Os dias se passam se tornando semanas, a semanas se tornam meses. Doze meses para ser mais exata. Trezentos e sessenta e cinco dias desde o gás venenoso que Psyche colocou no castelo élfico. Muitas coisas aconteceram até agora. Lyssa passa mais tempo comigo do que qualquer outro ser, quase sempre estamos fazendo algo juntas, trabalhando em algo. Depois que Áster nos deu a brilhante ideia de fazermos pedras centrais comuns para caso precisemos enganar Psyche em algum momento, estamos trabalhando todos os dias afim de criá-las, é bem mais complicado do que pensava, mas valerá a pena. Quanto a Meliorne e Demir, decidiram o que fazer com a relação e agora são oficialmente namorados, um relacionamento aberto, é claro, porém Demir entendeu que dar atenção e preferência a seu namorado é muito mais importante do que sexo qualquer. Kastian e Estella continuam sendo as mesmas, ainda o melhor casal de todos nós com toda certeza. Alexander vive tentando animar Mykal para que ela faça algo além de suas obrigações, desde a noite em que ela me deu o colar o qual uso sempre, não conversamos por mais de cinco minutos, não permanecemos no mesmo ambiente, nos afastamos severamente, quero dizer, ela se afastou, ainda tento manter certa amizade com sua pessoa mas aparentemente não quer ter mais contato do que o necessário comigo. Creio ser por causa de Lyssa, nos últimos meses nosso relacionamento tem dado bons passos para frente, não somos mais apenas um caso ou um flerte, fixamos nossa relação, estamos juntas e estou feliz, bem, o mais feliz que poderia estar em meio a uma guerra. Acho que a vampira não queria interferir mais em minha vida, ou talvez só não quisesse passar pela tortura de me ver com outro alguém, pode simplesmente ter cansado de esperar por mim quando viu não ter mais chances. Alexander diz que ela voltou ao que era antes, dormindo com uma mulher diferente a cada noite, festejando e passando horas demais para um vampiro na cama.
A guerra por outro lado não está indo tão bem quanto nossa vida pessoal, os ataques de nossos inimigos por mais que pequenos estão mais frequentes, como se quisessem nos enfraquecer para só então dar o golpe final. Descobrimos que Psyche é mais ardilosa do que pensávamos, ela estava descobrindo informações através de uma pequena escuta no castelo, então sempre sabia nossos próximos movimentos, graças aos céus a tiramos a tempo de não revelar nada tão importante. Os corpos de Lilith e Áster ainda não foram encontrados, não conseguimos uma maneira pouco perigosa de entrar nos céus, e de acordo com Kastian arriscar a vida de seus melhores soldados não estava em cogitação. Tenho estudado cada parte desse reino, procurando uma mínima falha para que possa invadi-lo com sucesso, mas ele parece absolutamente perfeito, sem nenhum único erro, minha mãe certamente fez um excelente trabalho em seus tempos, quer dizer, no que restou de seu trabalho nos céus. A única entrada possível é a pela qual jamais poderíamos ousar entrar, os portões principais, sem lembrar do fato de que não fazemos ideia de onde os corpos estão, uma resposta que somente o demônio feiticeiro que fez isso poderia responder, o que significa mais uma pergunta sem resposta. Nosso plano de ataque está sendo aprimorado, pretendemos lançar pequenas bombas no inferno, obriga-los a recuar, nos dando mais espaço para conseguir o que queremos. Todos os ataques dos últimos meses fizeram com que Elphia se deteriorasse um pouco, já não é mais a bela cidade que conheci, porém é isso o que a guerra faz com os locais e com as pessoas, tira seu brilho e sua cor substituindo por uma paleta monocromática e sem vida.
Queria poder acabar com tudo isso hoje mesmo, fazer com que Psyche se rendesse ou se arrependesse do que está fazendo, mas é impossível. Cyrius já está quase desistindo de mim, disse que em poucos dias irá embora se nada mudar, prometi a ele que protegeria a vida de seus companheiros como se fosse a minha, entretanto não cumpri essa promessa quando deixei que um demônio de seu grupo morresse em um ataque. Preciso descobrir e rápido uma forma de penetrar na fortaleza angelical, caso contrário minha chance de libertar Áster e Lilith irá embora, e junto com ela a minha esperança de tê-las comigo.— Khione? Está aí? — Ouço a voz familiar de Lyssa e deixo o caderno em que estava escrevendo de lado. Ando até a porta do laboratório que Kastian deu a mim e a Lyssa e a abro para que ela entre. — Como está escuro aqui. — Diz acendendo as luzes que machucam meus olhos acostumados na escuridão.
— Por que ainda está aqui? Pensei que fosse com Kastian até Faleias buscar alguns livros de feitiços antigos. — A encaro surpresa por sua presença.
— Sei que já deveria estar sentindo uma saudade avassaladora de mim, então resolvi retornar. — Fala em um sorriso.
— Claro, com certeza você voltaria apenas por isso. O que aconteceu?
— Vimos as tropas demoníacas junto com as angelicais marchando para cá. — Sua expressão muda imediatamente. — Mais uma batalha está por vir.
— Pelo inferno, o último não tem nem uma semana.
— Acho que guerra significa exatamente conflitos diários meu bem. — Ri passando uma das mãos por meu rosto. — Onde conseguiu esse corte? — Indaga quando seus dedos tocam a superfície avermelhada acima de minha sobrancelha direita.
— Um experimento que deu errado.
— Não me diga que ainda está com a tola ideia de tentar reproduzir a droga que Psyche tenta fazer todos esse anos. — Tenho pena certeza de que se confirmar o fato Lyssa irá me dizer diversos motivos pelos quais não deveria fazer o que estou fazendo, então opto por negar.
— Claro que não, foi somente um acidente com as pedras centrais. — Minto.
— Não minta para mim Khione, sabe que posso ler sua mente e que esse costume ainda não foi quebrado, por mais que diminuído.
— Tudo bem, ainda estou tentando.
— Sabe como isso é perigoso, você não tem ninguém para testar caso funcione. — Penso se conto a ela ou não que tenho um prisioneiro vampiro no porão de nosso laboratório, mas sei que ela me mataria se soubesse, então deixo a sorte decidir, penso sobre isso e se ela ler minha mente saberá, se não ler não contarei.
— Você o que? Deve estar brincando comigo? Um prisioneiro Khione? Um prisioneiro? Quando pretendia me contar isso?
— Em algum momento. — Dou um sorriso coçando a nuca em sinal de nervosismo, e ela sabe disso.
— Tudo bem, teve algum progresso? Poderia ao menos ter pedido minha ajuda.
— E você aceitaria?
— Está certa, não, mas deveria ter insistido como sempre faz.
— Não queria irrita-la. Não seria nenhum pouco bom para mim te ter irritada.
— Esperta, realmente não seria. Mas agora me diga, como está fazendo os processos da droga?
— Os mesmos passos que Psyche, até onde estavam funcionando, e é claro acrescentando algumas coisas a mais. Até o momento consegui tirar os poderes do vampiro por exatos trinta minutos e cinquenta e três segundos.
— Já é um ótimo tempo, não o suficiente. O que colocou para que potencializar o tempo e retardar a volta dos poderes?
— Veneno de vampiros, um pouco de magia élfica e uma pitada de feitiços de fadas.
— Se conseguirmos aplicar isso em vários inimigos de uma única vez, teremos uma falha de poderes em massa, uma vantagem tremenda.
— Isso mesmo, e pensar que queria que eu desistisse da ideia. — Dou um tapinha em seu ombro.
— Não me provoque. — Diz rindo para mim, puxando-me para um beijo. — Muito bem querida, você é uma cientista incrível, descobriu um ótimo talento.
— Heranças de família. — Pisco beijando-a de volta.
— Agora vamos, temos que conseguir que essa droga tenha um efeito mais duradouro antes que as tropas inimigas resolvam nos atacar.
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Seis Mundos: Novas Origens
Fantasia(LGBTQA+) Khione é uma mulher de vinte anos, com muitos traumas e um passado doloroso que acaba de se mudar para New York, deixando para trás o avô, a mãe e uma história toda da qual ela ainda não sabe que faz parte, heranças passadas de pai para fi...