All Alone

Death By A Thousand Cuts

O ar gelado de início de inverno soprava pela pequena janela do dormitório em meu rosto, deixando meu nariz e bochechas avermelhadas enquanto olhava o pequeno teste de gravidez em minha mão. Positivo. Senti o tempo parar e todas as escolhas que me levaram até aqui passavam como um filme em minha cabeça. O meu celular, escorado no gabinete do banheiro, piscava com mensagens de Verônica me avisando que ele estava indo embora, se eu já havia me decidido. Meu coração batia descompassado enquanto eu tomava a decisão que mudaria toda minha vida, enrolei o teste em um pedaço de papel higiênico e o enfiei sem jeito no bolso do casaco, peguei o celular e corri desesperadamente.

A respiração me saltava dos pulmões enquanto corria frente a um ar completamente congelante, minhas narinas doíam ao respirar profundamente, senti minha pressão baixar enquanto parava em frente a porta do segundo complexo de dormitórios estudantis, subi dois lances de escada e finalmente cheguei em frente ao 202, bati três vezes na porta e ninguém respondia.

- Jug? - perguntei me aproximando da porta - Jug, sou eu.. Betty.. por favor abra.

Senti o pequeno bolo se formar em minha garganta enquanto lutava contra as lágrimas que queriam se juntar em meus olhos. Senti uma mão se alocar em meu ombro enquanto observava sem reação a moldura verde da porta.

- Ele se foi Betty, saiu há 10 minutos atrás.

Meu mundo havia se partido em milhares de pedaços naquele instante, senti os braços de Archie me segurarem enquanto meu corpo amolecia rumo ao chão, não perdera a consciência mas tudo parecia girar e ter formas não correspondentes à realidade, lágrimas escorriam pela minha face sem devaneios, senti meu corpo afundar em lençóis tão bem conhecidos por mim, e permiti que meus olhos se fechassem, desejando para que tudo não passasse de um pesadelo.

Acordei com o murmúrio da voz de Verônica e Archie na cozinha, ambos tinham uma expressão preocupada e logo percebi que meu desejo para que aquilo fosse somente um sonho ruim não havia se concretizado.

- Betty, finalmente acordou! - minha amiga disse se aproximando com um copo de água - Como está se sentindo?

- Realmente preciso responder essa pergunta? - respondi buscando o copo d'água enquanto os dois me observavam em pé - Uma merda. É assim que estou me sentindo.

- Betty, precisamos conversar. - Archie me olhou enquanto puxava algo de cima da mesa - Isso caiu do seu bolso enquanto te carregava para dentro.

Vi o teste de gravidez ser posto em cima da mesa - Quando descobriu isso?

- Antes de vir para cá - falei atônita sem coragem de olhar nos olhos de qualquer um deles - Vim correndo, na esperança de contar para Jughead.

- MERDA! - Andrews gritou enquanto colocava as mãos no rosto - Você realmente iria tentar essa Betty? Você sabe que ele desistiria da transferência na hora para ficar com você! Já não bastava ter traído o meu melhor amigo ainda tinha que jogar tão sujo com um filho que sequer sabemos se existimos ou sequer pode ser dele?

Senti o nó na minha garganta aumentar cada vez mais, Archie por partes tinha razão, e por mais que eu não tivesse traído Jughead e que tudo fora um mal entendido no qual não tive nem oportunidade de me explicar, aquilo doía, doía mais do que o corte profundo feito por uma faca. Sentia como se meu coração e todas as minhas entranhas tivessem sido arrancadas sem anestesia do meu corpo e uma a uma pisoteada por uma manada de mamutes.

- ARCHIE! POR QUE CARALHOS ESTÁ FALANDO ISSO? - Verônica gritava - VOCÊS NUNCA DERAM A BETTY UMA CHANCE DE EXPLICAR O QUE ACONTECEU E DE REPENTE VOCÊ É O SENHOR SABE TUDO DO UNIVERSO?

Enquanto um gritava com o outro, me levantei devagar do sofá, peguei o teste em cima da mesa e enfiei novamente no bolso, e fui passo a passo saindo pela sala, abri a porta e corri dessa vez, como uma covarde tentando se esquivar da verdade.