Emma
- Preciso fazer xixi.
Noah geme.
- De novo?
- Não faço há duas horas- digo me defendendo.
Na verdade, não preciso ir ao banheiro, mas preciso sair desse carro. Depois da conversa que tive com Billie na noite anterior, o carro ficou diferente com ela ali dentro. Parece que tem mais dela, e a cada minuto que se passa sem que diga nada, me pergunto o que está pensando. Se está arrependido da nossa conversa. Se vai fingir que nunca aconteceu.
Queria que meu pai tivesse fingido que
nada aconteceu. Antes de irmos embora essa manhã, estava sentada à mesa da cozinha com ele quando Billie apareceu.
- Dormiu bem,Billie? - perguntou ele,
enquanto ela sentava na mesa.
Achei que billie fosse corar de vergonha, mas só olhou para o meu pai e balançou a cabeça.
- Não muito, parece que tem um vazamento na pia e ficou a noite inteira fazendo barulho.
Meu pai pegou o copo e o ergueu na direção de billie.
- Bom saber que estava no quarto ontem a noite.
Por sorte, Noah ainda não havia se sentado e não escutou o comentário do meu pai. Billie passou o resto do café da manhã em silêncio, e a única vez em que a vi falando depois disso foi quando Noah e eu estávamos no carro. Ela se aproximou do meu pai e apertou sua mão, dizendo alguma coisa que só meu pai conseguia escutar. Tentei interpretar a expressão no rosto dele, mas ele se manteve neutro. Meu pai é quase tão bom em esconder os pensamentos quanto Billie . Quero muito saber o que ela disse para o meu pai antes de partirmos.
Também quero saber as respostas de mais uma dúzia de perguntas que tenho a respeito de Billie.
Quando éramos mais novos, Noah e eu sempre concordamos que, se pudéssemos ter qualquer superpoder, escolheríamos a habilidade de voar. Agora que conheci Billie, mudei de ideia. Se pudesse ter um superpoder, seria a habilidade de me infiltrar. Eu me infiltraria na mente dela para enxergar cada pensamento.
Eu me infiltraria no seu coração e me esparramaria por ele como um vírus. Seria a Infiltradora. Isso. É um nome legal.
-Vá fazer xixi -ordena Noah agitadamente, enquanto para o carro.
Queria voltar ao colégio só para chamá-lo de bundão. Contudo, adultos não chamam os irmãos de bundão.
Saio do carro e sinto que está mais fácil respirar novamente, até que Billie abre a porta e sai do carro para o mundo. Entramos juntas no posto de gasolina, mas não dizemos nada.
É engraçado como as coisas são. Às vezes, não dizer nada fala mais do que todas as p lavras do mundo. As vezes, meu silêncio está dizendo: não sei falar com você. Não sei o que está pensando. Converse comigo. Me diga tudo que já disse na vida. Todas as palavras. Desde a primeira.
Pergunto o que o silêncio dela está dizendo.
Após entrarmos, ela avista a placa dos banheiros primeiro, aponta a cabeça e vai para a minha frente. Ela me guia. Eu deixo. Por que ela é sólido, e eu, líquido, e agora sou apenas o rastro dela.
Ao chegarmos aos banheiros, sem hesitar. Não se vira nem olha para mim. Não espera que eu entre primeiro. Empurro a porta, mas não preciso ir ao banheiro. Só simplesmente entrei.E ela está invadindo. Não acho que seja sua intenção. Está apenas invadindo meus pensamentos e minha barriga e meus pulmões e meu mundo. É o superpoder dela. Invasão.
A Invasora e a Infiltradora. Os dois têm praticamente o mesmo significado, então acho que formamos uma dupla um tanto problemática.
Lavo as mãos rapidamente para não encontrar ela saindo de uma das cabines. Abro a porta do banheiro, e ela está invadindo novamente. Está no meu caminho, parado na frente da porta por onde estou tentando sair.
