Os Trixinins

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Três anos já são três anos quando existe apenas um bebê, três anos com três bebês acabam virando seis anos e às vezes parece que passou apenas um.
Em três anos, Lexa e Clarke se viram emocionadas mais vezes do que nunca. Foram três primeiros passos e três primeiras palavras. E nenhuma chegou perto de mami ou mamãe, que era como elas eram chamadas. Madi era apaixonada pelo chão e quando ela apontou para a grama e disse “gama”... Aden era apaixonado pela irmã e não foi surpresa quando ele chorou e chorou quando viu Raven levando Madi para longe dele e começou a gritar “Adi”. Já Jake era um bebê dengoso e Clarke literalmente chorou quando ele colocou as duas mãozinhas no rosto dela e disse “amo”.
Em três anos elas aprenderam que não adiantava deixar Madi no cercadinho, ela iria arrumar um jeito de fugir e explorar a casa inteira, então era mais fácil apenas fechar todas as portas e tirar todos os objetos inadequados da altura das suas mãozinhas e colocar proteção em todas as quinas e gavetas e porta de armários. Nesses anos, elas aprenderam que Madi odiava banana, mas era a criança mais feliz com uma maçã cortada; ela não gostava de brinquedos barulhentos nem de gritos e não era a garota mais propensa a dar abraços apertados e receber beijos babados dos irmãos. E ela amava chuva e animais e grama e um escorregador.
Madi era a chefe da gangue. Ela quem planejava as brincadeiras e as zonas. Raven falava que ela era a máfia dos bebês. Clarke e Lexa fingiam achar o apelido ofensivo, mas, no fundo, elas concordavam.
Ela tinha os olhos de Clarke e eles eram tão expressivos que qualquer um podia ler as emoções da menininha. Ela era tão cabeça quente que ganhou o apelido de Estressadinha. Madi era aquela criança que quando não gostava do que era oferecido, ela se retirava batendo o pé e ia fazer o que queria, longe de todo mundo. Todo mundo olhava para ela e apontavam com clareza que ela era uma criança de Clarke e Lexa.
Mas, ao mesmo tempo, ela ria tanto. Ela era tão criativa. Ela conversava sozinha e pulava feito pipoca e sempre grudava na perna das mães para ganhar uma carona até o próximo cômodo. E ela era tão independente que doía, ela explorava tudo e aceitava todas as aventuras e saía com os tios ou avós sem olhar para trás. Lexa chorava sempre que isso acontecia. Mas então ela voltava para casa tão animada e compartilhando tudo o que ela tinha descoberto que as duas mães sabiam que estavam no caminho certo da criação.
Madi foi a primeira a recusar o seio para a amamentação. Clarke ficou chocada e abalada e Lexa riu para afastar o mesmo sentimento. Ela tinha acabado de completar dois anos e usava fralda apenas para dormir e tinha sido a única dos três a não pegar chupeta. Ela estava crescendo muito rápido. Mas um dia…
Os bebês dormiam no mesmo quarto, uma porta ao lado da suíte do casal. Elas deixavam ambas as portas entreabertas e apenas um portãozinho na escada para ninguém se aventurar numa queda abaixo. Madi entrou sorrateira e Lexa ouviu os seus pezinhos no chão de madeira. Ela aprendeu a ter sono leve, diferente da esposa. Lexa esperou Madi chegar ao seu lado da cama, que era o qual estava sendo iluminado pela luz da lua, e estendeu os braços para pegar a pequena antes mesmo dela pedir.
— O que aconteceu, Gatinha? — Lexa perguntou com a voz ainda carregada de sono e dando alguns beijinhos na testa da filha.
— Sonho ruim.
Madi era a mais corajosa dos três. Ela chorava pouco e só sabiam que ela estava realmente triste quando ela pedia colo e ficava mais manhosa. Lexa sabia que tinha sido um sonho muito ruim, para ela estar ali.
— Um pesadelo. Está tudo bem, você está segura aqui.
Lexa se mexeu e testou algumas posições na cama até que ficasse confortável para as duas e ela passou a fazer carinho nos cabelos escuros e encaracolados da filha. Ela estava quase cochilando quando Madi colocou a mão nos seios da mãe e falou baixinho:
— Tetê, mami. Pupapor.
Lexa sorriu, a sua bebê ainda era uma bebê.

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Em três anos, Clarke e Lexa viram os seus filhos crescerem e ficarem mais parecidos com uma aqui, com a outra ali, mania de uma, resposta de outra… Clarke às vezes olhava para as caras de Aden analisando o seu próprio desenho e tinha certeza que ele era filho de Lexa, pois olha aquilo. Ou Lexa negava um segundo danoninho para Jake e o bico que ele fazia era tão Clarke que ela tinha que começar a criar forças para continuar falando não. Mas tinha aqueles momentos em que ambas as mães olhavam para Madi e elas sabiam que além dela ser filha de Clarke e Lexa, ela era sobrinha da Raven.
Em três anos elas aprenderam que Aden era a criança das manias. Ele tinha mania de seguir Madi pela casa e a surpreender com uma abraço, que resultava em Madi o empurrando e ele indo chorar para a mãe mais próxima. Ele tinha mania de tirar a chupeta de Jake da boca e ir deitar no colo de qualquer pessoa, sem se importar com o choro do irmão, e depois ir dar um beijinho de desculpa na testa dele, mas sem devolver a chupeta.
A mania que mais irritava as duas foi a bendita seletividade alimentar e o ritual das refeições: Aden tinha que comer no prato azul, ele não comia nenhum purê, nada podia se tocar no prato e se já tivesse ervilha, ele não iria comer o brócolis, se já tivesse cenoura, ele não comia o tomate, as cores não podiam se repetir. Mas em três anos, também, elas se adaptaram e aos poucos as horas das refeições não eram estressantes.
Aden era muito inteligente e se divertia com os brinquedos de encaixe e com os livros. Lexa era quem normalmente lia para os três na hora de dormir e Aden era sempre o que ficava acordado por último, pedindo mais uma história e depois outra. Aden era quem pintava e desenhava e foi o primeiro a levar uma bronca quando desenhou nas paredes, mas Clarke era a bem humorada e a qual entregou um giz de cera e apontou para a parede branca do quarto de brinquedos e disse que aquele seria o quadro deles.
Aden gostava de animais e brincadeiras radicais e limão. Ele se sentava ao lado de Lexa e comia pipoca enquanto assistia documentários do fundo do mar e da savana africana. Ele se aventurava com as idas ao mercado com Clarke e em ajudar nas atividades domésticas. Ele era o único que preferia ficar sentado na ilha da cozinha conversando enquanto uma das mães estava cozinhando ou lavando louça:
(— Você nem sabe o que aconteceu hoje.
— O que aconteceu hoje? — Clarke perguntou. Ela sabia que viria a maior história de todas.
— Mami caiu.
— Caiu? — Clarke perguntou com a testa franzida, Lexa não comentou nada.
— E você nem sabe porquê! Madi estava debaixo da cama, é verdade sim. E aí mami entrou no quarto e Madi fez bu e segurou assim o pé da mami — ele disse e imitou o gesto, Clarke não conseguiu segurar a risada. — Mami gritou bem alto e aí Aden saiu correndo, Jake saiu correndo, chegou no quarto e mami estava deitada no chão com a mão no coração assim ó — ele fez o gesto de novo — e ela começou a gritar com Madi porque ela ficou muito assustada. E você nem sabe o que Madi disse.
— Hum?
— Que a tia Raven — ele mudou a entonação da voz e Clarke riu de novo, ele era tão dramático, tão Lexa — disse para Madi fazer isso. Você acredita nisso, mamãe?);
Ou ficar sentado em cima da máquina de lavar enquanto uma estava dobrando roupa:
(— Sabe a minha vó?
— O que tem a vovó? — Lexa perguntou e olhou para o filho por cima dos ombros.
— Eu descobri uma coisa. Ela é mamãe da mamãe, você acredita nisso?
— Oh, Aden — Lexa riu e olhou para ele. — Você achou que ela era quem?
— Vovó, oxe! E você não sabe a maior! — Lexa riu de novo e parou com as roupas para olhar para o seu pequeno de três anos. Como ele falava desse jeito? — O nome dele é Abigail, não é Abby.);
Ou ficar sentado na privada enquanto uma delas estava no banho:
(— Mamãe, você sabia que o Planeta Terra é azul porque tem muita água? — Aden estava segurando um livro infantil de ciência.
— Sim, e porque será que ele tem esse nome? Devia ser Planeta Água.
— Sim — ele disse e não deu muita importância. — E você sabia que tem um osso chamado rádio? — Aden já estava rindo e Clarke olhou para ele através do vidro.
— É esse aqui, olha — Clarke apontou para o antebraço. — E temos um chamado martelo também, fica dentro do ouvido.
— Martelo, que engraçado. E você sabia que um meteoro caiu na Terra e matou todos os dinossauros?).
Ele sabia de tudo o que acontecia e falava tão bem. Ele era o pequeno nerd das duas.

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