A chegada.

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Akira

Viver sabendo que você não passa de uma aberração que ninguém quer estar perto é algo cansativo, mas não tem escapatória. Você deve lidar com isso até o dia de sua morte, caso contrário, você é fraca. Eu sou fraca.

Duas semanas atrás eu quase assassinei meu pai. Não pensem que sou um demônio, eu não tive escolhas. Não consegui ver ele espancando minha mãe sem mover um dedo para fazer com que aquilo parasse. Não dessa vez. Não é a primeira vez, e com certeza não seria a última. Meu único arrependimento é não ter o matado.

— Akira! Você está pronta?

Grita ele, do outro lado da porta. Meu pai. Não sei porque ele ainda fala comigo, ele nem mesmo me denunciou para a polícia, isso é tão estranho. Ele já foi um grande ninja, e não usou nenhum jutsu para me parar. Conhecendo ele, sempre achei que ele tentaria me agredir, assim como fez com minha mãe a vida toda.

— Estou! — grito, abrindo a porta — eu acabei me atrasando porque acordei tarde! Desculpa! — suspiro, abaixando a cabeça.

— Está tudo bem! — ele suspira de volta.

Pegando em minha mão, o homem me tira do meu quarto, me levando até a sala. Quando ele dá um beijo na minha cabeça, sinto meu estômago se revirar, e só eu sei o quanto me esforcei para não vomitar no chão que ele provavelmente acabou de limpar. Se eu fizesse isso, com certeza ouviria suas infinitas reclamações. Ele é viciado em limpeza.

— Já vou indo! — puxo minha mala, andando até a saída. Olho para trás, e percebo que o mesmo está me acompanhando — não precisa me seguir! O táxi já está chegando!

— Eu sei o que estou fazendo!

Eu odeio mesmo ele, e eu não queria ter esse sentimento. Durante toda a minha vida, sempre ouvi que o ódio é um sentimento abominável, e tudo se intensifica quando esse sentimento é direcionado para seus pais. De acordo com minha professora de química, eu vou para o inferno. Mal sabe ela que já conheço esse lugar desde pequena.

Vinte minutos se passam, e um carro preto estaciona na frente de casa. Me despeço de meu pai com um rápido abraço e logo entro no automóvel, agradecendo Maggie.

Maggie é minha melhor amiga, já fazem alguns anos que sequer trocamos mensagens, mas quando crianças, éramos inseparáveis, antes dela mudar de bairro. Quando quase matei meu pai, ela foi a primeira e única pessoa que contei sobre. Só contei para ela porque sabia que ela é como eu: possui poderes que a diferenciam de um ser humano comum. Diferentemente de mim, ela adora ser assim. Eu odeio com todas minhas forças. Afinal, sou uma aberração.

— Está nervosa? — pergunta o motorista, me trazendo de volta à realidade.

— Nervosa? — pergunto de volta.

— Sua perna! — ele aponta com um de seus dedos e logo o leva até o volante.

— Ah! — sorrio — não tem como dizer que eu não estou!

Estou nervosa pra cacete. Quando contei para Maggie, ela implorou para que eu fosse morar com ela em um tipo de instituição para jovens ninjas. Lá, eles desenvolvem suas artes e as controlam. Segundo ela, eles até mesmo combatem inimigos. Estou em algum tipo de história em quadrinhos? O que me alivia é saber que nenhum lugar é pior do que minha casa, então não vai ser tão difícil.

— Chegamos!

Diz o mesmo homem, estacionando o carro. Quando saio do carro, logo olho para o local que vou passar meus próximos dias. Parece uma mansão, eu nunca vi um lugar tão chique. Chega a ser inacreditável.

AKIRAOnde histórias criam vida. Descubra agora