Era outono, as temperaturas caíam, assim como as folhas que tomavam um tom alaranjado, da minha varanda podíamos olhar toda a cidade se despindo do verde e da maioria das folhas, as chuvas eram raras, mas os ventos frios abraçavam nossos corpos durante as caminhadas na rua.
Assim como o tempo, algo entre nós estava esfriando, não éramos mais verão, mas eu ainda te amava como da primeira vez, nossos olhos ainda se encontravam com a intensidade das cores das flores primaveris e nossos corpos se aqueciam gentilmente em todo o tempo que se uniam.
Numa noite de lua cheia, nós dançamos na sala sob sua luz, dividindo uma generosa taça de vinho, em silêncio total, isso acontecia em certos momentos, mas não era desconfortável, naquele momento parecia perturbador.
As brigas começaram sem que sequer tivéssemos tempo para notá-las, qualquer pequeno detalhe era o maior dos estopins para brigas tão intensas como nós.
Nosso primeiro término foi numa tarde de chuva, elas eram tão raras, talvez um sinal. Você foi embora e ficou uma semana inteira sem dar notícias, quando apareceu, nós resolvemos dar uma chance. Um ciclo sem fim a partir dali.
Tudo estava bem quando nossas almas estavam separadas e salvas raras vezes juntas, assim fomos levando.
Os momentos bons eram incríveis, memórias das quais jamais irei me desfazer, porém os ruins eram capazes de desgastar a melhor das estruturas, o que já não éramos há tempos.
Eu te amava, mas algo estava errado, isso era a única coisa certa.
Naquela manhã fria, eu estava só na cama, seu corpo não estava ao meu lado, no banheiro estava escrito no espelho que você foi correr, tomei café e passei horas trabalhando no computador, você ficou tanto tempo fora que se atrasou para o almoço e sequer teve o trabalho de avisar.
Brigas. Brigas. Brigas.
Eu amava você, só não sabia o que estava acontecendo.
Esses episódios começaram a se repetir cada vez mais, nós sabíamos o que se passava e escolhemos ignorar. A doce mentira compensa muito mais do que a dura verdade.
Acordei em uma manhã e mais uma vez você não estava ali, dessa vez foi diferente. O armário aberto e suas coisas sumindo foram o recado perfeito.
Você preferiu fugir a dar pessoalmente a notícia, algo que somente alguém que lhe conhecesse o suficiente poderia não se surpreender.
Não nos procuramos mais.
Eu te amava, mas as coisas acontecem como devem acontecer.
Sua partida foi para o melhor.