Nine; The letter

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Eu só posso estar alucinando. Pensei enquanto corria para longe daquela praia com todas as forças restantes que detinha em meu corpo. Estava assustado e confuso, - o que acabara de acontecer- queria apenas fugir para um lugar distante e repousar para sempre no mesmo. Foi o que eu fiz, na verdade, apenas a parte de fugir para um lugar distante, acredito que a parte de ficar em um mesmo local para sempre seria loucura.

Estar diante dele depois de tanto tempo foi idêntica a sensação de tomar um soco, a primeira impressão é de estar tudo bem, mas quando faz efeito, você toma noção do que aconteceu e precisa de um mecanismo de defesa, bem, o meu foi correr até onde eu conseguia, precisava chegar em um espaço que eu me sentisse seguro, com isso em mente, meus pés me levaram até uma porta conhecida, não podia acreditar, eu havia chegado ao meu antigo atelier, onde tudo começou, que agora habitava um velho amigo, Naruto. Por um impulso corporal, toquei a campainha, meu corpo tremeu, minha mão gelou. Kakashi, o que aconteceu, perguntou o homem a minha frente, eu não tive forças para responde-lo, os espamos do choro, que até esse momento não havia percebido, se tornaram mais aparentes, as palmas trêmulas tocaram a derme do garoto,que percebeu de imediato o que havia acontecido, gritou algo com Sasuke, que não fiz questão de compreender, me acompanhou até o quarto de visitas, onde pediu para eu me sentar, comentou algo sobre chá e se retirou do cômodo, apressado, como todos ao meu redor, tudo parecia agitado, rápido, com muita pressa, as pessoas não aproveitam os momentos que passam, estão muito ocupadas com tudo, sempre correndo, nunca relaxavam, isso estava me entristecendo mais ainda, pois eu sabia que era exatamente assim, coisas desse tipo,- Tão pequenas e sem importância, para quem vê de fora - você só percebe quando desacelera, quando quebra essa rotina, quando entende as coisas a sua volta.

Quebrando meu raciocínio, o Uchiha entra no cômodo, segurava um papel irreconhecível, me deixou assustado a tranquilidade que ele caminhava em minha direção, estava lento, relaxado.

- Uma vez, há ameses atrás, Obito me mandou duas cartas, uma escrita não abra e a outra abra. Fiz como o instruído pelas folhas. Me surpreendi ao ler a carta, dizia sobre sua ida à Akatsuki e sobre como ele estava perdidamente apaixonado por alguém, que ele nomeou de Branca de Neve, a princípio pensava que era uma mulher branca que havia ganhado seu coração. - Deu início a sua fala enquanto caminhava até a parte mais próxima de mim da cama.-, porém quando sua carta terminou, refleti sobre o que ele havia me contado sobre esse ser misterioso, cheguei a conclusão que nunca adivinharia quem era o amor não correspondido, ele viria até mim. - Concluiu ao se sentar e me entregar uma das cartas, marcada por uma caneta barata "não abra". - E não é que a pessoa veio mesmo?! - Complementou ao se levantar, me abraçar e sussurrar um "está tudo bem", me soltou e saiu do quarto, me deixando sozinho com a maldita carta.

Ao abrir o pequeno envelope, um arrepio correu por todo meu corpo, as letras mal desenhadas, o cheiro forte de guardado da carta, o papel áspero, a sensação que correu por meu corpo foi de saudade, momentos bons que eu tive com aquele homem que eu, provavelmente, jamais terei novamente. 

"Querido Kakashi,

Se essa carta chegou até você, significa que nos reencontramos.

Por um lado, isso é incrível, porém não é algo a se comemorar ainda, você está magoado, eu também, não posso negar, mas espero que você saiba, que mesmo depois de ter sumido, eu nunca deixei de te amar.

Precisei ter esse tempo sozinho, pensar na minha vida, entender o que estava acontecendo, se era exatamente isso que eu quero para a minha vida, eu cheguei a conclusão que, sim, é isso que eu quero para mim. Quero uma vida ao seu lado, ficar com você até ficar velho, ter uma família com você, porque mesmo depois de tanto tempo eu continuo amando você, cada pedaço do seu corpo, cada mísera célula sua.

Por mais que você ache que isso é um erro, eu discordo, somos mais perfeitos juntos do que você imagina, não erramos quando nos amamos, não erramos quando nos desejamos, não errei quando eu disse que te amava, pois é isso que eu sinto e eu não posso achar isso errado.

Eu tive muito medo quando estive sem você, sozinho, perdido, o que não fazia sentido, pois eu estava em uma organização com dezenas de outras pessoas, mas a verdade é que eu me sentia sozinho pois nenhuma dessas pessoas eram você, nenhuma delas fazia meu estômago embrulhar com apenas um toque como você faz, ninguém conseguiu preencher o vazio que você fez na minha vida, espero que não seja tarde demais para perceber isso.

Com amor,

Obito Uchiha."

Ao terminar de ler a carta, um aperto no coração foi disferido, a dor emocional que sentia havia virado física, me sentia tonto, apenas percebi que derramava lágrimas quando elas começaram a pingar sobre o papel em minhas mãos, meu cérebro não conseguia raciocinar de forma lúcida, tudo que eu conseguia fazer era chorar e chamar por seu nome, tudo parecia confuso e aquele sentimento de culpa invadiu meus pensamentos novamente, formar uma frase se tornou difícil, então ao perceber a silhueta de um homem vindo em minha direção a passos calmos e grandes, eu me deixei levar, me permitindo ser abraçado pelo mesmo quando se aproximou o suficiente, meu olhos, enxarcados, não me permitiam identificar a quem eu disferia tal ato, apenas o reconheci quando minhas mãos encontraram com o rosto do mesmo, os machucados, as cicatrizes, eu sabia quem era, Obito, ele estava ali, observando minha miséria, mas não parecia estar achando ridículo, não estava ao menos com pena, ele sentia um estranho sentimento de alívio, que eu não conseguia compreender.



Continua...

Amor proibidoOnde histórias criam vida. Descubra agora