Toco o chão com a ponta dos meus dedos, o gelido se penetra na minha pele e calafrios subitos se esguiam por meu corpo. O falta de claridade da madrugada força me a estreitar os olhos, a vista forçada para enxergar melhor no escuro em meio ao mínimo claro do luar. A vasta vista da sacada deixa-me deleiteado enquanto a fina camada da única roupa que me cobre não me protege da ausência de calor. O vento gelado que bagunça meus cabelos me dá êxtase.
A sensualidade da noite cobre-me com o único feche de luz, minhas pernas descobertas se arrepiam e a calmaria me acaricia. Não há ninguém em meio a rua, a impressão de que todos dormem, enquanto eu, o único homem em meio a esse escuro, contido pela sobriedade da insônia, me sinto único no mundo.
Por meus ombros, vejo Taehyun dormir, e penso em como cheguei até aqui. A sensibilidade da noite me traz a reflexição que ao longo do dia não tenho, ao longo de tantos dias. Sozinho, não há como fugir de pensamentos que não me deixam em paz. E enquanto meus olhos captam a lua e suas crateras que, de tão grandes, posso ver daqui, penso.
"Você me decepciona!"
"Eu vou livrar sua cara, e a desse marginal, mas você vai me devolver o favor!"
"Bicha!"
Meu orgulho grita, manda que eu discorde, que não engula suas palavras tão cretinas, mas no fundo, há um buraco que me deixa consciente da realidade. O buraco de onde vem a voz que diz, tão alto quanto o orgulho ferido e egocêntrico, que eu não tenho a razão da vez.
E eu certamente não a tenho mesmo.
Meus cabelos compridos roçam por meu pescoço e a voz de Taehyun invade minha mente, enquanto ele me aperta, me cheira e diz que o meu cabelo é tão macio. E é tão quente quanto fogo. A chama de um amor que ao menos sei da onde veio e como irá terminar.
Incerto demais, dolorido demais.
Passo meus dedos por meus lábios, os sentindo meio ressecado por não ter bebido água assim que acordei, a muitos minutos atrás.
A preocupação sobre o futuro me assola, e que preciso proteger Taehyun também. Eu sou de um berço de ouro, meu sobrenome, tão valioso quanto, mas Terry está longe disso. E eu sei, a verdade tão difícil de descer me arrasta para o chão como a âncora de um navio.
Distraído, assusto quando mãos passam por minha cintura, o carinho tão puro e pecaniminoso ao mesmo tempo vem acompanhado do nariz de Terry se arrastado por meus fios escuros.
- O que pensa?
A voz rouca pelo sono sussura em meu ouvido, e os pelos de minha nuca se arrepiam.
Não respondo, a resposta tão clara quanto vinho tinto ao qual ele sabe não precisa ser dita.
Sinto suas mãos asperas porém agradáveis me guiarem, me viro e me dou aos olhos grandes, os mesmo olhos que me deixam mais apaixonado a cada dia.
Passo meus braços por seu dorço, o medo aflinge cada célula do meu corpo, mas não deixo-me abalar, e assim como a anos atrás, desejei ser tão irredutível e corajoso quanto meu namorado (quase marido).
Papai disse, claro e de bom tom, sua voz aspera e tão ridicularmente grossa que ainda me arranca suspiros de medo, avisou, e por um segundo senti um pouco de amor. Amor distorcido, amor dolorido, amor quebrado. Um amor que não se aguenta mais.
Por ser mais baixo que eu, mesmo que pouca coisa, apoio meu queixo em sua cabeça, a masculidade que sempre foi me cobrada não está aqui, e permito que Taehyun destribua beijos cálidos até simples selares por meu pescoço.
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Bonnie E Clyde
FanfictionSeja no imenso amor, nas fugas de assaltos, nas transas de noite, nos beijos melados e amorosos, Beomgyu e Taehyun sempre terão tudo e nada ao mesmo tempo. Porque eles podiam ter todos como seus inimigos, mas enquanto estiverem juntos, o mundo todo...