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Eles saem para uma floresta.

Harry engasga um pouco; ele não consegue evitar. Eles estão na foz de um vale, olhando para um riacho longo e sinuoso que o corta. As paredes do vale estreito são ladeadas por árvores, e mesmo ao luar, embora ainda não tenha chegado a primavera, há uma sugestão de verdura esboçada em cada linha do lugar. Harry pode ouvir o canto dos pássaros, os pios e gritos das corujas selvagens e dos tordos. O ar tem gosto e cheiro diferentes do que há pouco – mais fresco. Limpo.

Harry, um pouco descontrolado, olha ao redor através do portal, onde ainda pode ver a Londres trouxa em toda a sua glória mundana, pintada em asfalto cinza e com o brilho distante dos postes de luz. Ele olha de volta para o vale. Não fica menos surreal.

Draco ri, um estrondo brilhante na escuridão.

— Bom, não é?

— Bom — Harry repete, atordoado, nem mesmo ouvindo a palavra. — Malfoy, onde estamos?

Draco sorri; quando fala, parece um pouco com os passeios que faz no museu.

— Então, havia um mago louco na década de 1660 que estava convencido de que o Beco Diagonal seria o local de algum acidente terrível - acho que um centauro lhe contou ou algo assim, não me lembro agora. De qualquer forma, ele comprou todas essas terras pensando que, quando o desastre em questão acontecesse, as pessoas iriam querer reconstruir em outro lugar. E então, por incrível que pareça, houve um incêndio bastante devastador na Diagonal cerca de dez anos depois, mas ninguém quis se mudar. É quase como se — acrescenta ele, com uma vozinha incisiva, — os magos se apegassem às suas casas e locais de trabalho, porque as próprias estruturas desenvolvem personalidades com o tempo.

Harry suspira.

— Você vai deixar isso de lado algum dia?

— Deixar para lá não é realmente uma área de força para mim — diz Draco, desviando o olhar. Harry segue seu olhar até o riacho, observa a forma como a água se curva e serpenteia. — Também não foi para Isidore Dibbler; esse era o nome dele, o homem que comprou a terra. Quando o Estatuto do Sigilo foi aprovado, ele selou esse lugar, convencido de que um dia todos estariam prontos para deixar o Beco Diagonal de vez e ele ficaria rico. Então ele morreu. Ele não tinha filhos, nem ninguém para herdar, e gastou todo o dinheiro que tinha para comprar a terra, então, pelo que sei, ela ficou aqui por séculos, escondida de qualquer maneira. Uma daquelas coisas que meio que... caíram no esquecimento.

— Isso é... — Harry diz, e antes que ele possa escolher entre insano, incrível ou alguma combinação dos dois, se pergunta: — Espere, então como você encontrou isso?

— Ah, anos atrás eu encontrei os diários dele em uma coleção de livros antigos que comprei em leilão — Draco diz, acenando com a mão. — Eu faço isso às vezes; você pode aprender coisas muito interessantes dessa forma. O velho idiota ficou falando por seiscentas páginas sobre como lhe foi negado o destino que lhe cabia como dono do Novo Diagonal - não é um grande pensador criativo, Dibbler -, mas, mais ou menos na metade do livro, havia um mapa que marcava o lugar para onde eu nos apartei. Abaixo dele, estava escrito: "Vá até o local e fale com ele com seu corpo como o peixe fala com o oceano; só então você percorrerá o caminho". Então, eu... Bem. — Draco dá de ombros, parecendo um pouco envergonhado. — Passei dois dias lá fora tentando falar com meu corpo como o peixe com o oceano, na verdade.

— O que — diz Harry, já rindo, — só meio que - se mexendo?

— Mais ou menos — Draco admite. — Os trouxas pensaram que eu era um artista de rua; eles jogaram moedas em mim. Não foi um dos meus momentos mais dignos.

What We Pretend We Can't See | DrarryOnde histórias criam vida. Descubra agora