Capítulo 2

157 28 13
                                    

(Tia Marrie): Quer partir? —Pergunta se referindo ao brownie recém assado.

—Tudo bem.

(Tia Marrie): Leite com chocolate ou... Não sei por quê ainda dou outras opções.

—Também não sei. —Ri.

(Tia Marrie): Ok, estamos prontas para voltar aos filmes?

—Estamos. —Digo pegando um dos pratos em que coloquei um pedaço de brownie.

   Nós voltamos para a sala e terminamos os filmes depois de algumas horas.

(Tia Marrie): Eu preciso descansar, mas se precisar de qualquer coisa pode ir até o meu quarto me chamar tudo bem?

   Acenei que sim mesmo sabendo que não acordaria ela mesmo que precisasse muito. A tia Marrie sempre foi do tipo de pessoa que cuida de todos ao redor antes de cuidar de si mesma e isso sempre me preocupou porque isso fazia com que ela ignorasse o que sentia também.

   Eu desliguei a TV, arrumei o sofá e então subi pro meu quarto, voltei para a poltrona mas o livro não estava no mesmo lugar em que o deixei. Talvez a tia Marrie tivesse o voltado para a estante quando subiu, mas por quê? Peguei o livro novamente e me sentei na poltrona abrindo o mesmo, me assustei ao ver que as letras pareciam sobrepostas, embaralhadas, talvez eu estivesse mais cansada do que imaginei, fechei o livro e o coloquei de volta na estante.

Me deitei na cama na tentativa de dessa vez conseguir dormir e descansar.

⋅•⋅⊰∙∘☽༓☾∘∙⊱⋅•⋅

—S/N.


   Me sentei rapidamente assustada na cama, ouvi alguém me chamar mas não era a voz da minha tia... Parecia estar perto mas olhando ao redor eu não via ninguém. Eu já sentia um nó já se formar em minha garganta, e então um barulho... O mesmo livro que eu tentava ler mais cedo havia caído da estante.

   Senti um arrepio me percorrer, e o nó aumentar, o livro estava entre outros na mesma prateleira, não havia como ter caído, não sozinho. Meu corpo parecia paralisado naquela posição, não haviam explicações para aquilo... Com alguma força, ou coragem... Talvez insanidade ou adrenalina, eu me levantei da cama, minha tia já devia ter acordado, ela saberia me explicar o que houve. Ou era o que eu esperava.

   Saí do quarto ainda arrepiada e assustada e andei em passos largos e cuidadosos até o quarto da mais velha. Mas na metade do corredor ouvi a mesma voz me chamando por mais uma vez. Parecia estar do meu lado, mas isso não era possível, isso só podia ser mais alguma brincadeira que a minha mente aprontara... Não havia mais ninguém na casa além de nós duas.

Flashback ON

Eu sentia a maciez das cobertas sobre mim e do travesseiro sob a minha cabeça, mas o elemento mais suave ali com certeza era a voz da minha mãe cantando uma das minhas canções de ninar...

"Atravesse a neblina comigo

Minha linda criançaEstamos indo para a terra dos sonhos,
Onde a loucura do mundo avança.

Hoje já passou, chegou a hora
De os passarinhos voarem.
O amanhã está perto, esta é a hora
De os velhos corvos morrerem.

Sonhe o sonho de um mundo desconhecido
Onde qualquer coisa pode acontecer. Amanhã você fará de seus sonhos realidade,
Mas esta noite me deixe estar neles com você". 

—Princesa das Cinzas_ Laura Sebastian

   Enquanto ouvia a voz dela ficando cada vez mas longe, sentia os dedos do meu pai ainda passando levemente pelos fios do meu cabelo, aquela foi uma das muitas noites em que dormi em paz, literalmente como um anjo como mamãe sempre dizia.

Flashback OFF

   E agora eu estava ouvindo aquela mesma canção, á segundos atrás eu sentia medo do dono da voz, mas agora não sabia o que sentir. Seja lá o que aquilo fosse, conhecia uma das minhas mais preciosas lembranças, eu queria respostas, mas não sabia á quem perguntar. Se eu perguntasse algo a voz... Ela responderia? Me custaria algo se eu tentasse?

—Co...como... —Eu nem mesmo sabia o que exatamente perguntar.

—Acho que gostaria de perguntar... Quem? —Diz rindo... Sua risada me causava calafrios, senti minhas mãos gelarem e eu sabia que estava pálida, como se todo o sangue do meu corpo tivesse evaporado em questão de segundos. —Não sou coisa da sua cabeça.

   Senti meus joelhos fracos e logo caí ajoelhada, os quadros que estavam pendurados nas paredes do corredor foram ao chão quebrando seus vidros espalhando seus cacos por todo o chão fazendo soar um estrondo pela casa.

(Tia Marrie): S/N... —Chamou enquanto abria a porta assustada.

   Eu não conseguia dizer nada, mal percebia que já chorava sem nem mesmo saber o por quê. Ela andou até onde eu estava e se abaixou me abraçando.

(Tia Marrie): O que aconteceu meu amor?

—Eu não sei explicar... Tem algo na casa...

(Tia Marrie): Algo?

—Acho que alguém.

(Tia Marrie): S/N...

—Não foi um pesadelo... Não foi, eu juro. —Tento me explicar.

(Tia Marrie): Ei... Tudo bem, eu acredito em você meu amor. Vai ficar tudo bem. —Me acalma afagando meus cabelos.

—O que vamos fazer?

(Tia Marrie): Ainda não sei... Mas se quiser podemos voltar pra casa e...

—Mas... Essa é a casa da nossa família... Vamos deixar tudo isso aqui?

(Tia Marrie): Ainda não sabemos o que está acontecendo meu amor... Não podemos arris... —Sua fala foi interrompida por um grito e o pavor me preencheu.

   Um dos cacos dos maiores quadros havia atravessado seu corpo na altura de seu estômago. Entrei em pânico, o hospital mais próximo ficava á longas horas dali, ela morreria no caminho pelo sangramento. O que eu faria? Meus soluços já ecoavam pelo corredor enquanto eu tentava fazer algo... Mas nada parecia adiantar. Senti algo me puxar pra longe dela e eu ainda via seus olhos cobertos pelo pânico e ouvia sua voz em um último grito me chamando, logo senti meu corpo ir contra algo e não vi mais nada depois disso.

Flashback ON

(S/P): Não conta pra mamãe. —Sussurra me entregando um copo cheio de sorvete.

   Já se passavam das duas da manhã, no dia anterior passamos a tarde toda no lago, quando chegamos eu estava tão cansada que dormi no sofá sem nem mesmo jantar antes. Horas depois eu acordei com fome, por sorte meu pai estava na cozinha bebendo água.

Aham. Aquiesci piscando um de meus olhos.

   Ele me deu um beijo na testa e me ajudou a descer do banco em que estava sentada, segurou a minha mão e fomos pra sala, ele escolheu algum desenho animado pra assistirmos e passamos algumas horas no sofá até que a mamãe acordasse e nos colocasse na cama.

Flachback OFF

There's a Voice between UsOnde histórias criam vida. Descubra agora