Five

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Como prometido: lá estava Stephen sentado em uma mesa perto do chafariz do Free. Impressionante. Não sei se ele esperava que eu chegasse acompanhada de Sarah, Ethan, Toni e Lucya; mas assim cheguei. Stephen conhecera Ethan e sempre se deram muito bem.
Todos o cumprimentaram, e, após Sarah contar a grande novidade, todos fizemos nossos pedidos e aguardamos.
O almoço foi tão agradável que quando dei por mim já estava na hora de voltar. Quando entramos, não recebi boas notícias de Olivia...
- É isso mesmo. Você vai ter que sair da cidade para resolver isso. O cliente disse que só aceita se for você, a dona.
- Mande Sarah. - Antônio gritou.
- Não - Olivia se impôs - ela deixou claro que é para Mia ir.
- Droga. Me passa o endereço? - peguei o papel da mão de Olivia enquanto Ethan dizia:
- Não acha perigoso? Posso ir com você, Mia.
- Está tudo bem. Qualquer coisa eu ligo diretamente para você.
Dirigi até a tal cidade. Se bobear, rodei a cidade toda e concluí que o endereço não existia. Alguém havia passado um trote para que eu saísse à toa. Resolvi retornar à Manhattan.
A estrada estava calma, mas eu estava exausta e com dor de cabeça. Começara a chover há pouco: uma leve garoa, quase uma neblina.
Eu já havia entrado na cidade. Dirigia minha Mercedes Benz branca no limite de velocidade da estrada, quando, quase do nada, um carro branco, o qual não tive tempo nem de ver o modelo, cruza minha frente na encruzilhada das quatro ruas que se encontram. Freei rápido como nunca havia precisado fazer antes. Por sorte, consegui desviar do carro. Quando eu realmente voltei a mim, olhei para minhas mãos ainda firmes no volante. As pontas dos dedos brancas. Creio que eu também estava pálida - mais do que é de costume. Passei a mão no cabelo, tocando algumas mechas rebeldes para trás. Tirei o cinto e desci; eu tremia. Pensei que não conseguiria ficar em pé. Olhei em volta e vi algumas pessoas que se aproximavam para ver o incidente. Avistei o carro que havia se jogado na minha frente. Era uma caminhonete Porsche de um branco impecável. Fui apressada até o carro, que ainda abrigava o motorista.
- Seu idiota! Está tentando se matar? Pois faça isso sem ser um assassino! Imbecil! Comprou a carteira, foi? Saia daí e venha me encarar, covarde! - eu gritava para o vidro da frente, já que havia uma película escura que me impedia de ver seu rosto, enquanto dava tapas e batia com o pulso cerrado em cima do capô.
A porta do motorista se abriu. Quem sabe ele também está em choque, pensei. E então ele desceu, e logo notei que ele realmente estava em choque, e eu também, e pelo mesmo motivo - que não era o acidente -: nos conhecíamos.
Com olhos arregalados e boquiaberta, encarei aqueles olhos azuis e cabelos dourados familiares, imóvel. Um pequeno flash do passado passou diante de meus olhos e eu já não ouvia mais as pessoas comentando, falando conosco e nem a fraca sirene da polícia, devido a lonjura da viatura.
- Não, não é... Você não está... Isso não é verdade... - gaguejei, quase num sussurro.
Estava acontecendo, embora nenhum de nós quisesse acreditar, era real. Era isso, sem volta. Após cinco anos, o destino nos uniu novamente, e agora ali estava, ainda magro, alto e encantador. Novamente tive a oportunidade de ver os olhos azuis de James Metcalfe brilharem para mim.
Foi como um tiro; queimava por dentro, doía. Há essa altura, algumas lágrimas rolavam em meu rosto pálido. Senti como uma fisgada no coração. Voltei a ouvir as vozes das pessoas ao redor, o trânsito e tudo a volta tomou foco. Ainda assim, as pernas amoleceram, mas assim que caí sentada no chão, me apoiando com as mãos ao lado das pernas caídas, algumas mãos gentis me acudiram.
"Você está bem?" "está ferida?" "como se sente?" foram as coisas que mais ouvi até me levantar. A polícia havia chegado, notei o guarda anotando algumas coisas num bloco esverdeado e conversando com James, que cruzara os braços e estava mexendo com uma das mãos nas pulseiras do outro pulso. Outro guarda me mantinha em pé por estar um pouco tonta ainda. Eu só encarava James, que encarava o guarda número 1, com uma expressão dolorida.
- Pode me contar o que aconteceu? - o guarda número 2 perguntou. Tentei responder mas as palavras fugiam de mim e eu só conseguia permanecer com o olhar fixo em James, que agora também me olhava seriamente.
- Já que não consegue nem colaborar, terei de levá-lá até a delegacia de polícia, você não tem condições de dirigir. Sinto muito, senhora. Pode pegar sua bolsa no carro, se quiser.
Assenti e fui até a porta do motorista do meu carro, caminhando lenta, quase que roboticamente. Apanhei a bolsa e tranquei o carro, apesar de saber que o guincho o levaria.
Os dois guardas nos deixaram sozinhos em frente à nossos respectivos carros e foram até a viatura. Um entrou e o outro ficou parado do lado de fora. Estavam conversando.
Senti os olhares de James; não podia corresponder. Não tive escolha quando senti sua presença, escorado no capô do meu carro ao meu lado esquerdo. As duas mãos nos bolsos do jeans escuro. Hábito antigo.
- Você está legal? - sua voz...
Assenti confusa.
- Não parece. - ele riu. O encarei, séria, com expressão brava.
- Foi mal, não queria te apavorar. Se puder acreditar, realmente perdi o controle. Pista molhada, você sabe. - ele disse, sério novamente.
Assenti outra vez. O choque só havia passado em parte.
- Então, nos acompanham? - o guarda número 1 perguntou.
Entramos na viatura. Os guardas nos bancos da frente e nós no de trás, um de cada lado, separados por um pequeno vão.
Descemos, em silêncio, e entramos. Um homem jovem ficou me encarando - devia ter me reconhecido. Que legal, agora estava quase sendo tietada por um homem algemado na delegacia.
Fomos até uma mulher atrás de uma mesa com um computador e uma papelada. Em voz alta, ela disse:
- James Metcalfe Bower, de Seattle. E... Ora, ora, senhora Wayland, também de Seattle e com passagem pela nossa delegacia.
- Senhorita. - revirei os olhos e cruzei os braços.
- Você... tem passagem pela polícia? - James olhou para mim, surpreso, quase gargalhando.
- Ah, qual é? Você é algum bom-samaritano por acaso?
- Claro que sou. - debochou - Mas o que foi? Esfaqueou um ex-namorado que tinha mal hálito?
No momento pensei em matar ele; não por ele ter mal hálito - pois não tinha - mas por me irritar.
- Eu não tive culpa! - bati os braços ao lado do corpo - Aquela árvore maldita se jogou na minha frente! Não teve como desviar!
James gargalhou.
- Você foi fichada porque atacou uma árvore?
- Na verdade, foi pelo gato que estava na frente dela... - falei baixinho, olhando para o chão com os braços novamente cruzados.
Ele não respondeu. Apenas riu. Revirei os olhos outra vez.
Falamos individualmente com o delegado para contar o que aconteceu. Fomos liberados em seguida. Parei perto da rua para atacar um táxi e ele ficou parado mais atrás.
- Você mudou. - ele quebrou o silêncio. Não respondi. - Vai me deixar falando com o vento?
- É, as pessoas mudam, as coisas mudam, tudo muda. E não tem vento. - falei irritada.
- Isso mudou também; você era legal.
- Ah, cale sua boca. Não sabe nada sobre mim. Não mais. Quase nos matou num acidente de carro e agora vem quebrar o silêncio para me ofender?
- Sabe - ele deu um passo à frente - acho que você está certa na parte que disse que eu não sei mais nada sobre você. Eu sabia sobre Mia, sobre a Mia de Seattle, aquela Mia, não sobre isso que você se tornou.
Fiquei imóvel enquanto via Jamie pegar um táxi em minha frente. Estava digerindo o que ouvi. Sabia que não era verdade, eu não era assim. Mas não podia culpá-lo; não nos víamos há mais de cinco anos. Talvez fosse bom que ele agora pensasse isso pois pretendia não vê-lo mais. Nunca mais.

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