão pesada pousou em suas costas. A outra já começara a afrouxar as casas.

- Posso comer enquanto você faz isso?

Ele colou a boca em seu ouvido pra responder:

- Com certeza! Isso aqui vai demorar!

Mordeu o pão, descontando a raiva.

Algum tempo depois, sua paciência tinha se esgotado. Nem tanto pela demora no processo, mas pela forma como ele a prendia pela cintura e pelo toque dos dedos em sua pele cada vez que um botão era aberto.

- Vai demorar?

Ele se deteve antes der responder.

- Esse serviço é complicado. Que nem você...

Não. Ele não dissera aquilo. Puxou o corpo tentando se afastar.

- Quer saber? Acho que vou ficar assim pra sempre! Pelo menos não vou ter mais que me preocupar com o que devo vestir pela manhã!

Empurrou o quadril para trás, tentando criar um espaço entre eles. O gesto teve efeito contrário. Ele desequilibrou-se e, para não cair, prendeu-a contra o balcão. O peito largo colou-se em suas costas. A respiração forte soprava sua nuca. Alguns segundos se passaram antes que ele se afastasse. Sentiu-se novamente presa. A mão grande pressionando a curva da cintura.

- Ferit! Deixa...

- Quieta, Nazli!- havia irritação na voz dele.

Achou melhor obedecer. Alguns segundos depois, o último botão foi aberto.

- Até que em fim! – ele exclamou, aliviado. – sinceramente, eu não aguentava mais!

Ressentiu-se. Ele se incomodara tanto por simplesmente tocá-la?

- Sinto muito tê-lo forçado a essa tarefa tão desagradável.

Seu olhar demonstrava mágoa. Estava cansada demais para persistir na pose defensiva. Se ele percebesse, azar.

- Eu... te devo um favor, Ferit. Pode cobrar quando quiser. Agora, com licença. Eu vou me livrar dessa roupa.

- Nazli!

O tom era quente. E tenso. Ela se recusava a encará-lo. Seus olhos estavam cheios de lágrimas. Manteve-se parada, mesmo quando o rumor de passos denunciou que ele se aproximava. Engoliu seco quando as mãos espalmaram novamente sua cintura.

- Nazli, olha pra mim.

- Melhor não.

- Nazli...- ele girou-a entre os braços, colocando de frente para o próprio corpo. Colhendo a lágrima que insistia em escapar de seu olho, Ferit assumiu:

- Você acha que é fácil pra mim?

- Eu não sei do que você está falando.

- Ah, sabe...sabe, sim.- e beijou-a com desejo e fome.

A boca de Ferit era quente e doce. Um gemido fraco escapou de seus lábios, enquanto a mão grande deslizava pelo vão livre da abertura em suas costas.

Suas mãos subiram até a nuca dele, acariciando os cabelos macios. Percebeu a pegada firme em um seio, prendendo-o. Reclinou a cabeça dando a ele acesso ao seu pescoço. A barba macia encontrou o caminho livre, o toque dos pelos enlouquecendo-a.

- Ferit!

- Sim...- entre beijos e carícias, ele sussurrou uma confissão- você sabe eue eu quero tirar esse vestido e te beijar inteira, não sabe? E você também quer isso.

Ela sentia-se fraquejar. A voz rascante eu seu ouvido era um farol no nevoeiro do desejo que a consumia. Sentiu o corpo pressionado contra o balcão frio. Ferit fez com que o enlaçasse pelo quadril com uma das pernas. Ele fazia movimentos suaves de vai-e-vém, cada impulso aumentava mais a vontade de se renderem à paixão .

- Sim, Ferit. Eu quero!

Estava totalmente perdida no momento quando ouviu o som estridente do celular.

'Não agora Fatosh!'

Espraguejou mentalmente, antes de encarar o aparelho. Deixara-o sobre a bancada enquanto preparava o lanche, de modo que avistasse a tela. No visor, um nome se destacava no fundo azulado.

A ausência total de movimentos indicava que Ferit também tinha lido: Deniz.

Levou menos de um segundo para que Ferit se virasse enfurecido e saísse, deixando-a sozinha na cozinha.

Imagine DolunayOnde histórias criam vida. Descubra agora