35 - Paolo

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- Não papai.

Foram somente as 3 palavras ditas por uma Ellis sonolenta enquanto sua mãe a levava para o quarto e que abalaram o clima por um momento. Grey sabia que essa hora chegaria mais cedo ou mais tarde. Ela e Andrew já estavam juntos há algum tempo e muitas vezes acontecia que Grey voltava para dentro de casa e encontrava seu marido e seus filhos dormindo juntos ou mesmo em cima um do outro, no sofá de casa com o catálogo da Disney aberto na TV.

Nas primeiras vezes ela se incomodou com isso, mas com o tempo ela não se importou mais. Essa imagem diante dela a reconciliava com o universo, mesmo que causasse diabetes em Amélia. As crianças foram levadas uma de cada vez para o quarto pelas 3 irmãs, já de pijama bastava colocá-las para dormir.

Naquela noite, porém, Ellis disse meio adormecida.

- Não papai.

Evidentemente ela sentiu a súbita ausência do calor de Andrew e, portanto, num momento de consciência procurou no vazio pelo corpo do italiano que acabara de acordar, e estava esfregando o rosto para subir ao quarto dela.

Os dois se entreolharam naquele momento, essa era a linha divisória entre o antes e o depois, Ellis se contorceu e Andrew a tomou de volta em seus braços, assegurando-a.

- Estou aqui Ellis, estou aqui. A menina se acalmou e dormiu pacificamente em sua cama pelo resto da noite, sem nunca acordar.

Os dois já haviam conversado sobre as crianças e Meredith já havia contado ao pediatra sobre seus abortos, mas ele foi tão compreensivo diante de seus medos e ansiedades que começou a sentir uma leve culpa.

Ele merecia ser pai, mas estava tudo tão fora de controle que eles nunca mais falaram sobre isso. Andrew ficou satisfeito com os 3 pequenos Grey Shepherd que não sentiam a necessidade urgente de ter um filho. Apesar das milhares de garantias, Meredith continuou com esse pensamento que periodicamente a martelava. Até aquela noite, quando ela viu seus olhos brilharem ao ouvir aquela palavra que ele havia esperado por tanto tempo.

Foi ao banheiro, escovou os dentes, abriu o armário e pegou as pílulas anticoncepcionais, olhou para elas e se olhou no espelho, sorriu ao pensar naquela cena anterior e em um instante tomou uma decisão. Ela colocou os comprimidos de volta no armário sem tomar nenhum e foi dormir.

No dia seguinte ela fez o mesmo, e no dia seguinte, já tinha decidido tentar ter um filho com Andrew, mas sem lhe dizer nada. Ela não queria expectativas e não queria lhe dar falsas esperanças. Ela já havia passado por isso com Derek e a terapia de fertilidade que causou seus problemas de cegueira temporária. Eles tinham que fazer amor sem nenhuma proteção. Embora nas primeiras vezes a ideia de fazê-lo lhe causasse ansiedade, com o tempo ela parou de pensar no assunto. Ela jogou os comprimidos e se esqueceu de tomar mais, adorava afogar os olhos nos olhos de Andrew quando ele sorria para ela antes mesmo de tirar a roupa.

Alguns meses se passaram, mas ainda nada havia acontecido. Sua cabeça, no entanto, estava focada em seu casamento com Andrew. Ela ainda estava pensando na proposta que ele fez na praia da Itália, na Toscana, embaixo das estrelas cadentes, e no lindo anel que ela usou tempo suficiente para mostrar a todos no hospital.

Um mês depois da cerimônia ela ainda não lembrava dos comprimidos, mas teve tempo de conversar com Amelia sobre algo muito sério. Embora Shepherd estivesse dividida entre seus compromissos de adoção compartilhados com Owen, ela teve tempo para perceber que a interação entre Andrew e Ellis, mas também com Zola e Bailey, tinha ficado cada vez mais estreita.

Quando Meredith disse a ela que Ellis havia se referido a Andrew como pai, ela não ficou muito surpresa. Ela esperava que mais cedo ou mais tarde isso aconteceria. E ela iria visitar seu irmão no cemitério para dizer a ele que as crianças estavam bem e que estavam em boas mãos com Andrew.

From Boston with Love - MerlucaOnde histórias criam vida. Descubra agora