Caminhada

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Caitlyn dividia um apartamento com três outras moças ― Jen, Debby e Kia ― todas estudantes da Universidade de Minnesota.

Kia, aluna da pós-graduação em serviço social, dividia um quarto com Caitlyn há dois anos. Jen e Debby, alunas do último ano da graduação em artes cênicas, haviam se mudado para o apartamento em agosto e ocupavam o outro quarto. Todas usavam as áreas comuns ― a cozinha e a sala de estar.

Lamentavelmente, só havia um banheiro. Durante os raros momentos em que permitia que sua imaginação voasse livremente, Caitlyn visualizava um banheiro só seu. Aquilo lhe parecia o máximo do luxo.

O apartamento era melhor que a maioria dos imóveis para estudantes que não vivessem nos dormitórios da universidade. O prédio não era velho e o aluguel não era alto. Dividido por quatro, era barato para Caitlyn, e era isso o que ela queria.

E precisava. Quase todo o seu salário era usado para pagar as despesas de Seraphine no centro de reabilitação. Embora o seguro-saúde tivesse pagado pelos onze meses de internação de Seraphine após o acidente, a cobertura cessou quando ela recebeu alta do hospital.

Se Seraphine tivesse ido para uma clínica de repouso, o governo teria pagado a conta, mas Caitlyn não considerara essa possibilidade. Passara longos meses após o acidente da irmã pesquisando diferentes instituições, e o hospital localizado nos limites da cidade era o melhor em todos os sentidos. Lá Seraphine receberia a terapia intensiva especializada de que precisava para um dia poder levar uma vida independente e produtiva.

A alternativa, a clínica de repouso, prestava apenas cuidados básicos. Caitlyn via a ideia de colocar Seraphine lá como uma perda total da esperança, como a condenação de sua irmã a uma vida de dependência.

Então Caitlyn vendera a casa da família Kiramman, usara o dinheiro para financiar a ida de Seraphine para o centro de reabilitação e mudara-se para um bairro onde a moradia era mais barata.

Embora tivesse apenas 24 anos, às vezes sentia-se décadas mais velha que seus vizinhos estudantes. A "Semana Grega", quando as fraternidades e irmandades tomavam conta do bairro, não tinha mais graça para ela, especialmente quando as serenatas dos bêbados e as competições entravam madrugada adentro e ela tinha que acordar às seis para ir trabalhar.

Mas tanto o apartamento quanto a vizinhança estavam calmos quando Caitlyn chegou em casa. Não sabia onde estavam suas companheiras de quarto. As quatro raramente socializavam juntas, embora Caitlyn e Kia ocasionalmente corressem ou andassem de bicicleta juntas à noite ou nos fins de semana, quando seus horários coincidiam.

Caitlyn ficou olhando pela janela, fitando a escuridão e desejando que Kia estivesse lá. Estava precisando de uma corrida rápida para esquecer as frustrações daquele longo dia.

Ficou parada na janela por alguns minutos, pensando se devia ou não sair sozinha. O clima estava quente, perfeito para uma corrida noturna, mas a escuridão a preocupava. Qualquer mulher, em qualquer lugar, sabia dos perigos de sair sozinha à noite.

Mas nesta noite ela sentia-se confinada e incomodada pelas restrições. Nesta noite, queria estar livre tanto dos riscos quanto das precauções. Dois anos antes fizera um curso de defesa pessoal na Associação Cristã de Moços, e o bairro era considerado seguro, refletiu. Havia sempre gente nas ruas, especialmente porque ela morava bem perto do distrito dos teatros, onde diversas peças eram encenadas pelo departamento de artes cênicas da universidade.

Caitlyn lembrou-se vagamente de Jen e Debby terem mencionado uma peça na qual ambas estavam trabalhando, Jen como atriz e Debby na parte técnica. Caitlyn fez uma anotação mental para lembrar-se de lhes perguntar os horários e as datas das apresentações.

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