"Now I've found a real love
You'll never fool me again"
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Acontece que Gael era um cara muito agradável. Com 28 anos ele já tinha pós-graduação em Engenharia da Computação e conseguiu uma vaga em uma rede de empresas nos Estados Unidos para atuar como engenheiro de software, o salário era excelente e ficaria muito bom no currículo.
Ele estava triste por que a família não enxergava a oportunidade que ele estava recebendo e tinha que dar uma resposta definitiva em três dias. Estava muito tentado a aceitar, mas estava receoso dos pais não quererem mais saber dele.
— Quando me mudei para Miami minha mãe passou três meses sem falar comigo. É claro que ela sabia como eu estava por que meu pai me ligava com frequência, mas ela não aceitava que eu tinha passado por cima da vontade dela e me mudado para outro país.
— Você falou que sua irmã não conseguiu vir da Holanda, ela foi visitar?
— Na verdade, ela mora em Amsterdã já tem quase três anos. Trabalha como decoradora, tanto de festas, como de imóveis, enfim, decoração em geral. É minha irmã mais velha, e quando ela se mudou, minha mãe passou uma semana doente.
— Pelo visto ela não lida muito bem com isso.
— Ela é uma mulher conservadora. Queria que as filhas morassem perto e se casassem logo. — lembrei do que ela tinha falado mais cedo e comecei a sentir um pouco de mágoa — Ela disse que a minha prima foi mais inteligente do que eu por que conseguiu que o Rui pedisse ela em casamento.
— Espera aí. Sua mãe não demonstra o mínimo de orgulho por você ter um apartamento foda em Miami, e ter uma ótima carreira, mas parabenizou sua prima por trepar com o seu ex?
— Enfim, essa é minha mãe. Para ela uma mulher não teve sucesso na vida se não se casou ou teve filho antes dos 25.
— Acho que nós dois precisamos nem que seja de uma garrafa de vinho.
Ele esperou enquanto o garçom deixava nossa pizza na mesa e pediu o vinho. Meu celular apitou indicando mais uma mensagem, já estava revirando os olhos achando que era mais uma mensagem da minha mãe, mas era a Carol.
Pedi licença para o Gael e fui até o lado de fora para ligar para a minha irmã.
— E aí? Namorado misterioso é namorado falso?
— O namorado é o Rui.
— Como é? Que tipo de brincadeira é essa?
— Não é brincadeira, longa história e mandei eles irem se foder.
— Por que eu não fui para esse natal, Helena você tá bem? Sério, se eu estivesse aí pularia no pescoço do Rui e arranharia a cara dele.
Comecei a contar toda a história enquanto a minha irmã mudava sua expressão da raiva, para a diversão pelas minhas palavras, para mágoa do que a nossa mãe aprontou.
— E agora o que você tá fazendo?
— Conheci um estranho na praça que está tendo um natal ruim e agora estamos comendo uma pizza.
— Fala sério Leninha.
— Não estou brincando. Mas enfim, não quero estragar o seu natal com o Aiden, e um conselho da sua irmã que te ama muito, invente quantas desculpas forem possíveis para não trazer o fofo do seu namorado para conhecer a mamãe.
— Anotado. Vou desligar, mas qualquer coisa fala comigo. Beijo, te amo.
— Também te amo.
Voltei para a mesa e o vinho já tinha sido servido. Retomamos a conversa e passamos o tempo todo rindo das nossas famílias malucas. De repente, a noite desastrosa de natal se tornou uma noite divertida com um completo desconhecido.
— Eu queria ter vindo para cá mais cedo, queria passar no sebo que tem aqui.
— Ah, eu fui lá hoje, achei o lugar tão legal. Comprei até um livro, achei a dedicatória um pouco triste.
— Por quê?
— Um cara deu de presente para a namorada, mas se estava à venda é por que o amor dos dois não acabou bem.
— Você lembra como era essa dedicatória? — de repente ele parecia bem interessado pelo livro —
— Eu estou com ele na minha bolsa. — peguei o livro e entreguei a ele, vi ele ler atentamente aquelas poucas palavras — O que foi? Ficou sério de repente.
— Foi o meu amor que não deu certo. — ele tinha lágrimas nos olhos de novo — Dei esse livro para a minha namorada. Um dia antes de descobrir a traição, estava no quarto dela e percebi que o livro não estava lá, foi isso que me deixou desconfiado por que ela não queria me dizer o que tinha feito com ele. Então voltei para casa dela no dia seguinte e descobri as duas coisas.
— A traição e que ela tinha colocado o livro em um sebo?
— Ela disse que tinha dado para alguém que gostava. Ela se sentia culpada de estar com um livro que eu tinha dado e estar me traindo. Ela só não disse para quem tinha dado.
— E então você começou a procurar?
— Estava tentando conseguir tempo para vir para Gramado olhar por aqui, mas parece que ele chegou nas minhas mãos.
— Pode ficar com ele.
— Não precisa, eu só queria para tirar a página da dedicatória, ninguém precisa ficar vendo o meu amor fracassado. — ele tirou a folha e me entregou o livro — Estraguei o clima leve né?
— Nós dois estávamos tendo uma noite de merda, mas aí com uma pizza, vinho e conversa afiada você melhorou o meu humor, sinto muito que ela tenha feito isso com você.
— Também sinto muito pelo Rui. — ele começou a remexer as mãos e olhar para o prato — Então, quando você volta para Miami?
— Na manhã do dia 26. Tenho que deixar tudo pronto para receber a minha irmã. Vai ser uma virada de ano regada a muito álcool e fofocas picantes da nossa família. E você, o que vai fazer?
— Ainda não sei, estou procurando algo mais longe possível.
— Se tiver disponível, vai para Miami, tenho certeza de que a minha irmã vai adorar fofocar com você.
— Olha que eu posso acabar aceitando.
Continuamos conversando noite adentro e eu me sentia cada vez mais confortável, com Gael fiquei mais leve, não sei se ele percebeu, mas senti algum tipo de conexão natalina entre nós.
Já passava das cinco da manhã quando eu finalmente decidi voltar para casa.
— Cuidado nas estradas, ainda é bem cedo, mas muitas pessoas transitam por essa estrada na manhã de natal.
— Tudo bem. — estávamos na porta da casa dos meus pais e eu escutava as vozes das pessoas lá nos fundos, suspirei, tentando decidir se me trancava direto no quarto ou deixava eles me verem —
— Foi bom te conhecer, Gael.
— Te digo o mesmo, Helena. — ele deu um beijo na minha bochecha e foi em direção ao carro — Caso eu não apareça no seu apartamento lá em Miami, feliz ano novo.
— Feliz ano novo.
Não achava que veria ele outra vez, mas foi bom transformar uma noite que começou tão ruim, em algo tão bom e divertido.
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LAST CHRISTMAS [CONTO DE NATAL]
Krótkie OpowiadaniaInspirado na música "Last Christmas", o conto traz a história de Helena que não está muito em clima natalino depois do desastre de seu último relacionamento.