Chegando a meu prédio, entrei no elevador com pressa, agitada. Não o via há quase 1 ano e meio e apesar de termos decidido terminar o noivado, estava louca de saudade. Decidimos isso depois de muito conversar. Provavelmente já não estávamos tão felizes juntos quanto antes, e quando ele veio com a notícia de que viajaria para o Canadá em busca dos pais, desabei. Já tivera abandonado um lugar e deixado meu amor lá uma vez: sabia como é. Nada seria igual.
Quando saí do elevador, avistei Stephen sentado na mala azul marinho com rodinhas de costas para minha porta, fuçando no celular. Viciado.
- Ai meu Deus! Stephen! - gritei ao correr pelo corredor de paredes brancas impecáveis.
Mal pude vê-lo levantar-se: quando dei por mim já estava erguida no seu forte abraço, envolvendo seu pescoço com meus braços.
- Quanta saudade, pequena! - ele disse, ainda me abraçando forte.
- Pensei que só o veria no próximo ano!
- Resolvi voltar antes. O bom filho à casa torna, não é?
Saí do abraço e pude fitar seus olhos verde-esmeralda. Passei a mão por seu cabelo castanho escuro.
- Vamos entrar. - fui pegando as chaves. Já dentro do apartamento, falei: - Como foi a viagem? Como é o Canadá?
- Demais. Não muito diferente dos Estados Unidos, não. Pelo menos não para mim. - sorriu - Você... Como você está?
- Estou bem. Com muitos trabalhos na Palacce. Nossa, somos um sucesso, você nem acredita...
Fui interrompida por Stephen que balançou a cabeça negativamente e falou:
- Perguntei sobre você, não sobre o trabalho. Como você está?
Fiquei uns segundos imóvel, até responder:
- Bem, Stephen, estou bem. Só com saudades e muito surpresa. Apenas isso. - falei calmamente.
- Ótimo. - voltou-se para o sofá, onde sua mala estava e a abriu, retirando uma caixa branca com um laço azul tiffany em sua tampa. - Lembrei de você na hora... - olhou para a caixa em suas mãos - Não me julgue por já ter comprado seu presente de viagem há meio ano atrás.
Sorri para ele enquanto recebia a caixa de suas mãos. Desfiz o top e retirei a tampa, revelando algo de pano. O peguei, largando a caixa na poltrona ao meu lado. O vestido era de um material delicado, macio, de uma tonalidade escura, um preto grafite, e haviam pequenas margaridas brancas por todo ele. Possuía um comprimento aceitável: mais ou menos metade da coxa. Havia um decote atrás, mas não era exagerado. Stephen me conhece mesmo, pensei.
- Nossa - eu estava boquiaberta, quando me dei conta virei o olhar do vestido para ele - é lindo. Muito lindo. Obrigada, Stephen.
O abracei e deixei um beijo em sua bochecha esquerda. Ele afagou meus cabelos, até passar a mão ao meu rosto, acariciando.
- Não agradeça, apenas aceite jantar comigo hoje à noite, como nos velhos tempos.
Sorri e concordei, colocando minha mão sobre a sua em meu rosto.Já no banho, fiquei imaginando se "como nos velhos tempos" significava "como um casal". Pedi mentalmente para que não fosse, para que estivesse vendo segundas intenções onde não havia.
Vesti o vestido novo, com uma sandália rasteirinha - que não me ajudava muito na altura mas me deixava confortável depois de um longo dia -, passei um batom vermelho claro nos lábios e um rímel. Organizei alguns fios de cabelo que insistiam em ficar arrepiados, e fui para a sala, ao encontro de Stephen, que já havia se arrumado antes de mim. Assim que me viu, levantou e me analisou.
- Uau. Você está linda, Mia. - enquanto me dirigia até a mesa de centro para apanhar minha bolsa, Stephen pôs as duas mãos nos bolsos da calça jeans. - Vamos?Eu nunca havia ido naquele restaurante antes. Possuía um clima agradável, descontraído. Haviam vasos de flores pelas extensas paredes laranja escuro, e toda a decoração passava tranquilidade.
Escolhemos uma mesa em frente a uma das aberturas com porta de sacada do ambiente. Podíamos observar algumas árvores balançando pelos vidros e a brisa leve entrando pelos vãos entre-abertos. Enquanto conversávamos, nosso pedido foi retirado e entregue. Filés de peixe com limão, arroz branco e uma considerável porção de salada. Após minha primeira garfada, Stephen quebrou o silêncio na mesa.
- Sabe... não quero que pense que tenho intenções além. - porque ele estava falando isso logo agora? Por um instante foi como se ele tivesse lido meus pensamentos de mais cedo. - Quero dizer, você sabe que é muito importante para mim. Você foi quem mais me apoiou e me fez crescer em toda minha vida; você sabe disso. Se hoje sou o cara que sou, foi graças a você, que me amou mesmo com meus problemas.
Ele se referia a seus antigos problemas emocionais que o seguiam há um tempo, a partir de alguns anos depois que fora adotado - quando possuía média de 1 ano de idade - por uma família onde o pai tornou-se alcoólatra 6 anos depois da adoção. Depois de muita procura, descobriu os pais biológicos no Canadá, e fez contato. Soube de sua história pela internet, onde lhe foi contado que os pais biológicos não o haviam abandonado exatamente, mas tiveram uma escolha difícil a fazer: ou o deixavam em um orfanato ou o davam para alguém e saíam para trabalhar e para tentar sobreviver e ainda alimentar o outro filho que tinham, ou ficavam os quatro juntos para morrer de fome.
Há três anos Stephen tinha se recuperado dos traumas de infância e adolescência, e já éramos próximos nesse tempo. Ele ainda toma alguns remédios para ansiedade mas nada demais. São como nossos remédios para dor de cabeça.
- Não, Stephen, não precisa dizer nada. Nem passou pela minha cabeça isso. - menti.
- Você poderia me achar um babaca por, depois de tanto, agir assim. Só quero manter uma relação legal com você.
- Eu sei, eu sei. Também não quero perder seu carinho e amizade. Aliás, eu ia te perguntar e esqueci... Vai ficar lá em casa, né?
Stephen analisou o prato por alguns segundos, voltou o olhar para mim e, então, respondeu:
- Não sei, Mia. Não acho que deva. Estava pensando em alugar algo lá perto.
- Não. - soei grossa, seca. Suavizei a voz para concluir: - faço questão. Aquele apartamento é tão grande, sinto falta de ter alguém para conversar de noite. Além do mais, você gastou tanto no Canadá, eu sei que gastou.
Stephen sorriu, uma expressão um tanto quanto sofrida.
- Tudo bem... eu fico. Mas prometo que é temporário. Preciso procurar um emprego, você sabe, não consigo ficar parado por muito tempo.
- Tenho certeza de que encontrará algo rápido. Você é um ótimo arquiteto. - falei, sorrindo serenamente e fui respondida por outro sorriso.
Há pouco o garçom havia entregue a sobremesa quando ouvi meu celular tocar; já haviam 4 chamadas perdidas. Sarah. Retornei a ligação, pedindo licença para Stephen e indo até fora da porta mais próxima.
- Alô?
- Mia? O que aconteceu? Estou tentando falar com você há horas. - disse aquela conhecida voz do outro lado da linha.
- Foi mal, estou jantando com Stephen, não vi tocar.
- O que? - ela quase gritou do outro lado. Estava eufórica desde que atendera o telefone. - Stephen? Você está jantando com ele? O que rolou? O que vai rolar?
Revirei os olhos.
- Você não me ligou pra isso, Sarah.
- Oh... certo. Amanhã. Cedo. E quando digo cedo é cedo mesmo. Você e eu tomando café na Bills. Antes da Palacce.
- Algum motivo especial?
- Você saberá. - e desligou.
Sarah tinha o incrível dom de te deixar atordoada e curiosa ao mesmo tempo.
- Algum problema?
- Não. Sarah sendo Sarah, apenas.
- Entendo. - ele riu baixo.
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Are you mine?
RomanceSe depois de muito tempo a vida lhe devolvesse a oportunidade de viver o amor da sua vida novamente, viveria? Até que ponto seria capaz de esquecer tudo pra isso? Não consegue responder? Bom... Mia Wayland também não. "Meus pensamentos são estrelas...