Capítulo Quarenta e Dois

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Estella

Assim que saímos da sala Kastian entrelaça a mão na minha e me puxa rapidamente pra o quarto real.

— Me desculpe, nem tive tempo de comemorar sua volta. — Sorri e me abraça.

— Temos coisas mais importantes a fazer. — Retribuo o sorriso e ela beija minha testa.

— Senti sua falta, estava preocupada. Nunca vi ninguém ficar do jeito que você ficou, confesso, me assustei ao te ver naquele estado.

— Pelo que Lilith me disse esses episódios são comuns e frequentes desde minha infância, resultado das drogas injetadas em meu corpo.

— Psyche. Quando encontrá-la terei o prazer de despedaçar sua carne com minhas próprias mãos. — Sua expressão se enche de ódio por um minuto, mas se desfaz assim que volta o olhar para mim. — Mas o momento é de felicidade, você está aqui, de volta, comigo. — Diz segurando-me pela cintura e selando nossos lábios.

— Nunca iria esperar aquilo de Psyche, ela me parecia ser confiável. O quanto me enganei.

— Uns dos muitos dons de sua espécie é a mentira e manipulação. Vocês são perfeitamente capazes de fazer qualquer um acreditar no dizem. E mesmo nós, elfos, que conseguimos ler mentes, não somos capazes ver seus pensamentos se não quiserem.

— Nossa péssima fama me faz entender completamente o asco que alguns de vocês possuem por nós.

— Nem todos os demônios são iguais. Muitos no inferno não devem concordar com metade do que Psyche faz, só que a temem, conhecem sua capacidade e crueldade, ninguém ousa a contrariar. As primeiras pessoas que tiveram a coragem de contraria-la fomos nós, por isso ela deseja ansiosamente usar-nos como exemplo para as demais espécies.

— Com dois reinos ao nosso lado temos metade das chances de vencê-los. E como disseram na sala de reuniões, se planejarmos cada detalhe de nossos próximos passos é totalmente possível que vençamos. Assim como ela, não podemos agir impulsivamente.

— Podemos não falar sobre esse conflito? Já ouvimos muito sobre isso por hoje, esse assunto me desgasta, queria poder fugir de tudo isso.

— Nós podemos, quero dizer, pelo menos por uma noite.

— O que está insinuando?

— Podemos fugir de toda essa bagunça por uma noite, de todos esses reinos. Pode nos teletransportar para terra, até o então momento eles só lutam suas próprias guerras, e não fazem parte da nossa.

— Nem se quisessem participar disso poderiam. Em primeiro lugar, morreriam no primeiro combate, e em segundo lugar, a terra fica muito distante de nós, e nosso acesso a ela é de certo modo limitado.

— Limitado?

— Sim, não sabia? Cada ser místico tem dez chances de ir a terra, é um direito de nascença, esse número pode ser alterado. A cada ser que você tira uma vida suas chances sobem de acordo com quantas a pessoa que você matou tinha.

— Você tem quantas chances? — Pergunto.

— Quer mesmo saber?

— Sim, sei que você já aniquilou muitos seres.

— Quinze mil seiscentas e oitenta e duas chances. — Coloca a mão na nuca. Meu queixo quase vai ao chão. Sabia que ela já havia matado muitas pessoas, mas não imaginava uma quantidade tão grande.

— Você por acaso fez uma chacina?

— Estella, eu tenho novecentos anos. — Ela ri. — Em novecentos anos eu já tirei a vida de muitas e muitas pessoas.

— Realmente não quero mais saber sobre isso. Podemos ir a terra?

— Claro. Sei em que parte dela te levar. — Agarro seu ombro e fecho os olhos, hábito que adquiri para teletransportes élficos. — Pode abrir. — Ela diz e eu obedeço. Olho para os lados e a primeira coisa que e vejo é uma enorme roda gigante, velha e desgastada, aparentemente esquecida pelos humanos. — Um parque de diversões, como eles chamam, foi deixado aqui depois de uma explosão química na cidade. — Em outra parte do local vejo um montanha russa. Me pergunto como reconheço cada brinquedo existente ali, já que não me recordo de ter ido em nenhum similar até hoje. Se bem que não me recordo de muitas coisas.

— Vamos?

— Isso é seguro? — No momento em que pergunto um parafuso gigantesco cai de uma das laterais da roda gigante.

— O suficiente para não morrermos. — Me estende a mão levando-me até uma das cabines. Me recosto no aço enquanto Kastian entra e trava o pino que nos impede de cair de no mínimo trinta metros de altura. Com um rompante, vários rangeres e estalidos ela começa a girar e subir, uma música temática toca e a brisa sopra contra os cabelos negros da rainha.

— Por que aqui? — Pergunto enquanto ela me olha fixamente.

— É o meu lugar, queria que se tornasse nosso lugar. — Responde e volta sua atenção para o céu. — Vai acontecer a qualquer momento.

— O que?

— Você vai ver. — Faíscas coloridas caem do céu junto a uma chuva espessa. As gotas da chuva caem sobre nosso corpo nos molhando por completo, mas não me importo com isso, o sol e a chuva ao mesmo tempo criam um belíssimo arco-íris, um fenômeno típico da terra. Kastian admira fascinada as cores no céu.

— O que foi? — Pergunta ao olhar para mim e ver que estou a encarando.

— Posso te fazer uma pergunta?

— Claro. — Ela vira em minha direção para prestar atenção.

— Quando chamou Khione... — Começo.

— Foi um erro, me perdoe por fazer aquilo na frente de todos. — Diz sem nem me deixar completar a frase.

— Um erro? — Me decepciono e acredito que não consigo conter meu rosto diante disso.

— A não ser que você queira, nesse caso não foi de forma alguma um erro. Pelo contrário foi algo genuíno e de grande interesse de minha parte.

— Essa é a forma mais inovadora que eu conheço de dizer que quer uma relação amorosa com uma pessoa. — Solto uma gargalhada.

— Adoraria se você pensasse o mesmo.

— Eu penso, exatamente da mesma forma. — Sento em seu colo passando meus braços em volta de seu pescoço.

— Então estamos juntas? — Indaga com certa empolgação, que tenta conter falhamente.

— Já não estávamos? — A bela rainha da o sorriso mais largo que consegue. Ela está feliz, realmente feliz, pela primeira vez a vejo assim.

— Eu... — Pausa antes de completar a frase. — Te amo Estella. — Completa e posso sentir o medo que circula em suas veias por não saber minha resposta ou reação.

— Eu também te amo Kastian. — Seu rosto relaxa ao ouvir tais palavras e outro sorriso se abre, seguido por um beijo. Por uma única noite conseguirmos fugir e esquecer todo o caos em que estamos envolvidas, e somos apenas eu e ela.

Seis Mundos: Novas OrigensOnde histórias criam vida. Descubra agora