"Eu senti que éramos próximos assim que o vi."
Anne with an E.Agatha usava seu cabelo em seu penteado tradicional, preso em dois coquinhos e o resto solto.
- Ainda não perdeu a mania desse penteado? - perguntei vestindo o uniforme.
- Não, ele sempre me acompanha - respondeu, acrescentando em seguida - Mamãe ficou brava porque usei ele na Itália, disse que era "infantil demais".
Não respondi, lá no fundo, a mãe dela tem razão.
O uniforme tinha me feito falta, a blusa polo azul e a saia preta com uma listra vermelha e branca na barra era maravilhoso.
*
O refeitório estava cheio de garotas vestindo o uniforme impecável, desfilando com seus celulares de última geração e fofocando.
É isso o que se vê às seis e meia da manhã em um internato com pessoas de classe alta.
O internato LIV é conhecido por ser um dos melhores colégios internos do Brasil, e também por ser "ponto de riquinhas", é verdade que a maioria das alunas são filhas de políticos, donos de grandes empresas, médicos, advogados famosos entre muitos outros, mas também há alunas bolsistas, e admiro muito cada uma delas, não é fácil passar na prova e muito menos comprar o material e o uniforme, mas vale a pena.
Não é um internato extremamente caro e com pessoas milionárias, mas a maioria tem ótimas condições.
Me servi com mamão, granola e suco de laranja, me sentando com Agatha.
- Você acha que vai entrar alguém novo esse ano? - Agatha questiona dando uma mordida no pão.
- Provavelmente não, ninguém vai querer entrar em um internato no último ano.
- Nem todo mundo está aqui porque quer Lav, nós somos sortudas.
Sempre gostei tanto daqui, sempre me senti em casa, escolhi estudar aqui, fiz amigas incríveis e aprendi coisas ótimas, vivi momentoa perfeitos, nunca me passou pela cabeça que aqui tem pessoas que se sentem mal, que estão infelizes, pessoas que não queriam estar aqui.
*
Eu e Agatha nos sentamos no canto da frente, onde os professores quase nunca prestam atenção e podemos conversar tranquilamente.
Me decepcionei quando vi que a professora de artes continuava sendo a mesma, eu odeio aquela mulher com todas as minhas forças. A psicóloga se demitiu e outra entrou em seu lugar.
Quando as aulas da manhã acabaram fomos almoçar com Alice e Zoe, o que não foi nada agradável já que as duas não paravam de brigar e acabamos só eu e Agatha na mesa.
Estávamos indo para a secretaria da escola escolher nossas matérias extra-curriculares. Cada aluno tem direito a uma matéria, e pode trocá-la todo começo de ano.
São dez opções: ginástica, vôlei, basquete, futebol, teatro, canto, arte, dança, literatura e culinária.
No meu primeiro dia no colégio fiquei desesperada
porquê não sabia o que queria fazer, e quase escolhi vôlei, mas por sorte escrevi meu nome na matéria errada, me apaixonei por livros e literatura desde então.
- Vai pegar literatura? - Agatha pergunta enquanto digita rapidamente para sua mãe comprar seu shampoo caríssimo.
- Com certeza literatura - respondi - e você?
Como se não fosse óbvio: Ginástica, Agatha já fazia aulas antes de entrar no internato, começou aos três anos, e até os seus quatorze seu sonho era ser ginasta e ganhar uma medalha de ouro nas olimpíadas, mas seu sonho acabou quando deslocou o joelho e não pode mais fazer treinos pesados como fazia. Me lembro da adolescente na puberdade chorando na ala hospitalar por ter deslocado o joelho e por ter passado "vergonha" na frente do menino que estava ficando, nesse dia, eu estava passando uma semana na casa da mesma.
Os pais de Agatha tem uma empresa de café, uma das marcas mais vendidas dentro e fora do Brasil, uma empresa conhecida por ter desde cafés simples e deliciosos até cafés sofisticados e difíceis de preparar.
Minha mãe, uma grande arquiteta, planejou a casa dos pais de Agatha quando ela ainda não era nascida, e laçou uma amizade muito forte com a mãe da loira, embora não moramos na mesma cidade eu e Agatha somos amigas desde que me entendo por gente.
- Ginástica, óbvio.
- Você sente dores ainda? No joelho? - abordo o assunto com calma, ciente de que Agatha ainda é sensível a isso.
- Às vezes, bem de vez em nunca, normalmente quando eu corro muito.
Assim que deixamos nossos nomes e as matérias na secretária saímos para aproveitar a tarde livre.
Agatha deu a idéia de chamarmos Alice e Zoe para ir "tomar um ar" no jardim, e eu não estava de acordo com isso, até porque as duas estavam brigando a aulgumas horas atrás, mas Agatha insistiu que "como melhores amigas elas já devem estar de boa".
Fomos então até o segundo andar, quarto 300.
Alice estava parada na porta contando animadamente sobre o time de vôlei a alguém e o alguém me interessou.
Uma menina alguns centímetros maior que eu, apesar de não ser "padrão" seu corpo era perfeitamente lindo, seus olhos eram de um tom lindo de castanho claro, o cabelo curtinho vermelho escuro combinava perfeitamente com sua pele clara e suas poucas sardas nas bochechas, reparei nos seus dedos cheios de anéis e o piercing no septo.
- Oi! - cumprimentou Agatha.
- Oi! - Alice sorria animada.
Vi o olhar da menina ir até minhas pernas cobertas por um par de altas meias coloridas.
Lavínia e a meia idiota.
- Você e Zoe querem ir no jardim? Só conversar mesmo.
Os olhos dela cravados em mim.
Vamos embora, por favor.
- Ah, poxa, não vai dar, hoje nós voltamos com os treinos de vôlei, o time está a todo vapor!
Peguei no braço de Agatha antes que ela decidisse fazer novas amizades ali mesmo.
- Poxa, que pena, até depois - falei puxando Agatha.
- Bom treino! - gritou por cima do ombro.
Dúvidas rondavam minha cabeça, por que eu nunca tinha visto aquela garota antes? Eu ainda sentia seu olhar, mesmo estando longe dos seus olhos, o vermelho do seu cabelo não saía da minha mente, e eu tampouco tinha ouvido sua voz.
É como ver o planejamento de um crime, você sabe que ainda tem muita coisa pra acontecer.
E algo me diz que nesse crime vamos ter culpadas e duas vítimas.
Saí do meu transe filosófico com Agatha me cutucando.
- Ei! Lavínia eu estou falando com você!
- O que foi? - tentei tirar o vermelho da minha cabeça.
- Quem era aquela garota? - perguntou o que não parava de martelar na minha cabeça.
- Não sei, nunca vi - respondi sincera.
Nos sentamos embaixo de uma árvore.
O ar estava fresco e o céu perfeito, sol, com nuvens branquinhas e fofas.
- Você tem maconha? - Agatha me perguntou.
- Não, por que? Você quer? - me lembro de ter fumado meu último baseado no começo das férias, eu não fumo diariamente e não sou uma viciada, fumei pela primeira vez no primeiro ano, sigo minha regra: nada de fumar mais de uma vez a cada duas semanas.
- Aysha ainda não começou né? - Agatha parecia inquieta.
- Você sabe que ela só começa a vender depois do primeiro mês de aula.
Aysha vende cigarros, maconha e bebida dentro da escola, seu pai é dono de hotéis e um bar muito famoso, onde só vai gente rica, e seu irmão mexe com drogas, drogas pra gente do nível social dele, ele não chega oferecendo pra qualquer um. A mãe de Agatha é separada do pai e trabalha em uma empresa, sempre muito ocupada, o pai sempre ocupado com as garotas de programa e o luxo e o irmão com seus "esquemas", Aysha foi criada solta, com tudo na mão, mas é uma menina incrível, suas festas são as mais comentadas, e posso dizer que somos mais que "boas amigas".
- A Aysha é legal, você e ela não fica... - sinto ela entrar em uma zona de perigo e mudo de assunto.
- Você quer tanto assim um baseado?
- Estou com muita vontade de fumar, de repente - explicou batendo os pés.
- Você está viciada? - me preocupo.
- Claro que não! É só uma "vontadezinha".
- E eu estou com uma "vontadezinha" de beber vodka com schweppes - digo - precisamos de uma festa da Aysha.
- Precisamos.
A vontade de mandar meus pensamentos embora com a fumaça de um baseado toma conta de mim, e eu sinto a necessidade de relaxar.
- Quero fumar agora também. Eu estava bem antes de você falar sobre isso - falo impaciente - vamos lá em cima buscar um cigarro.
- Você disse que não tinha - me olha duvidosa.
- Eu disse que não tinha maconha, tenho cigarro normal.
- Vamos fumar a luz do dia? - pergunta boquiaberta.
- A gente se enfia no meio das árvores, ninguém vai ver, anda logo.
Ela se levanta e vamos buscar os cigarros.Notas:
Tá aí! Gente esse capítulo meu Deus! Foi difícil, eu tinha escrito tudo e acabei apagando sem querer, tive que escrever de novo, e depois tive um monte de idéias novas pra acrescentar e refiz de novo, meu Deus.
A gente conheceu a Melanie!!! Nesse capitulo não teve muito dela mas conhecemos um pouco mais a Agatha, sabemos que ela teve um sonho destruído 🤧🤧, que dor.
Também tivemos a "introdução" de uma nova personagem, a perfeita Aysha, essa menina é o puro fogo gente, e pelo que parece tem alguma coisa aí nesse "mais que boas amigas" fica ligado em 🤨🤨.
Por hoje é só, espero que tenham gostado, comentem, compartilhem e até mais💖!
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As nuvens são as mais belas | Romance 🏳️🌈
RomanceLavínia vai para o terceiro ano do ensino médio, seu último ano em um internato só para garotas, traumatizada e machucada pelo seu antigo relacionamento ela está decidida a não se apaixonar e não se relacionar com ninguém. O que não esperava era q...