.A volta dos cabelos ruivos 01 [Prólogo]

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Era verão e, como sempre, nessa época do ano Miyagi estava repleta de pessoas que estavam passando feriados e finais de semanas com suas famílias, já Hitoka não. Faz quase 6 meses que a pobre coitada teve seu cargo na polícia rebaixado, enviada de volta para sua velha cidade. Foi ali onde a garota cresceu apaixonada por casos criminais e documentários investigativos, e foi um orgulho para seus pais ver aquela pequena garota crescer e se tornar uma pessoa tão importante. Yachi tinha orgulho de si mesma por tudo que havia conquistado desde que saiu dali, mas ter voltado fez ela se sentir um tanto inútil. Ela sabia que ainda conseguia resolver casos, mas por ficar quase dois (anos) afastada do emprego após uma onda de crises que haviam sido geradas graças a sua depressão, o departamento onde trabalhava decidiu deixar ela com um trabalho mais "fácil" e que não exigisse tanto esforço mental. O que era uma péssima lábia já que, ficar horas e horas na frente do computador arquivando casos antigos era quase a mesma coisa, e pior, era uma verdadeira dor de cabeça! Mas ela ainda era muito grata por tudo, afinal de contas ela ainda estava no que seria seu trabalho dos sonhos. 
Naquele dia Hitoka estava voltando do trabalho, ela só não contava com a má sorte dos céus! Naquele dia em específico ela não levou guarda-chuva para o trabalho, mas a previsão do tempo acabou deixando uma surpresa e a coitada acabou no meio de uma tempestade. A loira jurou-lhe mesma nunca mais usar saltos, mesmo que não muito altos, para ir trabalhar. Chegou em casa encharcada, deixou os sapatos do lado de fora da casa e tentou ir para a despensa o mais rápido possível tentando não molhar o tapete que sua mãe tanto adorava.

— Yachi, minha querida, você já chegou?

“Falando do diabo.” Pensou ela.

A mais velha desceu as escadas e foi até a entrada da casa procurando pela filha, mas acabou encontrando só uma trilha de pingos até a porta da despensa que ficava na cozinha. Abriu a porta e encontrou a garota torcendo os cabelos na pia, e tirando o casaco que parecia pesar quase 10 quilo por conta da água. 

— Não me diga que você esqueceu de levar seu guarda-chuva para o trabalho? — Yachi revirou os olhos e pegou uma toalha do pequeno armário que tinha ali

— Tudo bem, mãe. Não digo.

Saiu porta afora e foi até a cozinha procurar algo que pudesse fazer o humor que perdeu quando entrou no trabalho pela manhã até o momento atual, voltar, mas não tinha nada tão interessante. Procurou entre os ímãs da geladeira algum número de pizaria ou algo que fizesse entregas naquele horário, mas não achou nada, já a loira mais velha continuava á seguindo como uma sombra

— A senhora vai ficar me seguinte até quando? E por que ficou acordado até tão tarde da noite me esperando hoje? — Se sentou na mesa da cozinha de pernas e braços cruzados 

— Por nada, fiquei preocupada por conta do temporal que começou e achei melhor esperar você chegar, mas parece que foi em vão já que seu humor não 'tá lá dos melhores — Ela se enrolou com o roupão que estava usando e subiu o primeiro andar da casa de volta — Boa noite para você

Hitoka suspirou e preferiu não responder o, boa noite dá mais velha, a relação das duas nunca foi das melhores, mas depois que seu pai se separou de sua mãe parece que tudo ficou pior. As irmãs mais novas de Yachi, assim como ela, já saíram de casa há muito tempo, mas a volta surpreendente dela assustou um pouco os pais, já que eles estavam em processo de separação a meses, e ter encontrado ela naquela situação fez com que ambos voltassem a ficar mais próximos, e todo esse plano de separação acabou ficando de escanteio. Não foi a intenção fazer com que eles ficassem juntos, mas acabou acontecendo e o resultado no final não foi ótimo — Pelo menos não para a coitada da Yachi.
Parou para pensar por alguns minutos e se deu conta de que ainda estava vestida com as mesmas roupas desde que chegou em casa, correu para o seu quarto e tratou de pôr roupas quentes assim que terminasse seu banho. O dia fora difícil, e mesmo após deitar para dormir, a loira sentiu tudo pesar e o corpo parecia doer mais do que o comum. E assim, como de costume, só conseguiu pegar no sono depois que toda aquela angústia saísse do seu corpo.

(...)

Mais um dia se iniciava. 
Yachi estava vestida com a farda do trabalho enquanto tomava um café e lia o jornal, jornal que raramente tinha novidades, mas naquela manhã em específico tinha algo de extrema importância. A capa era sobre um possível assassinato que aconteceu em uma escola que não era tão longe de onde ela morava, e isso de certa forma á deixou chocada, já que ninguém, nem mesmo sua mãe, comentou sobre o assunto. Dobrou o papel e tentou de alguma forma guardar ele dentro de sua bolsa minúscula, tomou o café em um único gole e saiu de casa igual um vulto. Ficou ali mesmo na frente de casa esperando que um táxi caísse dos céus e a levasse até o trabalho, o que era impossível

— Ei, Yachi! 

A voz masculino, e muito familiar, veio da casa da frente. De longe não conseguiu ver muito bem, mas após atravessar a rua e ir até o rapaz, Hitoka teve certeza de quem era 

— Hinata? Por que você 'ta em Miyagi? 

Essa foi a única reação dela, afinal, por que Hinata estaria em Miyagi? Antes mesmo da própria loira ir embora, ele deu um jeito de sair daquele lugar, esse que ele mesmo jurou diversas vezes nunca mais pisar os pés! 

— Ah! Meu primo de terceiro grau tá sem os pais e acabou acontecendo uma tragédia enorme na escola onde ele estuda, e como eu sou o único parentesco que ele tem eu tive que vir — O homem um pouco mais velho vestia roupas que pareciam de academia, era bem provável que já estivesse ali há muito tempo — E você Yachi-san. Faz tempo que eu não te vejo, e até onde eu sei você era a queridinha do patrão

— Sim, eu era. Acabei tendo alguns problemas no trabalho e decidi voltar para o início da minha carreira — Shoyo riu — Mas o seu primo, ele 'ta bem com toda essa situação da escola? Eu fiquei sabendo do caso hoje, nunca imaginaria nada assim acontecendo aqui

— Eu também nunca iria imaginar, mas ele 'tá bem eu acho. Até onde eu sei ele e o garoto eram só colegas de classe — Um garoto de cabelos escuros saiu da casa e caminhou até o ruivo — Aconteceu algo?

— Eu acho que tem alguém te ligando

O garoto encarou Yachi, e ela fez o mesmo com ele. Já fazia meses que havia voltado e ela nunca notou que um casal morava ali com um adolescente, não que fosse viver espiando a vida dos vizinhos, mas era um pouco surreal não saber

“Talvez hoje em dia as pessoas sejam mais reservadas” Pensou

— A pessoa falou quem era?

— Não exatamente, mas era um moço e quando eu perguntei o nome dele, ele disse que você iria saber quem é — O garoto entregou o telefone e voltou correndo para dentro de casa

— Me desculpa Yachi, mas acredito que nossa conversa vai ter que ficar para outro dia, tudo bem? — O ruivo segurou o celular tentando tapar o microfone e indicando que iria entrar em casa — É sempre bom reencontrar uma amiga de escola, principalmente assim tão perto

— É claro.

Hinata entrou na casa e Yachi voltou a segurar o jornal em mãos, olhou um pouco uma das fotos da manchete e notou que o mesmo garoto que acabou de ver ali, estava em uma das fotos da vítima, bem no fundo. A foto retrata uma festa de aniversário, onde a vítima estava com seus amigos comemorando.

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