Era uma bela manhã de começo da primavera quando primeiro nos encontramos, eu corria pelo parque e você passeava com um cachorro. Nossos olhos se encontraram e eu podia sentir os raios daquela estranha sensação percorrendo meu corpo inteiro, tocando meus ossos e me consumindo em arrepios inexplicáveis.
Algo nascia no primeiro momento, assim como as flores que brotavam do chão.
Na manhã seguinte algo me obrigou a voltar ali e era claro que o mesmo acontecia com você, agora eu tomava um sorvete e você caminhava devorando um croissant, se perdendo em alguma música em seu fone de ouvido. Me perdi naquela imagem de tal forma que esbarrei em um executivo e sujei seu terno com sorvete de chocolate, ainda nesse dia nosso primeiro contato ocorreu. Você se aproximou e puxou lenços da mochila, ele saiu nos xingando e nós rimos alguns segundos até que nossos olhos se encontrassem, pela forma como me olhou, eu tive certeza que dividíamos aquela sensação de pequenas borboletas consumindo vagarosamente seu interior.
Seu sorriso foi a coisa mais bonita que vi naquela manhã, até que ouvi sua voz alegando que precisaria ir até o trabalho, consenti e ali nos separamos.
Na manhã seguinte não nos vimos, você não apareceu.
E nem na outra ou na seguinte.
Quase uma semana se passou desde a primeira vez que nos falamos e eu seguia todos os dias voltando ao parque, cada vez mais me convencendo de que talvez eu estivesse apenas me enganando.
Então, na oitava manhã desde que meus olhos encontraram os seus, saí para correr e ali estava você, correndo também. Em silêncio nos juntamos sem nos dar conta, seu fone deixava escapar uma das minhas músicas favoritas, ali pudemos ter nossa primeira conversa e descobrir seu estranho interesse por répteis especificamente amarelos foi um momento marcante daquela manhã, só não tanto quanto o minuto em que criei coragem e lhe convidei para jantar e surpreendentemente você aceitou.
Aquela tarde foi assustadora, as borboletas ficaram agressivas, mas chegar ao restaurante e encontrar sua imagem foi inigualável, tudo se acalmou de maneira tão suave e perfeita.
Vermelho te cai tão bem.
O jantar foi adorável, era nossa terceira garrafa de vinho quando o garçom gentilmente nos pediu para sair pois já passava do horário de fechar, então terminamos de beber na sacada do seu apartamento. Cada detalhe daquele lugar se parecia tanto com você que me fazia querer sentar no tapete de sua avó apenas para observar a coleção desalinhada de quadros que foram pintados por suas mãos.
A despedida aconteceu de maneira tão custosa, principalmente depois de sentir seus lábios contra a pele de minha bochecha.
Mas tínhamos a plena noção de que um adeus não seria suficiente para nos separar.
Na manhã seguinte ali estávamos nós, correndo lado a lado e falando sobre teorias do universo.
Repetimos o mesmo trajeto por meses, nos tornando novas pessoas a cada dia que passava.
Você é totalmente fascinante.