Insônia - Solangelo

capítulo quatro.

— A gente vai se atrasar pro treino — disse Will, enquanto Nico beijava seu pescoço.

— Ainda faltam alguns minutos, relaxa — respondeu, subindo novamente para sua boca — Temos tempo.

Will e Nico continuaram ficando às escondidas. Seus momentos não passavam de beijos ou mãos bobas — mas era suficiente, por enquanto. Will queria muito chegar nos "finalmentes", mas nunca havia transado com um garoto antes. Ele se sentia estranho com a ideia, e ao mesmo tempo ansioso. Nico não foi o primeiro garoto que o deixou com essa extanse e esse desejo, não foi o único garoto que ele quis urgentemente tirar a roupa. Mas era o garoto que estava tirando seu medo de fazer isso. Solace nunca entendeu o porque tinha esse medo — não era bem um medo, e sim um receio. Passou tempo demais em uma sociedade que desaprova a relação entre dois homens, que tem repulsa por essa forma de amar. Will simplesmente se sentia culpado, como se um alarme tocasse em sua cabeça todas as vezes em que tentava ir além, como se um alerta soasse em seu subconsiente, repreendendo seu desejo. Nico fazia esse alarme sumir aos poucos. 

Os dois estavam formando um tipo de amizade colorida. Will aproveitava a noite para ir em sua cama — como sempre costumava fazer — e além de apenas deitar ao seu lado, tentava aproveitar o máximo a sensação de seus lábios na boca de Nico. Quando um dos alunos no dormitório acordava para ir ao banheiro ou algo do tipo, eles apenas se separavam e riam baixo, tentando disfarçar o que todos ali sabiam. E neste instante, se encontravam em algum dos box do banheiro no alojamento, com as roupas do treino. As mãos de Will envolviam a cintura de Nico, enquanto o garoto o beijava. Tiveram que se separar apenas quando ouviram o alarme alto vindo do pátio. Era o toque de chamada.

Will se apressou a ajeitar os cabelos, Nico saiu do box e os dois correram para o pátio. O treino foi o mesmo de sempre: Nico com dor, mas sem reclamar, levando tudo como natural. Will já havia se acostumado com o exercício em excesso, ainda sentia as lesões pelo corpo, mas não era nada grave igual no primeiro treino. A parte boa do dia foram as aulas de ensino médio. Querendo ou não, eles ainda estavam em uma escola. Apesar do quartel os preparar mais para o exercito e para a carreira militar do que outras profissões, ainda eram obrigados a estudar as matérias normalmente. Nico passou a tarde na biblioteca do prédio de estudos, sentado em uma das mesas lendo o livro didático. Will estava sentado no chão, apoiado na cadeira, também lendo. Mas ao invés de ser um livro da escola, era um qualquer que havia pegado em uma das estantes. Alguns alunos passaram e olharam para eles, estranhando sua proximidade nos últimos dias. Will apenas olhou de volta e sorriu, Nico nem sequer ergueu o olhar.

Solace se sentia um pouco mal quando alguns internos olhavam estranho para ele, apenas por estar proximo de um outro garoto. Will olhou para Nico, viu sua expressão séria e concentrada. Ele parecia sem vida. Perdido.

— Você nunca pensou em fugir daqui? — Solace perguntou pelo impulso

— Para onde eu iria?

— Não sei, qualquer lugar.

Eles ficaram em silêncio por um tempo

— Você quer fugir? — perguntou Nico, rindo de leve — Não completou nem três meses aqui dentro e ja esta nessa...

— Me acostumei com aqui. Não é o fim do mundo

— É pior do que isso.

Nico viu um fio de esperança nos olhos de Will, como se a frieza do lugar não o afetasse, mas, no fundo, estava o matando. Como se tudo nao passasse de um dia ruim, e na manha seguinte melhoraria. Mas, nunca melhorou. Nico gostava da animação clara de Solace, de sua fé em que tudo, querendo ajudar as pessoas e sendo empático com todas elas. Will tinha a humanidade que faltava em Nico.